As companhias aéreas, gigantes negócios de milhões de milhões de euros cada vez mais entregues à gula do capital privado e dos monopólios transnacionais, choram, após alguns dias de paralisação parcial da sua actividade, perdas na ordem das centenas de milhões de Euros, tendo já desenvolvido duas linhas de ofensiva mediática: a pressão para a abertura dos espaços aéreos e a exigência de apoios estatais. Os ministros dos transportes da UE reuniram por videoconferência e, confrontados com o dilema – lucros das companhias aéreas / segurança das pessoas –, foram – depois de abrirem para uma altamente discutível “flexibilização” das restrições de voo – salvos (temporariamente?) pela acalmia da expulsão de cinzas. A Comissão Europeia, que não teve de voar para se reunir, rapidamente decidiu que os Estados devem abrir os cordões à bolsa e apoiar as “empobrecidas” companhias aéreas.
Não se pretende aqui pôr em causa os reais prejuízos das companhias – embora sejam certamente bem menores que os anunciados, com peso relativo nos seus multimilionários lucros anuais e alguns resultantes da especulação financeira. Prejuízos que também os tiveram aqueles que viram os seus voos cancelados (e esses não foram contabilizados), assim como as economias e as empresas cujos trabalhadores ficaram impossibilitados de se deslocar para os seus locais de trabalho. São consequências naturais da vulnerabilidade do ser humano e das sociedades face à natureza e que os governos devem avaliar. Mas o que sobressai é que o que é prioritário para o poder político é não deixar que os sacrossantos lucros das companhias aéreas saiam sequer beliscados com as cinzas do vulcão. Para isso, e mais uma vez, propõem-se usar os dinheiros públicos, os mesmos que foram utilizados para salvar o grande capital financeiro, os mesmos que faltam nos cofres dos Estados e que a ofensiva anti-social em curso na Europa quer pôr os trabalhadores e os povos a pagar.