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petroleo1Resistir - [Gail Tverberg] A Agência Internacional de Energia (AIE) [da OCDE] apresenta previsões petrolíferas irrealistamente altas no seu novo World Energy Outlook 2012 (WEO). A AIE afirma, dentre outras coisas, que os Estados Unidos tornar-se-ão o maior produtor de petróleo do mundo em 2020 e que se tornarão um exportador líquido de petróleo em 2030.


A Figura 1 mostra que este aumento provém unicamente da expectativa de acréscimo de produção de "tight oil" e de líquidos de gás natural. A ideia de que seremos um exportador no fim do período verifica-se apesar da queda da produção, porque a queda da "procura" será extrema.

As previsões quanto ao preço do petróleo subjacente a esta e outras previsões no relatório são aproximadamente como se segue:

 

 

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Uma razão para a não razoabilidade das estimativas do WEO 2012 é o facto de os preços do petróleo mostrados serem irrealistamente baixos em relação às quantidades de produção previstas no relatório. Isto parece ocorrer porque a AIE ignora o problema dos retornos decrescentes . Como o petróleo fácil-de-produzir se torna mais esgotado, e precisamos avançar para reservatórios mais difíceis, o custo de extracção aumenta.

De facto, há evidência de que o petróleo "tight" mencionado na Figura 1 já está a começar a atingir os limites de produção, a preços actuais. O único meio para estes limites de produção poderem ser razoavelmente ultrapassados é com preços do petróleo mais elevados – muito mais elevados do que a AIE está a assumir em qualquer das suas previsões.

Preços de petróleo mais altos causam um enorme problema por causa do seu impacto sobre a economia mundial. A AIE de facto menciona, no seu primeiro diapositivo para a imprensa , que os actuais preços elevados já estão a actuar como um travão sobre a economia global. Preços mais altos também significam que os custos de investimento exigidos para alcançar os níveis de produção visados serão ainda mais altos do que os previstos pela AIE, acrescentando outro obstáculo para a consecução dos níveis de produção que prevê.

Se preços mais altos colocarem as economias dos países importadores de petróleo em recessão, então os preços cairão, reduzindo o incentivo para investir em nova infraestrutura de produção petrolífera. De facto, poderíamos deparar-nos a atingir o "pico petrolífero" ("peak oil") devido a um dilema económico:   se bem que pareça haver abundância de petróleo disponível, o custo de extraí-lo pode atingir um ponto que é superior ao que os consumidores podem permitir-se pagar. Em consequência, uma parte do petróleo que sabemos existir, e foi contabilizada como reservas, terá de ser deixada no chão.

O FMI recentemente fez uma modelação que é relevante para esta questão num working paper intitulado "Oil and the World Economy: Some Possible Futures". Esta análise pode proporcionar algumas luzes sobre o que virá a ser a situação real.

O problema dos retornos decrescentes

Uma questão que a AIE não modelou adequadamente é a da qualidade declinante do recurso, levando a retornos decrescentes e a uma ascensão "real" (corrigida da inflação) do custo de produção. Esta situação é frequentemente descrita como reflectindo o declínio do rácio Energy Return on Energy Invested (EROEI).

O rácio dos retornos decrescentes constitui um problema porque quando um produtor decide extrair petróleo, gás ou carvão, ele procura primeiro os recursos mais baratos, mais fáceis de extrair. Só quando este recurso está esgotado na sua maior parte é que o produtor procurará localizações em que esteja disponível o recurso mais caro, mais difícil de extrair. Portanto, ao longo do tempo, o custo corrigido da inflação de extrair um recurso tende a aumentar.

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Nos termos do triângulo mostrado acima, os produtores tendem a começar no topo, com o "melhor" do recurso, e fazem o seu caminho em direcção à base. Um resultado desta abordagem é que o custo por unidade de produção tende a ascender, mesmo quando há avanços tecnológicos e ganhos de eficiência, porque a qualidade do recurso está em declínio.

Com esta abordagem as reservas tendem a aumentar ao longo do tempo, porque quando produtores fazem o seu caminho para baixo no triângulo do diagrama eles vêem sempre um aumento da quantidade de recursos de qualidade mais baixa. As novas reservas são de extracção cada vez mais cara, em termos de inflação corrigida. Não há uma luz a piscar que diga: "Acima deste preço, os clientes não serão capazes de comprar mais deste recurso". Em consequência, reservas de qualidade cada vez mais baixas são acrescentadas às quantidades relatadas, muito embora em alguns casos o custo de produtos fabricados com estas reservas (digamos gasolina ou gasóleo) irá remeter estas economias para a recessão.

