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241014 eiIrão - O Diário - [Ángeles Espinosa] No complexíssimo xadrez do Médio-Oriente não é só o movimento de cada peça que provoca alterações na situação geral. É também o facto de cada peça mudar de natureza conforme muda a sua posição no tabuleiro. Costuma chamar-se a isso uma Caixa de Pandora. E foi o imperialismo quem a abriu.


«Todo aceitaram que as sanções devem ser eliminadas e ninguém quer que o Irão não enriqueça o urânio», assegurou o presidente Rohani no decurso de uma entrevista à televisão do seu país na segunda-feira à noite. As suas palavras, mesmo nas vésperas da oitava ronda de negociações nucleares que desde terça-feira se celebram em Viena, transmitem a convicção de que vai ser conseguido um acordo antes de vencer o prazo fixado para 24 de Novembro. O secretário de estado norte-americano, John Kerry, declarou ontem que essa data «não era impossível» e o seu homólogo russo, Sergei Lavrov, com quem se reuniu em Paris, considera que também não é sagrada. Mas, e apesar dos avanços realizados, é difícil ver como vão ser ultrapassados os obstáculos técnicos sem um novo impulso político.

Os dirigentes iranianos têm consciência disso. De facto, durante a sua visita à ONU no mês passado, o próprio Rohani disse que se fosse alcançado um acordo nuclear, não havia a menor dúvida de que «a situação entre os Estados Unidos e o Irão seria completamente diferente». Embora não estabelecesse um vínculo directo, membros da sua delegação encarregaram-se de comunicar a alguns media a disposição de Teerão, de contribuir para a estabilidade no Próximo Oriente e para a luta contra o autodenominado Estado Islâmico (EI).

Desde que o ano passado o Irão e as seis grandes potências (Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha) assinaram o Plano de Acção Conjunta em meio de uma grande expectativa mediática, as sucessivas rondas de negociações só revelaram sorrisos e palavras amáveis. Teerão cumpriu o seu compromisso de congelar o programa nuclear, reduzindo tanto a sua produção de urânio enriquecido como as suas reservas desse produto. Em troca obteve 9.800 milhões de dólares que tinha bloqueados pelas sanções internacionais, apenas 3% do seu produto interno bruto em 2013, e uma fracção dos 100.000 milhões de dólares afectados por essas restrições.
Talvez o que mais chamasse a atenção fosse o degelo nas relações entre a República Islâmica e os Estados Unidos, há 35 anos sem laços diplomáticos, que voltaram a falar-se. Esta quarta-feira o secretário de Estado norte-americano John Kerry vai reunir-se em Viena com o seu homólogo iraniano, Mohamed Javad Zarif, para impulsionar as negociações nucleares. Mas os dois reconheceram que há ainda muitos assuntos importantes para resolver.

As diferenças centram-se no número de centrifugadoras que o Irão vai poder manter e a duração da supervisão internacional do seu programa. Esses aparelhos enriquecem o urânio, para o transformar em combustível nuclear ou, a um grau de pureza maior, material fisível para uma bomba. Limitar o seu número a 1.500 como pedem os Estados Unidos (ou inclusive, a 4.500 como se comenta que estariam dispostos a aceitar), atrasaria o tempo de que Teerão necessita caso pretendesse fabricar uma bomba atómica, decisão que os próprios serviços secretos norte-americanos reconhecem não ter sido tomada.

O Irão já tem 19.000 centrifugadoras instaladas, 10.200 das quais em funcionamento, e aspira ter mais para alcançar uma produção industrial de combustível nuclear. Mas a preocupação dos negociadores iranianos é sobretudo quanto vai durar essa limitação extraordinária ao seu programa (os Estados Unidos falavam de 20 anos, algo inaceitável para Teerão). Além disso insistem num levantamento imediato das sanções, enquanto Washington e os seus aliados querem um calendário para se assegurar do cumprimento do acordo.

Muitos analistas mostram-se convencidos de que esses assuntos, embora se interponham no caminho para o acordo, não são a causa última da falta de avanço das negociações.

«A questão nuclear, como as sanções, é apenas um meio para conter o Irão, escreveu Shirin Hynter. (Os dirigentes iranianos há anos que o afirmam, embora o segredo com que iniciaram o programa atómico primeiro e a atitude desafiadora mostrada pelo anterior presidente, Mahamud Almadineyad, também contribuíssem para a desconfiança internacional).

Por isso a sugestão de um grande pacto lançada por Rohani na ONU se tornou tão atractiva para muitos comentaristas. Mais, quando o Irão e os Estados Unidos se tornaram de facto aliados perante o ISIL no Iraque. Entretanto, basta cruzar a fronteira da Síria para ver como os seus interesses divergem. De resto, pouco faltou aos aliados árabes de Washington colocassem a alternativa: ou eles ou os iranianos. Assim, se tudo correr bem, o mais que poderá esperar-se em Novembro é um novo acordo provisório que consolide os avanços conseguidos em troca de um novo abrandamento das sanções, como sugere Gary Samore do Centro Belfer de Harvard.

Tradução: Manuela Antunes


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