1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (3 Votos)

chinaChina - Diário Liberdade - [Alejandro Acosta] Por que a China tem investido bilhões nos países atrasados e aonde isso conduz?


O primeiro ministro chinês, Li Keqiang, esteve recentemente no Brasil para assinar mais de 35 acordos comerciais, que resultarão em investimentos por US$ 53 bilhões, dos quais mais de US$ 7 bilhões serão na Petrobras.

Os principais acordos contemplam uma ferrovia que permitirá o escoamento de exportações brasileiras para o Pacífico, através do Peru, a compra de 40 aeronaves da Embraer, um complexo metalúrgico no Maranhão, um polo automotivo em Jacareí (SP) e a cooperação na área de tecnologia nuclear.

A China já se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, acumulando um fluxo comercial de quase US$ 80 bilhões no ano passado, positivo para o Brasil em US$ 2,7 bilhões. O Brasil é o principal fornecedor de minério de ferro e soja para os chineses.

Leia também:

O Novo Caminho da Seda: verdade ou fantasia? (Parte I)

O Novo Caminho da Seda: verdade ou fantasia? (Parte II)

O Novo Caminho da Seda: verdade ou fantasia? (Parte III)

Este acordo se soma aos 32 acordos assinados em julho do ano passado contemplando a compra de aviões, centrais hidrelétricas, ferrovias e investimentos no setor de petróleo.

A visita de alto nível dos chineses e os acordos assinados mostra que o Novo Caminho da Seda tem derivações que passam pela América Latina e pela África.

O primeiro ministro chinês também visitou o Chile, o Peru e a Colômbia.

A China ao resgate dos países atrasados?

Nas últimas semanas, os investimentos bilionários chineses se estenderam pelo Paquistão, a Índia, as repúblicas da Ásia Central, a Rússia, a Arménia e a Bielorússia, entre outros. A China até passou a desenvolver acordos gigantescos com países que são pilares da dominação mundial norte-americana, como a Arábia Saudita.

Na Argentina, a China "salvou" o governo Kirchner da bancarrota frente à pressão dos chamados "fundos abutres". No mês de setembro do ano passado, foi concedido um empréstimo por US$ 11 bilhões para serem usados em projetos de infraestrutura, entre eles duas hidrelétricas. Os acordos evitaram o colapso das reservas monetárias argentinas.

A penetração numa das principais potências regionais latino-americanas atinge setores de primeira importância, como o de geração de energia elétrica, a indústria, a produção de equipamentos ferroviários e até as pesquisas espaciais. As exportações de automóveis aumentarão, reduzindo ainda mais o único destino importante para a produção automobilística brasileira, e que se encontra em franca contração.

Acordos similares têm sido feitos com vários países sul-americanos, asiáticos e africanos. No mês de agosto de 2014, as visitas incluíram vários países latino-americanos, inclusive os países governados pelos partidos da direita na América Central e a Colômbia.

A política chinesa tem como objetivo garantir o fornecimento de matérias-primas em troca de mercado para a venda de produtos manufaturados, obras de infraestrutura e, em alguns casos, para a venda de armas.

A locomotiva asiática perde o fôlego

A economia chinesa esteve orientada à exportação de produtos manufaturados de baixo valor tecnológico até o colapso capitalista mundial de 2008. A queda abrupta das compras pelos países desenvolvidos levou à mudança da política econômica.

Em 2009, foi lançado um enorme pacote de repasse de recursos públicos para as grandes empresas e governos locais, que somou US$ 700 bilhões. Desta maneira, a economia continuou crescendo até 2012, da mesma maneira que aconteceu no mundo todo, quando os mecanismos de contenção ruíram em escala mundial. Os orçamentos dos governos locais passaram a depender em até 40% da venda de terras públicas. A especulação imobiliária foi, e ainda está a mil por hora. Há na China várias cidades fantasmas construídas simplesmente para manter a economia em funcionamento.

A política chinesa de fomentar o consumo para sair da crise é exatamente a mesma que é aplicada nos países centrais: os anabolizantes do crédito farto, a baixas taxas de juros, para as grandes empresas e os governos locais. A especulação financeira também tem sido impulsionada cada vez com maior intensidade, inclusive para evitar a disparada das pressões inflacionárias na realocação de parte dos US$ 3 trilhões que detém em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A pergunta que deve ser feita é: Até quando essa política terá fôlego?

O endividamento das empresas chinesas somou US$ 16 trilhões no ano passado. O consumo das famílias chinesas se encontra um pouco acima dos 40% na China, muito abaixo dos 72% nos Estados Unidos, 60% no Japão, 57% na Alemanha e 53% na Coreia do Sul. Existem mais de 700 milhões de camponeses pobres. Nos últimos seis anos, os governos locais chineses acumularam mais de US$ 3 trilhões em dívidas. Por causa do aprofundamento da crise, o governo central liberou emissões pelo equivalente a US$ 160 bilhões para capitalizar-se.

O aprofundamento da crise capitalista na China tem aumentado as dificuldades para manter os serviços da dívida pública. No passado mês de abril, a província de Jiangsu não conseguiu vender US$ 13 bilhões em títulos públicos. Em resposta, o governo central autorizou os bancos comerciais a usar os títulos financeiros dos governos locais como colaterais (fiança) para obterem empréstimos a juros baixos do Banco Central (Banco do Povo). Esta política busca evitar o eminente colapso dos governos locais, que ficaram dependentes das vendas de terras públicas.

O que realmente significam os "resgates chineses"?

Os investimentos chineses nos países atrasados representam um dos componentes centrais para desovar capitais no exterior perante o esgotamento da economia local. O objetivo é garantir o controle das matérias-primas e, por meio do chamado Novo Caminho da Seda, ampliar os mercados de exportação para os produtos manufaturados chineses, tanto nos países atrasados como na Europa.

Os países europeus, inclusive a Grã Bretanha, aderiram a essa política, contra os interesses dos Estados Unidos. Para os monopólios implica na venda de produtos de alta tecnologia e financiamento.

A redução dos transporte e logística tem o potencial de facilitar a circulação de mercadorias, mas, ao mesmo tempo, aumenta o potencial de um colapso em maiores proporções. O aumento dos estoques de produtos no mercado mundial aumentará inevitavelmente a crise de superprodução. A expectativa para o próximo ano é o estouro de uma bolha financeira de proporções ainda maiores que a de 2008 que terá o potencial de implodir o mercado capitalista mundial de conjunto. Essa é a previsão de Nouriel Roubini, o economista norte-americano que em 2006 previu o colapso de 2008, e de vários outros.

A briga pelo controle do mercado mundial tende a se acirrar. As contradições entre os Estados Unidos e as demais potências tende a aumentar. A política do "salve-se quem puder" deverá ser colocada em primeiro plano cada vez com maior força. Novas guerras locais, regionais e de proporções ainda maiores estarão colocadas à ordem do dia.

Os principais países se encontram em situação de ultra endividamento e não terão a mínima chance de conter a crise sem passar a ataques em larga escala contra os trabalhadores. Hiperinflação, desemprego e carestia da via em larga escala. Para o próximo período, está colocada a movimentação dos trabalhadores nos países desenvolvidos, depois de décadas do grande sono neoliberal.

Alejandro Acosta está atualmente na Rússia cobrindo os acontecimentos geopolíticos na região como jornalista independente.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.