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070214 ministraAlemanha - O Diário - [René Pfister e Gordon Repinsky] Esta entrevista complementa o artigo que odiario.info publicou em 5 de Fevereiro. As palavras da nova Ministra da Defesa Ursula von der Leyen falam como um livro aberto: é tempo de Berlim assumir mais responsabilidades; sonha com um exército europeu; identifica os interesses da Europa com os interesses alemães.


Já aprendeu a justificação “humanitária” para as operações de agressão e ocupação militar. A verdade é que nenhum imperialismo pode prescindir da componente militar.

Der Spiegel: A Alemanha gostaria de se envolver mais no Mali e talvez também juntar-se à missão da União Europeia (UE) na República Centro-Africana. Quais são os interesses da Alemanha nestes conflitos? 

von der Leyen: Não se trata dos interesses da Alemanha, mas dos interesses da Europa. África é nossa vizinha próxima. No Estreito de Gibraltar, os dois continentes distam um do outro apenas 14 Kms. Se uma grande parte de África se desestabilizar, isso poderá ter graves consequências para nós. Deixe-me lembrar-lhe das imagens terríveis de refugiados que se afogaram perto da costa de Lampedusa.

Der Spiegel: A República Centro-Africana não é no Norte de África. O país fica a 5 300 kms. de distância da Alemanha. Porque deveriam enviar soldados alemães para lá? 

von der Leyen: Numa perspectiva puramente humanitária, não podemos ignorar quando crimes e violações têm lugar todos os dias. Uma guerra sangrenta está a desenvolver-se na África central entre cristãos e muçulmanos. Não podemos deixar que o conflito englobe toda a região. Na perspectiva da população, a África central é pequena, mas está cercada por países com mais de 150 milhões de habitantes. Mil milhões de pessoas de pessoas vivem em África. Nos próximos trinta anos, esse número irá duplicar. Se este crescimento se verificar enquadrado numa estrutura democrática, o continente representa uma oportunidade para a Europa. Muitos países africanos demonstram hoje um vasto desenvolvimento e também que a estabilidade e o crescimento são possíveis. Uma África de prosperidade é possível, em particular para um país como a Alemanha, com exportações fortes.

Der Spiegel: Como será o compromisso partilhado da Alemanha em África?

Von der Leyen: O foco principal será o Mali. O Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha) já está a treinar soldados africanos no Mali e a ajudar a formar um exército. Actualmente, o número máximo permitido por mandato é de 180 tropas, estão lá 99 soldados. Podemos reforçar este compromisso, e os nossos aliados, principalmente os franceses, esperam que o façamos. Posso imaginar aumentar o mandato para 250. Para além disso, os ministros dos estrangeiros da UE abriram caminho, na semana passada, para uma missão na África central. Mas temos de assegurar a transparência nesta missão. O chanceler, o Ministro dos Estrangeiros Frank-Walter Steinmeier e eu, estamos completamente de acordo em que esta não deve tornar-se uma operação de combate apenas alemã. Mas o Bundeswehr, com o seu MedEvac Airbus, por exemplo, possui a capacidade especial de rapidamente tratar e evacuar os feridos. Se nenhum outro país aliado tiver esta capacidade, devemos oferecer-nos para isso. Uma condição prévia para uma tal missão, contudo, é que o aeroporto de Bangui tem de ter segurança. Também é claro que uma expansão da missão no Mali e a ajuda à África central iriam requerer um mandato parlamentar. O controlo do Bundeswahr está, em última análise, no Parlamento.

Der Spiegel: Em anos recentes, os aliados queixaram-se repetidamente que a Alemanha se coloca à parte quando se trata de missões no estrangeiro e deixa os outros a trabalhar. A Alemanha precisa de assumir maior responsabilidade no mundo? 

Von der Leyen: No quadro das nossas alianças, sim. Devido à globalização, os conflitos distantes estão agora muito mais próximos da Europa, quer gostemos disso ou não. É por isso que o melhor para os interesses da UE é trabalhar para a segurança e estabilidade, ajudando os países a assumir as suas responsabilidades. No Mali, por exemplo, estamos a treinar soldados que depois são colocados, com tropas da União Africana, no norte do país. Em anos e décadas recentes, a queda do Muro de Berlim, a digitalização e integração dos mercados financeiros ilustraram as consequências dramáticas de um mundo em que vamos ficando mais próximos uns dos outros. Agora temos de compreender que a globalização também inclui desafios totalmente novos para as políticas de segurança e defesa. A Europa tem de falar a uma só voz no futuro no âmbito das políticas de segurança. Mas isso só funciona se as responsabilidades e os riscos forem divididos justamente entre os países em parceria.

