O Reino de Espanha conta na atualidade com 3.000 efetivos das Forças Armadas presentes em seis frentes de atuação no estrangeiro. Mais da metade encontram-se no Afeganistão, uma guerra ou uma operação de reconstrução, segundo a quem se pergunte. Desde que as tropas espanholas pisaram território afegão faz já uma década, 2.500 milhões de euros do erário foram destinados a esta missão. Só em 2011, a despesa militar superou os 450 milhões, mais de 50% do total do orçamento militar. Ou o que é o mesmo; 1,23 milhões de euros diários para reconstruir um país no que os atentados se intensificaram depois da ocupação e que custaram a vida a milhares de civis afegãos mas também a 97 soldados espanhóis. "O Governo quis ocultar a realidade no Afeganistão para não se comparar com Iraq, mas o verdadeiro é que ali há uma guerra na que se dispara a diário", sustenta José Antonio Guardiola, enviado especial de TVE na região.
A Força Provisória das Nações Unidas para Líbano (UNIFIL) conta com 1.100 militares espanhóis que participam em uma missão de paz para assegurar a retirada do exército israelita do sul do país. O seu labor consiste em manter a segurança da zona e facilitar ao governo libanês o controlo do território dominado por guerrilhas terroristas. É a segunda operação mais onerosa com um custo de 196 milhões e médio de euros no último ano.
O Reino da Espanha forma também parte da Operação Atalanta em águas do Oceano Índico. Com 370 soldados é, junto de França, a principal impulsora de EUNAVFOR; a frota europeia de luta contra a piratería na zona. Os 97 milhões de euros investidos em 2011 serviram para manter afastados os piratas somalíes dos atuneiros espanhóis, mas não para paliar os efeitos que têm sobre a ecossistema marinho as práticas de pesca abusivas que esgotam os seus bancos pesqueiros.
Ademais, 38 efetivos das Forças Armadas contribuem à instrução de militares somalis em Uganda. Este programa de adestramento custou 2 milhões de euros no passado ano. Espanha desempenha um lavor similar na República Democrática do Congo, ou em Bósnia Herzegóvina, onde o exército espanhol mantém a sua presença desde há 19 anos.
A intervenção da OTAN no conflito libio no passado mês de março contou com a participação de 500 soldados espanhóis. Durante os 8 meses que durou a contenda, o Reino da Espanha desembolsou cerca de 95 milhões, segundo o Ministério de Defesa. No entanto, fontes militares elevam a quantia até o milhão de euros diários, se se somarem os custos de munição, combustíveis, dietas ou seguros. Apesar da gravidade da situação económica, o governo espanhol não duvidou em pôr as suas tropas ao serviço dela OTAN. Cabe perguntar-se para quê. A Líbia era o terceiro fornecedor de petróleo a Espanha e até há uns meses país amigo. Com a morte do coronel Gadafi e a vitória dos rebeldes, os poços petrolíferos libios encontram-se num processo de partilha do que Espanha parece que não tirar vantagem.
Resulta contraditório que um governo que se declara antibelicista destine o 5% do Orçamento Geral do Estado a despesas militares, e faça o caixa com a venda de armamento a países em conflito. Mais ainda quando no seu território se cortam prestações sociais em detrimento da cidadania, que vê mermado o seu direito a um emprego, a uma morada, ou a uma previdência e educação pública de qualidade. O novo Executivo assegurou que vai acometer "ligeiras reformas" no Ministério de Defesa para poupar, mas não parece viável com as atuais perspetivas orçamentas. Ademais, deverá enfrentar o pagamento dos 30.000 milhões de euros comprometidos com os grandes programas de armamento dos últimos 15 anos. A partilha do dinheiro público deve dar prioridade ao bem-estar da população, e não a salvaguardar a imagem do país no exterior mediante absurdas intervenções militares ditadas por potências estrangeiras.
Fonte: Los Andes (Victor Martínez González)