Deveria ser observado que a questão dos retornos decrescentes existe para quase qualquer espécie de recurso. Ela existe para a extracção de urânio, uma vez que há sempre mais disponível, apenas mais difícil de obter, ou em concentração mais baixa. Os retornos decrescentes existem para ouro, cobre e praticamente qualquer outra espécie de metal. Isto significa que muitas vezes precisamos de mais petróleo para a extracção e o processamento do metal, pois cavamos mais fundo ou encontramos minério que está misturado com uma proporção mais elevada de resíduos.

O problema dos retornos decrescentes também parece abranger os renováveis. O primeiro biocombustível desenvolvido foi o etanol do milho, uma vez que o processo de fabricar álcool a partir do milho era conhecido há muito tempo. Novas abordagens, tais como etanol da biomassa e biocombustível de algas, tendem a ser muito mais caras. Em consequência, quando acrescentamos nova produção de biocombustível, é provável que seja mais caro e, portanto, mais fora do alcance do consumidor. Se o quisermos, precisaremos de subsídios cada vez mais altos.

A energia eólica também está sujeita a retornos decrescentes. O vento no onshore foi desenvolvido primeiro e é muito menos caro do que o vento no offshore, o quais foi desenvolvido posteriormente. As unidades primitivas de energia eólica acrescentadas a uma rede eléctrica não a perturbavam demasiado. As unidades posteriores de energia eólica acrescentam custos cada vez maiores: linha de transporte de longa distância, armazenagem eléctrica e outros desequilíbrios – algo que é geralmente passado por alto quando se fazem as primeiras análises de custo.

Os retornos decrescentes parecem acontecer até mesmo em relação à eficiência energética. Temos estado a trabalhar na eficiência energética há muito tempo. Temos uma tendência para colher primeiro a fruta dos galhos mais baixos. As despesas posteriores com eficiência podem ser menos compensadoras.

Porque a produção do tight oil não aumentará como na Figura 1

Supõe-se que o tight oil, também chamado "petróleo de xisto" ("shale oil"), venha a ser o salvador petrolífero dos Estados Unidos, se acreditarmos na AIE. Os sítios Bakken e Eagle Ford são os exemplos mais conhecidos.

Rune Likvern, de The Oil Drum, mostrou que os poços perfurados em Bakken parecem já estar a atingir retornos decrescentes. As localizações mais selectas parecem ter sido perfuradas primeiro e as localizações que estão a ser perfuradas agora proporcionam rendimentos mais fracos. Ele também mostrou que o furo médio no Bakken agora requer um preço de US$80 a US$90 por barril, o qual está próximo do preço de venda mais recente. Se for desejada produção acrescida, o preço do petróleo terá de começar a aumentar (e manter-se em aumento) para proporcionar o incentivo necessário a fim de perfurar em localizações menos selectas.

Há igualmente outras questões. Se há necessidade de perfurar um número crescente de poços só para permanecer na mesma, ou um número ainda maior, para aumentar a quantidade de petróleo produzido, começamos a atingir limites de muitas espécies:   número de plataformas de perfuração disponível, número de trabalhadores disponível, quilómetros de condutas para a água a ser utilizada na fracturação. Talvez a questão que venha a limitar primeiro a produção, contudo, sejam os limites de endividamento disponíveis para os produtores. Rune Likvern também mostrou que fluxos de caixa da extracção de tight oil tendem a cair "no vermelho", de modo que é precisa uma quantia crescente de financiamento da dívida quando as operações aumentam. Em algum ponto, as companhias atingem o seu limite de crédito em têm de parar de acrescentar novos furos até que o fluxo de caixa seja alcançado.

Provas quanto à taxa de crescimento dos custos de extracção de petróleo

A Bernstein Research publicou recentemente informação a mostrar que o custo marginal da produção de petróleo foi US$92 em 2011 para produtores não-OPEP, não antiga União Soviética no 90º percentil de produção. Este custo está a aumentar a 14% por ano (ou cerca de 12% por ano em termos de inflação corrigida). Mesmo no nível de custo marginal mediano, os custos parecem estar a aumentar a uma taxa de crescimento anual composta de 9% (ou cerca de 7% em termos de inflação corrigida). Ver também esta mensagem no FTAlphaville .

Se tomarmos o custo de US$92/barril em 2011 no 90º percentil de produção e o aumentarmos em 7% ao ano (razoavelmente poder-se-ia utilizar 12% ao ano), o custo real será de US$169/barril em 2020 e de US$467/barris em 2035. Isto está muito além das estimativas de preço do petróleo da AIE mostradas na Figura 2. Não há razão para acreditar que os custos de produção de Bakken e outros campos com tight oil fossem substancialmente inferiores.

