Primeiro-ministro grego, Alix Tsipras. Foto: Die Linke (CC BY-NC 2.0)
Alexis Tsipras, o primeiro-ministro do governo de Syriza, declarou cinicamente: "Ou estamos todos juntos hoje ou ficará difícil para mim continuar como primeiro-ministro".
O parlamento francês foi o primeiro em aprovar esse "resgate" por causa da pressão para manter a especulação financeira em pé e evitar a explosão da França, que enfrenta o rápido aprofundamento da crise capitalista.
O FMI é de esquerda?
A pergunta parece ridícula, mas lembra as perguntas "Obama é de esquerda?", "O PT é de esquerda?" etc. Na realidade, uma coisa é a esquerda do regime burguês, que pode ir desde o governo até os grupos menores integrados ao regime.
O FMI (Fundo Monetário Internacional) declarou publicamente que a dívida grega deve ser restruturada e que pode não participar do "terceiro pacote de austeridade" imposto sobre a Grécia.
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A pressão se destina, principalmente, a influenciar a votação do Bundestag (o parlamento alemão) que acontecerá na sexta-feira.
Cada vez fica mais evidente, a manobra casada do Referendo entre Angela Merkel, François Hollande e o FMI, contra a direita europeia, que se opõe ao "resgate". A Administração Obama esteve por trás da manobra. O primeiro-ministro Alexis Tsipras não passou de um garoto de recados. Para ele ficou a "tarefa suja" de enganar o povo grego com um referendo fraudulento e agora assume com a tarefa ainda mais suja de impor um duríssimo pacote de austeridade contra o povo, com o objetivo de manter em pé os ultra fraudulentos mecanismos da dívida pública. A burguesia, e, em primeiro lugar, os grandes capitalistas, pensa tudo em termos de dinheiro. As avaliações morais são próprias dos agrupamentos pequeno burgueses.
A implosão do Syriza
Perante a vergonhosa capitulação do governo de Syriza à União Europeia, a base do governo e o próprio Partido racharam. O governo contou, para aprovar o "terceiro pacote de austeridade", com os partidos burgueses que entraram em crise há pouquíssimo tempo e que tiveram que ser substituídos pelo Syriza.
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1. O ex-ministro da Economia apareceu na televisão pedindo desculpas publicamente por ter assinado acordos com os quais discordava completamente.
2. O ministro da Energia grego, Panagiotis Lafazanis, declarou publicamente que é contra o pacote. "Quem diz que uma saída do euro e o retorno à moeda nacional [Dracma] representa uma catástrofe?"
3. A presidente do parlamento, Zoé Konstandopulu, declarou que o pacote representa uma "capitulação".
4. A ministra adjunta de Finanças, Nadia Valavani, renunciou.
5. Também renunciaram o secretário-geral de Seguridade Social, Yorgos Romanias, e o secretário-geral de Economia, Manos Manusakis.
6. Em torno de 30 deputados do Syriza, da chamada Plataforma de Esquerda, liderada por Lafazanis, anunciaram que votariam contra o acordo. Observação: esse bloco não levanta o rompimento com a União Europeia (somente com o euro) nem com a dívida pública e as demais amarras impostas pelo imperialismo.
7. A maioria do Comitê Central do Syriza pede que o "terceiro pacote de austeridade" seja rejeitado.
Varoufakis: a ficha caiu?
Em entrevista recente, concedida à televisão grega, o ex-ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, que recentemente foi forçado a renunciar, fez as seguintes declarações:
A União Europeia busca “submeter a Grécia a um waterboarding [a tortura conhecida como asfixia simulada] fiscal”.
“A Troika exige um controle completo da maneira com que é calculado o balanço orçamentário da Grécia com o objetivo de controlar toltamente a magnitude da austeridade que lhe impõe”.
Syriza está aceitando uma “humilhação” perante as “mentiras” do Eurogrupo.
“A Troika fechou os bancos gregos para forçar o Governo a capitular.”
O racha no Syriza avanço a passos largos. Essas declarações foram feitas pelo homem que o governo apontou para chefiar a “pretensa” saída da crise. Esse homem foi demitido como negociador a pedido da própria Angela Merkel e de François Hollande. Após o recente Referendo, esse mesmo homem foi trocado como ministro das Finanças pelo homem que o substituiu como negociador com a União Europeia.
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Em recente entrevista publicada no site Newstatesman, e reproduzida em português no Diário Liberdade, Varoufakis foi além e descreveu os bastidores da dominação da Grécia pelo imperialismo europeu. Duas questões aparecem de manobra gritante. A primeira é que quem manda na União Europeia é o imperialismo alemão em primeiro lugar. A segunda é a desilusão com o regime burguês devido à dificuldade para fazer reformas.
Essas duas ilusões, próprias de políticos burgueses e pequeno burgueses, reforçam a necessidade da política revolucionária para enfrentar a crise capitalista.
Não é possível reformar o capitalismo na fase do imperialismo. Pior ainda, na etapa atual de profundo e ultra podre parasitismo.
A etapa de "acumulação de forças", da luta por reformas representou uma política do século XIX.
Os partidos reformistas, de fato, o que menos fazem são reformas. Qual é a reforma que o governo do PT fez, por exemplo? Nenhuma, além do esfomeado Bolsa Família. E ainda manteve os lucros dos bancos no maior patamar da história do Brasil.
O imperialismo impõe uma brutal ditadura no mundo com o objetivo de salvar os lucros dos capitalistas a qualquer custo.
Devido à gigantesca escalada do endividamento do estado burguês, produto dos resgates dos monopólios nos últimos seis anos, há pouco espaço para reformas.
A brutal ditadura econômica, que ficou à luz do dia na Grécia, é complementada pela brutal ditadura política e militar. Além das invasões militares, o caráter de organismo policial mundial do imperialismo norte-americano ficou evidente com as denúncias realizadas pelos ex-agentes da CIA (e da NSA), Bradley Manney (documentos vazados do Departamento de Estados) e Edward Snowden sobre a espionagem, digna da Inquisição medieval, imposta em escala mundial e maciça pela NSA.
Independentemente de quem chegar ao governo, as estruturas estão montadas. Sem quebrá-las é impossível realizar reformas estruturais e até, a cada dia que passa, fica quase impossível realizar reformas pequenas.
Syriza tem duas escolhas, a continuidade da capitulação ao imperialismo ou o rompimento com o imperialismo. Para romper com o imperialismo, Syriza deveria se apoiar nas massas gregas, o que, devido ao caráter de classe desse partido, não está colocado neste momento.
10 questões que devem ser analisadas
1. Quem votou a favor do terceiro pacote de austeridade, quem votou contra e quem se absteve?
2. Como fica a base do governo de Syriza?
3. Como fica o Syriza em quanto partido?
4. Como fica a relação/ aliança do governo Tsipras com os partidos burgueses, que quebraram e deram lugar ao governo de Syriza (Pasok e Nova Democracia) como tábua de salvação do regime político?
5. Qual será a política do KKE, o Partido Comunista grego, que controla os sindicatos?
6. Qual será a evolução da extrema direita, do Aurora Dourada?
7. Qual será a evolução das tendências golpistas em relação ao envolvimento do exército ?
8. Até quando a manobra de manter os repasses do BCE (Banco Central Europeu) para os bancos irá se sustentar?
9. Qual será a reação da classe operária grega contra os ataques a que está sendo submetida?
10. Qual será o efeito contágio da crise grega sobre os demais países da União Europeia (na perspectiva do novo colapso capitalista mundial)?