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040313 grGrécia - Resistir - [Mike Whitney] "A economia grega está acabada. A economia grega está numa grande, numa enorme depressão... Não há nenhum poder, nenhuma força na economia grega, no seio da sociedade grega que possa evitá-lo... Imaginem se estivéssemos em Ohio em 1931 e perguntássemos: O que é que os políticos de Ohio devem fazer para que Ohio saia da Grande Depressão? A resposta é nada."
- Yanis Varoufakis, economista grego


Depois de cinco anos de crescimento negativo, de desemprego recorde e de cortes selvagens em programas indispensáveis de cobertura de segurança, a sociedade grega está a começar a ceder. Os diabéticos não podem pagar a insulina, os suicídios e o uso de antidepressivos estão fora de controlo, a tuberculose e a taxa de sida estão a disparar, e em Atenas os pensionistas desesperados estão reduzidos a remexer no lixo à porta das mercearias à procura de umas migalhas de comida para se alimentarem e às suas famílias. O chocante retrocesso de uma nação moderna para um estado fracassado não aconteceu de um dia para o outro ou sem a ajuda dos burocratas da UE e dos potentados financeiros que ditam a política económica a partir de Bruxelas, de Frankfurt e de Berlim. Estes alegados "gestores" encaminharam os 17 membros da zona euro para o maior buraco desde a Grande Depressão, impondo medidas de apertar o cinto que sufocaram o crescimento, enviaram o desemprego para alturas siderais e incitaram protestos e violência nas ruas em todo o continente. A Grécia tem sido particularmente atingida. A pobreza e a miséria estão espalhadas por toda a parte. O país está em má situação financeira. Eis mais um artigo no Guardian:

"A Grécia está actualmente no centro de uma crise humanitária... Uma grande proporção de famílias gregas vivem actualmente em condições de "privação material". Um pouco mais de 11% vive mesmo numa situação de "privação material extrema", o que significa sem suficiente aquecimento, electricidade e sem poder usar um automóvel ou um telefone... Tem havido um crescimento explosivo das sopas dos pobres e da distribuição de alimentos em geral... a igreja da Grécia distribui cerca de 250 mil rações diárias... Por uma recente ordem do governo, as rações municipais serão aumentadas por causa de incidentes cada vez mais frequentes de crianças que desmaiam na escola devido à insuficiência de calorias.

Os indícios de pobreza, de desigualdade e de incapacidade de acesso aos serviços primários confirmam as declarações cada vez mais desesperadas de pessoas na linha de frente". ("A Grécia está perante uma crise humanitária", Guardian ).

O Guardian reconhece que há razões políticas para que a crise não esteja a ser coberta adequadamente nos meios de comunicação. "Ao reconhecer a gravidade da situação, o governo grego e a UE também teriam que reconhecer que o actual estado de coisas chegou ao chamado "resgate" económico da Grécia. Por isso as autoridades optaram por se manterem caladas". ( Guardian )

A Grécia não foi resgatada nem nunca foi esse o plano. Desde o início, a austeridade serviu para punir e humilhar, para diminuir o estado e expropriar tudo o que tivesse valor. Mas a farsa prossegue, e os lacaios da UE continuam a afirmar que a sua teoria desacreditada está a atingir os seus objectivos. Por exemplo, eis o vice-presidente da Comissão Europeia, Olli Rehn, a aplaudir a austeridade como o antídoto para os males do endividamento da Europa.

"A acção política decisiva recentemente empreendida está a abrir caminho para o regresso à recuperação. Temos que manter o curso da reforma e evitar qualquer perda de ímpeto, o que poderia minar a reviravolta de confiança em marcha, atrasando a necessária viragem no crescimento e na criação de empregos".

Não há recuperação. A zona euro está no estertor de uma Depressão. Os fundamentos económicos foram postos de lado para dar lugar aos interesses dos suseranos ricos que beneficiam à custa do empobrecimento do povo trabalhador. A austeridade é uma fraude que tem atirado grande parte do Sul para o lixo. Há um número cada vez maior de famílias a abandonar os seus filhos porque já não conseguem alimentá-los. Segundo a Press TV:

"Tem havido um aumento no número de bebés recém-nascidos abandonados à saída das clínicas e depositados em instituições de caridade... 'As famílias estão a desfazer-se, aumentam as situações de mães e pais que já não podem criar os seus filhos', disse o secretário-geral do sindicato ADEDY dos funcionários públicos, Ilias Ilioupolis". ("A crise grega e as crianças abandonadas", Press TV)

As implicações políticas de austeridade são igualmente preocupantes. A oposição crescente aos ditames de Bruxelas levou ao reaparecimento do extremismo de direita nomeadamente do super-nacionalista Golden Dawn cuja retórica tipo nazi e anti-imigrante está actualmente a encontrar uma aceitação mais alargada entre a juventude desempregada e descontente da Grécia. A xenofobia e o anti-semitismo estão a aumentar. Os políticos em Bruxelas podiam inverter esta tendência perigosa, mas optaram por intensificar a humilhação da Grécia aumentando as suas exigências e recusando a ajuda orçamental desesperadamente necessária. Em resultado, os elementos reaccionários estão a ganhar força enquanto as instituições democráticas enfraquecem progressivamente. Entretanto, a economia da zona euro continua a deteriorar-se.