Promover estudo adicional, com base em análise recente do FMI

É muito claro para mim que a AIE estimou a produção de petróleo de um modo demasiado alto, a menos que os preços sejam muito mais elevados. Naturalmente, os preços não podem realmente ser muito mais altos, ou a economia entrará em recessão. Em consequência, a produção tanto dos EUA como do resto do mundo é provável que seja muito mais baixa do que o previsto pela AIE.

Seria útil ter uma estimativa melhor a fim de saber para onde exactamente o mundo está a caminhar. Um modo de fazer isso é adaptar as indicações do novo working paper do FMI intitulado "Oil and the World Economy: Some Possible Futures" . O documento considera um período algo desconhecido, entre este momento e 2020, quando a taxa de aumento na oferta de petróleo é assumida diminuir em 1%. Se bem que não declarado no relatório, parece-me que isto é semelhante ao que realmente aconteceu cerca de 2005, quando a taxa de aumento da produção de petróleo caiu de 1,3% de aumento anual para 0,1%, uma diminuição de 1,2%. (Figura 4, abaixo).

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Tenho algumas observações quanto a uma tal adaptação:

(a) O modelo podia ser ajustado a fim de considerar o facto de que uma queda na taxa de tendência de cerca de 1,2% foi realmente verificada em 2005, ao invés de simplesmente assumir que uma diminuição de 1% acontecerá um algum ponto não especificado do futuro. Parece-me que a mudança da linha de tendência de extracção de petróleo sublinha muitos dos problemas mundiais nos últimos vários anos.

(b) O tratamento no modelo de retornos decrescentes deveria ser ajustado. É meu entendimento que isto é actualmente manuseado assumindo um aumento anual de 2% nos custos reais de produção. O modelo podia ser ajustado para reflectir um custo anual mais realista (mais elevado) na produção de petróleo e, indirectamente, o preço de venda requerido.

(c) Os autores do relatório do FMI sugerem construir um modelo mais baseado nos recursos e eu concordaria em que isto seria útil. Há muitas inter-ligações que o modelo actual não pode captar adequadamente. Um modelo mais guiado pelos recursos, especialmente um que considere balanços de governos do mundo, pareceria melhor.

Minha visão do que está a acontecer agora

Como observado acima, a produção mundial de petróleo bruto parece ter atingido um planalto (plateau), desde cerca de 2005. Isto está a fazer o seu caminho através da economia com variados efeitos ao longo do tempo. O grande efeito neste momento do tempo parece ser sobre as finanças de governos que importam petróleo, embora tenha começado anteriormente, com diferentes aspectos mais evidentes.

Em geral, o que acontecer quando atingimos uma situação de retornos decrescentes, e portanto de ascensão de preços reais, parece ser como se segue:

Quando o preço do petróleo ascende, o preço da alimentação e transporte tende a ascender. Ambos são considerados essenciais pela maior parte dos consumidores, de modo que estes cortam em gastos supérfluos(discretionary) a fim de terem fundos suficientes para os essenciais. Isto leva a despedimentos colectivos em indústrias de supérfluos, tais como viagens de férias e comer em restaurantes. O aumento de despedimentos colectivos de trabalhadores leva a um aumento nos incumprimentos de dívidas e problemas para os bancos. Os preços da habitação e do imobiliário comercial tendem a cair, devido à procura reduzida, promovendo um acréscimo de problemas com incumprimento de dívida.

Governos de países importadores de petróleo foram arrastados para isto de muitas maneiras: (1) Suas receitas são reduzidas, porque recebem menos receita fiscal de pessoas que são despedidas e de negócios com menos vendas. (2) Pede-se-lhes que escorem bancos em queda e que estimulem a economia. (3) Também se lhes pede que paguem trabalhadores que foram despedidos do seu trabalho. O saldo líquido disto é que governos de muitos países importadores de petróleo estão com enormes défices orçamentais e uma capacidade em declínio para sanar estes défices. Este padrão é precisamente o que estamos a ver hoje em muitos países da Eurozona, nos Estados Unidos e no Japão.

As declarações acerca da ascensão da produção de petróleo nos EUA são apenas uma distracção. Retornos decrescentes significam que a produção de petróleo dos EUA nunca aumentará muito mais. Os custos do petróleo permanecerão altos e esta será a questão real a perturbar as economias do mundo todo.


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