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090315 wisEstados Unidos - Avante! - A maioria republicana no Senado do Wisconsin fez aprovar no dia 26 de Fevereiro a «Lei do Direito a Trabalhar» (LDT), transitando o infame projecto de lei para a Assembleia Estadual, também controlada pelo Partido Republicano.


Ao proibir os sindicatos de exigir o pagamento de quotas a todos os trabalhadores beneficiados por um contrato colectivo de trabalho, a LDT destrói efectivamente a sua independência financeira. No mundo laboral dos EUA, é o equivalente a obrigar uma empresa a aceitar que o pagamento pelos seus serviços seja opcional. Em ambos os casos, a falência é o desfecho esperado. Mas se o consentimento parlamentar parece afiançado, mais difícil será passar pelo crivo de malha fina que é a luta dos trabalhadores.

Das ruas de Madison às costas do Milwaukee, o consenso é generalizado: «o direito a trabalhar» dos republicanos significa «direito a trabalhar por menos». Com efeito, nos 24 estados onde a LDT já foi aprovada, os trabalhadores recebem em média menos 130 dólares por mês e a taxa de acidentes de trabalho mortais é 61 por cento mais alta. Por outro lado, um pouco por todo o Cinturão da Ferrugem, a LDT está a gerar uma espiral fascizante entre estados vizinhos, que competem pela legislação mais «competitiva» agitando o fantasma de que se não cederem à LDT as fábricas deslocar-se-ão para o outro lado da fronteira estadual. Assim avança, paulatinamente, a «liberdade» dos capitalistas. A saber: a liberdade de despedir livremente, a liberdade de explorar e a liberdade de erradicar direitos há muito conquistados, não invulgarmente com sangue operário.

Luta pelo sindicalismo de classe

Foi contra este retrocesso de proporções históricas que, malgrado uns glaciais nove graus negativos, 10 000 trabalhadores vieram protestar na passada quarta-feira. Phil Gruber, vice-presidente do Sindicato dos Maquinistas, falou assim à multidão concentrada no Capitólio estadual: «A única forma de parar a LDT (...) é pararmos nós. Acho que está na hora de paralisar a produção neste país. Vamos parar os camiões, os aviões e os comboios». Os milhares de trabalhadores responderam com gritos de «Greve Geral! Greve Geral!».

Com menos entusiasmo foi recebido o presidente da principal central sindical dos EUA, a AFL-CIO. Phil Neuenfeldt pôs ênfase nos contornos nebulosos do processo e criticou a discussão em tempo recorde na sessão parlamentar extraordinária. Para desilusão de muitos manifestantes, Neuenfeldt ignorou os crescentes apelos à greve e preferiu salientar as próximas eleições estaduais. Essa foi, de resto, a receita que condenou ao fracasso as grandes lutas de 2011 e o contraditório que está a dividir o sindicalismo dos EUA. Há precisamente quatro anos, Scott Walker, governador do Wisconsin, assinava um pacote laboral anticontração colectiva conhecido como «ACT 10». Os trabalhadores responderam com a ocupação do Senado durante dois meses, com greves e poderosas manifestações de centenas de milhares de pessoas. No entanto, o apoio entregue pela AFL-CIO a candidatos do Partido Democrata (que acabaram por perder contra Walker) envenenou mortalmente a luta. A AFL-CIO continua a apostar num modelo de sindicalismo em que o lobby tem primazia sobre a luta dos trabalhadores e gasta a maior fatia do seu orçamento, cerca de 100 milhões de dólares anuais, em doações ao Partido Democrata. Por outro lado, são cada vez mais os trabalhadores que recusam ser reféns de concessões que apenas geram novas concessões. A luta que agora se trava no Wisconsin não é apenas contra a LDT. É também uma luta pelo sindicalismo de classe.

Um monstro igual por fora e por dentro

Entretanto, medra das divisões dos trabalhadores o governador do Wisconsin, que despontou na intelectualmente rarefeita atmosfera republicana como potencial candidato à presidência. Na Conferência de Acção Política Conservadora da passada quinta-feira, Scott Walker alcançou o segundo lugar na corrida a candidato republicano à Casa Branca. «Se fui capaz de derrotar 100 000 manifestantes, imaginem o que posso fazer pelo mundo fora» prometeu Walker. No dia seguinte, discursando no sugestivo «Clube pelo Crescimento», uma assembleia de bilionários, Walker continuou o paralelo: «a decisão de política externa mais significativa da minha vida foi a destruição da greve dos controladores aéreos de 1981 e o despedimento em massa de 11 000 trabalhadores grevistas. Enviou uma mensagem à América, à URSS e ao mundo: ninguém se mete connosco».

As afirmações de Walker não são apenas sintomáticas da radicalização da direita estado-unidense: traduzem a contínua diluição bi-partidária das linhas de política externa na política interna. A crise autofágica do capitalismo norte-americano tem ditado uma viragem do imperialismo para dentro, com a militarização da polícia e um impressionante recrudescimento da brutalidade como meio de repressão política. Diz o ditado que somos o que comemos: é o monstro a ficar igual, por fora e por dentro.


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