1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (11 Votos)

bidentidadeDiário Liberdade - [Rodrigo Moura] Sabe-se que com o advento da Globalização e das trocas cada vez mais intensas a partir da internet, pessoas, grupos e, até nações, têm repensado seu status de identidade como algo sólido e sem incongruências.


Poder-se-ia assinalar que em nossa Modernidade Tardia muito se tem refletido sobre as novas formas de pertencimento, quer dizer, nascer em um determinado país não significa pertencer a este país. A questão torna-se um tanto complexa, posto que envolve muitos saberes e linhas de pensamento. Pensamos que a identidade é uma contrução formada ao longo da vida do sujeito e esta pode sofrer alterações ao longo de toda a vida do mesmo. Logo, o processo de formação de identidade só termina quando temos a morte efetiva do sujeito, sua morte física ou mental (casos de doenças que incapacitem o sujeito de refletir sobre si mesmo). Temos que ter em mente que identidade e identificação não são a mesma coisa. Como alerta o Psicanalista francês Jacques Lacan a identificação diz respeito às relações do sujeito com o outro, logo os sujeitos saberão o que são a partir do contato com o outro, além disso, os sujeitos possuem certos meios de expressar suas identificações: música, as artes, locais por onde andam.

Identidade diz respeito a um constructo de difícil acesso, pois como dissemos, ela muda constantemente. Nesse sentido, na contemporaneidade percebemos movimentos que fragmentam ou mesmo destroem  o conceito de identidade concebido, sobretudo com os postulados de Descartes cuja obra aponta para um sujeito "uno", "senhor de si" que conhece a si próprio com a palma da mão. Em nossa sociedade, percebemos inúmeros movimentos de sujeitos confusos, perdidos, depressivos por não encontrarem esse sentimento de "uno". Tomemos como exemplo as várias guerras e crises econômicas que obrigam sujeitos a se deslocarem em busca de sobrevivência.  Em até médio prazo, notamos que estes assumem novas identidades, deixando muito de seu "outro eu" para trás. Chamamos este movimento de "identidade por convenção", posto que os sujeitos escolhem como desejam ser vistos, quebrando com a regra do pertencimento. Vemos claros exemplos na União Européia, pois com o forte contato de culturas e mudanças, os sujeitos sentem-se deslocados e, por vezes, optam por uma identidade que não seja a de seu país de origem, principalmente para nutrir seu ego ferido. O sujeito, nesse sentido, busca tecer novas partes de "eu", por esse motivo falamos que o processo de identidade é complexo e só finda com a morte efetiva do sujeito. Há outro fator que influencia na chamada "identidade por convenção" que é a perda do contato visual entre as pessoas. Cada vez mais jovens mantêm relações via internet e estabelecem relações de identidade confusas e fragmentadas.

O país perdeu espaço para o espaço da internet, para o espaço global, logo esses jovens e adultos são atraídos por modelos de vida, modos e culturas pelos quais se identificam e desejam ser vistos como tal, pois lhes parece melhor ou mais vantajoso. Se pegarmos o exemplo de Estados Autônomos como Catalunha ou Galicia, por exemplo, vemos que embora em território espanhol, muitos sujeitos não compartilham desta mesma cultura e levantam bandeiras nacionalistas e a internet, o compartilhamento de ideias auxilia na manutenção e promoção destes ideais de forma mais rápida que outrora.

Para além de identidade nacional, vemos muitos movimentos que deixam o tema ainda mais complexo, pois como nos lembra Boaventura de Sousa Santos "Mesmo as identidades aparentemente mais sólidas, como a de mulher, homem, país africano, país latino-americano ou país europeu, escondem negociações de sentido, jogos de polissemia, choques de temporalidades em constante processo de transformação, responsáveis em última instância pela sucessão de configurações hermenêutica que de época para época dão corpo e vida a tais identidades. Identidades são, pois, identificações em curso" (2001,135). Portanto, pensar e repensar identidade na contemporaneidade é sempre um jogo de negociações de sentido e convenções, pois saímos da solidez cartesiana e estamos em plena fragmentação pós-moderna.

*Rodrigo Barreto da Silva Moura - Doutorando em Pensamento Português Contemporáneo pela Universidade Nova de Lisboa (Portugal). Mestre em Literatura Portuguesa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Brasil) e Bacharel em Letras Português/Francês (UERJ) e Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.