Der Spiegel: Considera que foi um erro a Alemanha abster-se no voto no Conselho de Segurança da ONU quanto à intervenção na Líbia? 

Von der Leyen: Como membro do Governo, apoiei essa decisão. Mas depois também vi a tensão que isso originou entre os nossos aliados. Aprendi, com a crise do Euro, que é importante discutir as coisas até ao fim, mesmo que seja difícil, e chegar a um compromisso que todos possam apoiar. Gostava que essa lição fosse apoiada às políticas de segurança e defesa. Temos que definir a posição da Europa. Só então a voz da Europa terá peso no mundo.

Der Spiegel: A abstenção no conselho de Segurança da ONU resultou da política de “contenção militar” do Ministro dos Estrangeiros Guido Westerwelle. Defende uma mudança de rumo? 

Von der Leyen: Nenhuma crise poderá ser resolvida pela via militar isoladamente. Quando se segue esse caminho, a solução política tem de pressionar no mesmo sentido, paralelamente. São conceitos importantes: a ajuda humanitária, cooperação económica e protecção civil, como seja através do estabelecimento de uma força policial. Mas a Europa não fará progressos no jogo do poder mundial se houver um país que se abstém de participar* em operações militares, enquanto outro parte para uma intervenção armada sem consultar os outros. Temos neste momento uma situação curiosa: a Alemanha está actualmente envolvida numa dúzia de missões no mundo, que exigem um enorme esforço militar e financeiro. Mas os nossos aliados continuam a evocar a nossa relutância, produto da nossa contenção.

Der Spiegel: Compreende a desaprovação dos parceiros da Alemanha? 

Von der Leyen: O Afeganistão atingiu uma situação extremamente crítica. A missão de combate irá terminar no fim de 2014 e nós estamos preocupados com a segurança. Mas também podemos apontar sucessos: uma grande maioria das crianças que cresceu sob a protecção das tropas da ISAF sabe ler e escrever. Na geração dos seus pais, há 70% de analfabetos. Mas não quero negar que o que conseguimos é frágil. Os desenvolvimentos futuros não estão apenas nas nossas mãos. O governo afegão tem de assinar o pacto de segurança com os EUA. Só então poderá a NATO e nós mesmos poderemos fazer planos para o período para além de 2014.

Der Spiegel: Que lições do Afeganistão podem ser aplicadas à missão no Mali? 

Von der Leyen: Há circunstâncias em África que não existiam no Afeganistão. A União Africana, por exemplo, agiu com confiança e procura resolver problemas no seu próprio continente. Apoiamos essa via. Ao tomarmos decisões sobre futuras missões militares no estrangeiro, é claro para mim que temos de ter a certeza, desde o primeiro dia, de fortalecer os países também na sociedade civil, ajudando-os a criar forças de segurança ou através de apoio ao desenvolvimento. Tradicionalmente, essa tem sido a força da Europa. Meios militares apenas poderão ser um de vários componentes se queremos de facto ajudar outros países.

Der Spiegel: O que significaria uma política europeia unificada para os negócios estrangeiros no que respeita ao armamento? 

Von der Leyen: Nesta época em que os orçamentos de defesa vão diminuindo, nenhum país europeu poderá manter todo o seu potencial militar num amplo escopo e em números suficientes.

Der Spiegel: Tem como objectivo criar um exército europeu conjunto? 

Von der Leyen: Há muitos passos a tomar antes de chegarmos a esse ponto. O que é claro, contudo, é que, se isso acontecer, os parlamentos europeus não podem ficar impotentes. Mas acredito que forças armadas conjuntas seriam uma consequência lógica de uma cooperação militar em expansão, na Europa.

Fonte: SPIEGEL ONLINE, 01/28/2014.

Traduzido do alemão por Charles Hawley.

Traduzido do inglês por André Rodrigues.


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