Na Grécia, por exemplo, o resultado do 3º trimestre diminuiu 7,2 por cento, mais do que a queda de 6,3 por cento do 2º trimestre. Isto significa que a economia está a piorar. Também significa que a Grécia não vai cumprir as suas metas do défice e será forçada a implementar mais medidas de austeridade. À medida que o governo corta no investimento público, a procura vai diminuindo, as receitas do estado vão caindo, e a gravidade da queda vai-se intensificando. O mesmo padrão tem vindo a repetir-se ao longo de 20 trimestres sem alteração. A Grécia está a ser retalhada e vendida a empresas de bolsos sem fundo e a empresários abastados. Está a ser mantida a balões de oxigénio para que os bancos e accionistas da UE evitem os prejuízos de que apenas eles são os responsáveis. A elite criminosa da UE reduziu o país a escombros.

O MEMORANDO: A sentença de morte para a Grécia

Em Fevereiro de 2012, os parlamentares gregos assinaram a sentença de morte da nação ao ratificarem o terrível "Memorando de Entendimento", um documento que na realidade cancela a soberania grega e entrega a nação aos bancos e empresas estrangeiras. O édito de 43 páginas impõe regras estritas em tudo, desde a redução nas despesas com drogas que salvam vidas, até à "supressão de restrições para os retalhistas venderem algumas categorias de produtos, tais como comida para bebés".

O "Memorando de Entendimento" exige cortes de 10 por cento nos salários dos funcionários públicos, cortes nos "fundos da segurança social e dos hospitais" e mais privatizações do património público, tudo isto implicando uma maior redução do PIB. Em vez de abrir caminho para que a Grécia saia da actual crise, o Memorando corta as despesas públicas enquanto cria novas oportunidades para a exploração e a pilhagem. Eis um excerto do Memorando:

"O Governo está preparado para pôr à venda os restos da sua participação em empresas estatais, se isso for necessário para atingir os objectivos de privatização. O controlo público será limitado apenas a situações de redes de infra-estruturas críticas".

O património público está a ser vendido por tostões a empresas e empresários estrangeiros. Depois segue-se:

"O Governo não proporá nem implementará medidas que possam infringir as regras do livre movimento de capitais".

Na Grécia, os interesses da população têm sido subordinados aos interesses das indústrias lucrativas e dos seus accionistas. O capital é que governa. O Memorando passa a ser o princípio básico do governo representativo. O memorando também caracteriza o ataque previsível ao trabalho organizado. Eis um recorte:

"O Governo tomará medidas para fomentar um rápido ajustamento dos custos laborais para lutar contra o desemprego e repor a competitividade de custos, assegurar a eficácia das recentes reformas do mercado de trabalho, alinhar as condições de trabalho nas antigas empresas estatais com as do resto do sector privado e tornar mais flexíveis as imposições de horas de trabalho. Esta estratégia deve visar a redução dos custos unitários nominais do trabalho na economia empresarial em 15 por cento em 2012-2014. Simultaneamente, o Governo fomentará uma correcta negociação salarial aos diversos níveis e combaterá o trabalho não declarado".

O governo grego tem que revogar os direitos da negociação colectiva e rejeitar as leis do salário mínimo que prejudicam a "competitividade de custos", um termo orwelliano que significa "salários de escravos". Os autores desta sentença rançosa tentam esconder a sua animosidade contra a população trabalhadora por detrás da invenção de relações públicas, "crise da dívida", mas a sua verdadeira intenção é clara. Mais uma coisa no Memorando:

"O Governo institui um grupo de trabalho (para) analisar a... gestão de casos judiciais, incluindo a possibilidade de retirar os processos adormecidos dos registos dos tribunais"... Na sequência da apresentação do plano de trabalho para a redução dos atrasos de processos fiscais em todos os tribunais administrativos de primeira ou segunda instância em Janeiro de 2012, plano esse que estabelece metas intermédias para reduzir os atrasos pelo menos em 50 por cento até final de Junho de 2012, pelo menos em 80 por cento até final de Dezembro de 2012 e a total limpeza dos atrasos até final de Julho de 2013, o Governo apresenta em fim de Maio de 2012..."

O Memorando fornece aos infractores fiscais um cartão de livre-trânsito para sair da cadeia. Em que é que isso ajuda a equilibrar o orçamento? Não ajuda, mas ajuda a ilustrar que a "crise da dívida" é uma fraude destinada a abrir a Grécia como uma pinata e a roubar tudo aquilo a que a alta finança e os seus colegas empresariais possam deitar a mão.

A oligarquia financeira está actualmente a usar os seus agentes políticos em Atenas para intensificar a repressão do estado policial e esmagar qualquer surto de resistência organizada. Segundo o site World Socialist Web:

"Desde que a União Europeia começou a ditar medidas de austeridade para a Grécia, o governo grego já recorreu à lei marcial em quatro ocasiões distintas para forçar os trabalhadores em greve a regressar ao trabalho... Qualquer forma de resistência colectiva eficaz contra as implacáveis medidas de austeridade, que já custaram dezenas de milhares de postos de trabalho e reduziram salários e pensões, têm efectivamente sido declaradas ilegais...

O ataque ao direito à greve na Grécia tem sido efectuado em colaboração e com o apoio de outros governos europeus e instituições da UE. A chamada "troika" – o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE) – acompanha cada medida tomada pelo governo grego e destacou observadores para vigiar ministérios gregos específicos. ("Governo grego impõe lei marcial aos ferroviários", World Socialist Web Site)

A austeridade está a ser usada para mascarar a pilhagem da Grécia pelo capital estrangeiro. O ataque liderado pela troika à nação afectada empurrou a juventude para um desemprego acima dos 60 por cento, reduziu milhões de trabalhadores a um estado de "extrema privação material" e deixou o sistema de saúde pública em ruínas.

[*] Economista, estado-unidense. contribuiu para Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press). Pode ser contactado em fergiewhitney@msn.com .


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