16 fundos de investimento tiveram acesso prioritário às ações do Royal Mail na operação de privatização realizada no ano passado. Os fundos ficaram com 22% do capital da empresa a um preço muito abaixo do valor real, com o preço a ser definido pelo Goldman Sachs e UBS, os bancos escolhidos pelo Governo para dirigir a operação.
Uma investigação do Bureau of Investigative Journalism (BIJ) revelou esta semana os nomes de alguns dos fundos que fizeram um negócio milionário com compra e venda de ações do Royal Mail. Os fundos soberanos de Singapura e do Koweit surgem à cabeça, seguidos do norte-americano Capital Group e do britânico Lansdowne. Este fundo é conhecido pela sua ligação aos conservadores e fui um dos que ganhou com o colapso do banco Northern Rock no início da crise financeira. Os 16 milhões de ações compradas em outubro por cerca de 73 milhões de euros valiam em meados de fevereiro 129 milhões. Quanto ao Capital Group, das mais de 20 milhões de ações adquiridas a preço de saldo restaram apenas em carteira cerca de 3 milhões na semana seguinte à da oferta pública de venda, num negócio que rendeu dezenas de milhões de euros.
A grande maioria deste grupo de investidores iniciais, considerados pelo governo como acionistas estáveis e de longo prazo, optou por se desfazer de parte ou da totalidade da sua carteira de ações do Royal Mail nas semanas seguintes à privatização. Mesmo sem o desconto, o Goldman Sachs já tinha sido criticado por colocar o preço de venda de cada ação do Royal Mail bem abaixo do valor real da empresa de correios britânicos. Só no primeiro dia de compra e venda de ações, mudaram de mãos 253 milhões, ou seja 42% do stock inicial. O seu valor disparou 38% no fim da primeira sessão na bolsa. Esta semana o valor das ações estava 57% acima do valor inicial de venda. O National Audit Office calcula que o Estado tenha perdido mais de 900 milhões de euros ao colocar o preço do Royal Mail em saldos para os fundos de investimento.
Ainda de outro dos fundos premiados com um lote de ações foi o Lazard Asset Management, o ramo financeiro de uma das entidades que aconselhou o governo em toda a operação, selecionando os acionistas prioritários. Segundo o BIJ, a Lazard & Co. aconselhou o governo a não subir o preço inicial das ações e avaliou-as a um preço inferior aos do sindicato bancário que preparou a privatização em bolsa.