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260812 articoPCO - Sem estudos aprofundados sobre a região, nem investimentos tecnológicos e em segurança adequados, o objetivo é a busca por lucros fáceis, numa das regiões mais inóspitas do planeta, depredando o meio ambiente


A multinacional petrolífera anglo-holandesa Shell aumentou o lobby no Departamento do Interior dos EUA com o objetivo de conseguir começar a exploração de petróleo na região do Ártico. Os testes dos sistemas de segurança, principalmente dos sistemas de captação de óleo em caso de vazamento, não foram concluídos, mas a Shell pretende começar os trabalhos antes da chegada do inverno, que no hemisfério norte inicia no mês de dezembro, quando fica impossível transitar pelas águas congeladas.

Antes mesmo da liberação oficial, a Shell já deslocou, para a costa norte do Alasca, o Kulluk, um dos dois navios sonda que serão usados nas perfurações.

Como plataforma flutuante de produção, a Shell pretende usar o Artic Challenger, uma barcaça de 300 metros, construída em 1976, que enfrenta sérios problemas para garantir um certo grau mínimo de segurança. Os navios petroleiros que serão destinados às operações, como o Noble Discoverer, enfrentaram dificuldades para transportar o óleo da região e, pior ainda, de recolhê-lo em caso de vazamento.

O processo que será usado é o mesmo utilizado em alto mar; não há qualquer investimento específico para adapta-lo, de maneira adequada, às condições do Ártico.

Os métodos relacionados com a "fratura hidráulica" desenvolvidos nos últimos cinco anos, coincidindo com o colapso capitalista de 2007, deverão produzir efeitos catastróficos. As perfurações são feitas fraturando o solo, ou o leito marinho. Para reduzir os custos, são injetadas substâncias altamente contaminantes, para "afrouxar" os hidrocarbonetos incrustados nas rochas, que se espalham através das fraturas. Os contaminantes e os inevitáveis vazamentos pelas fraturas são despejados diretamente no mar.

A exploração do Ártico só é possível de ser realizada durante alguns poucos meses no ano devido ao recuo do gelo marinho. O frio extremo, a ameaça dos icebergs, que podem colidir com os navios-sonda, a má visibilidade e o grande afastamento dos centros de controle aumentam o risco de vazamentos.

As eminente depredação do Ártico pelas petrolíferas

A condições climáticas extremas no Ártico obrigaram a que a Shell tenha se limitado a perfurar somente dois poços exploratórios, em vez dos cinco originalmente planejados. Se as condições forem favoráveis nos próximos meses, somente poderá ser perfurado apenas mais um poço antes do inverno rigoroso.

O total descaso com a diversidade ambiental é evidente. Segundo a Universidade do Alasca, dois dos poços de perfuração estão localizados próximos a uma grande barreira de corais que também é o local de acasalamento de baleias orca.

Além da Shell, a petrolífera russa Gazprom, a maior petrolífera da Rússia, já entrou na corrida ao Ártico. O governo russo autorizou o início da exploração apesar do plano de emergência para casos de vazamentos ter expirado no início deste ano. A produção de hidrocarbonetos na Rússia representa, aproximadamente, 70% do PIB, mas conforme a crise capitalista tem se aprofundado, os vazamentos têm sido, cada vez mais, frequentes. Em 2011, vazaram 30 milhões de barris, sete vezes mais que a quantidade que vazou durante o derramamento Horizon Deepwater 2010 no Golfo do México. A área que poderá ser afetada, inclui três regiões protegidas que são o lar de várias espécies em risco de extinção. No caso de acontecer um vazamento nas plataformas da Gazprom, a área afetada poderá chegar a 140 mil quilômetros quadrados em águas abertas, o equivalente ao tamanho da Irlanda, assim como mais de 3 mil quilômetros de costa.

Se uma ruptura ou vazamento ocorrer, poderão passar meses até ser perfurado um poço de contenção, que muitas vezes é a única solução para um problema desse tipo. Se o vazamento não for contido antes do inverno, o petróleo poderá continuar vazando sem controle durante todo o inverno, ficando preso debaixo do gelo e, possivelmente, por até dois anos.

As outras grandes petrolíferas estão elaborando planos para entrarem na corrida no Ártico e também na Antártica.

As tecnologias existentes hoje não garantem a retirada efetiva do óleo num vazamento no Ártico. Aliás isso não foi feito nem sequer nas águas tropicais do Golfo do México.

Os mecanismos de contenção de vazamentos que a Shell pretende usar no Ártico são os mesmos que fracassaram no Golfo do México, sem contar com que as condições atmosféricas são extremamente difíceis e a distância dos centros de controle fica a centenas, quando não milhares, de quilômetros.

O aprofundamento da crise capitalista tem impulsionado a corrida por lucros fáceis a qualquer custo

A concessão da autorização pelo governo dos EUA à Shell é eminente devido à pressão da direita norte-americana ligada às multinacionais petrolíferas que se aproveitam da campanha do governo para incentivar a produção doméstica de petróleo e gás.

A exploração e produção no Ártico, uma das regiões mais inóspitas do planeta, sem, praticamente, nenhum estudo de impacto ambiental e nem um plano de emergência para casos de vazamento, deverão provocar desastres em escala monumental.

A pressão da Shell relaciona-se também com o fato de ter gastado US$ 4,5 bilhões, desde 2007, em trabalhos exploratórios em Chukchi e o Mar de Beaufort, ao norte-oeste e nordeste do Alasca. O adiamento do início dos trabalhos teve como causa a catástrofe do Golfo do México, que aconteceu, em 2010, numa plataforma sob a responsabilidade da BP (British Petroleum), que provocou o vazamento de milhões de barris e a pior catástrofe ambiental das últimas décadas devido à manutenção inadequada numa "árvore de natal", sistema que é usado para controlar o bombeamento do óleo à superfície.

Segundo o ONG Greenpeace, as reservas de petróleo do Ártico que a Shell pretende explorar só teriam uma duração aproximada de três anos. Por quê então empreender a produção num local tão difícil? Essas representam apenas o ponto de partida.

As reservas totais da região do Ártico estão calculadas em 90 bilhões de barris, além do gás natural e minerais. Perante esse potencial, numa região que tem pouquíssima fiscalização, os efeitos do aquecimento global, que já liberou 46 mil quilômetros quadrados anteriormente cobertos por gelo, passaram a ser vistos como uma oportunidade de lucros fáceis pelas multinacionais imperialistas, sem qualquer preocupação com o meio ambiente.

A Shell concluiu, recentemente, a implantação de dois projetos de extração de petróleo a partir de areias betuminosas (xisto), no Qatar e no Canadá, o que deu um certo folego ao declínio de produção de longo prazo que, agora, pretende ser estendido no Ártico.

Segundo o banco de investimentos RBC Capital Markets, a produção no Ártico representa "altos custos, altos riscos, e retornos pouco visíveis". Obviamente, esse "retornos pouco visíveis" serão compensados pela exploração depredadora do meio ambiente e dos trabalhadores. Como os próprios ideólogos burgueses gostam de repetir, "não ha almoço de graça"; o objetivo dos capitalistas é sempre os maiores lucros a qualquer custo.

A comercialização, em dólares, de aproximadamente 65% do petróleo mundial representa um dos pilares do domínio do imperialismo norte-americano, em cima dos chamados "petrodólares", e está na base da disparada da especulação financeira. A manutenção e extensão desse percentual é vital perante o aumento das contradições inter-imperialistas, e com as potências regionais, acirradas nos últimos cinco anos.


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