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250114 ninEstado espanhol - Diário Liberdade - [Carlos Serrano Ferreira para o Diário Liberdade] Primeiro de maio de 1937 Andreu NinPublicado em La Batalla de 1° de maio de 1937[1].


 BREVE PRÓLOGO AO "PRIMEIRO DE MAIO DE 1937 DE ANDREU NIN"

No ano que vem se completarão 80 anos da fundação do POUM. História pouco lembrada no Estado Espanhol, esquecida no Brasil. Como toda organização, o Partido Operário de Unificação Marxista cometeu muitos erros, principalmente ter integrado o governo de Frente Popular na Segunda República Espanhola. Erros que podem ter sido causados por fortes fatores, mas injustificáveis. Erros que foram pagos com a destruição desse partido e a morte de grande parte de seus quadros. Perseguido pelo fascismo e pelo governo republicano, acossado por todos os lados, sucumbiu. Os erros cometidos pelo POUM, como não poderia ser de outra maneira, devem ser considerados principalmente erros de sua direção. Sendo assim, os maiores culpados serão, especialmente, Joaquim Maurín e Andreu Nin. O último pagou com a vida seus equívocos.

Contudo, mesmo sendo necessário, melhor dizendo, inevitável, chamar a atenção para os erros, é também uma obrigação quebrar o silêncio que recai sobre essa organização. A história é escrita pelos vencedores, nesse caso, pelos fascistas. Por isso, um dos campos de batalha entre as forças democráticas e progressistas e a contra-revolução é o campo da História. É necessário resgatar a memória dos combatentes revolucionários. Não podemos deixar que sofram um duplo assassinato: o físico e o histórico.

Para esse resgate, nada melhor que aproveitar do que este artigo sobre o dia do trabalhador, e lembrar com Nin outros primeiro de maio: o de 1931, da proclamação da Segunda República Espanhola, e o de 1937, em meio às lutas contra as tropas bárbaras de Francisco Franco, que carregavam consigo a morte e a destruição das liberdades democráticas. Temos nesse artigo, publicado no jornal oficial 'La Batalla', Nin em sua melhor forma, pouco mais de um mês antes de sua morte. Aí apresenta a denúncia dos limites da República Burguesa e seu auxiliar no movimento operário, reformismo e, profeticamente, antevê que a vitória militar só poderia se dar com a vitória da revolução social e de um governo operário e camponês. Só assim as massas teriam pelo que lutar de fato, e não pelas vãs promessas da burguesia 'democrática'. Esta, que como ele chama a atenção, preferiria capitular ao fascismo do que permitir a conquista do poder pelo proletariado. A solução militar estaria na afirmação da classe trabalhadora como setor independente. Porém, como todos sabem, esta nunca veio. Com a devastação do franquismo, o POUM caiu no esquecimento. E, é contra isto que se publica este artigo e se convida o leitor a entrar em contato com a história desse fantástico processo, ainda que derrotado, que se chamou Revolução Espanhola.

Primeiro de maio de 1937 Andreu NinPublicado em La Batalla de 1° de maio de 1937 [1]

Seis anos atrás, a classe trabalhadora espanhola celebrava o Primeiro de Maio em meio a um grande entusiasmo, com o coração repleto de esperança. Quinze dias antes havia caído o odiado regime monárquico. A República de 14 de abril vivia sua lua de mel. E, Alcalá Zamora, presidente do governo provisório, prometia à multidão operária o início de uma nova era, a era da justiça social.

Porém, o verdadeiro caráter da transformação política por que acabava de passar a Espanha não tardou em se manifestar. A burguesia, com o auxílio direto dos socialistas, se aproveitou do entusiasmo popular para empreender rápida e eficazmente a consolidação de suas posições, para assegurar, sob a máscara democrática, sua dominação, posta em perigo pelo movimento revolucionário das massas. Inspirada por seu certeiro espírito de classe, freou a própria revolução, conservando, essencialmente, as bases econômicas da monarquia e mantendo incólume o mecanismo estatal do regime derrubado.

O idílio de abril, como era de se esperar, foi breve. Contrariamente ao que pretendia a burguesia, a revolução não só não havia terminado, como entrava em uma nova fase, cheia de perigos mas também cheia de grandes possibilidades. "O período que se abre - dizíamos naquele momento - não é um período de paz, mas um período de luta em ebulição. E, nesta luta estarão em jogo os interesses fundamentais da classe trabalhadora e todo seu futuro. A classe operária será derrotada se no momento crítico não disponha dos elementos de combate necessários; triunfará, se contar com estes elementos, se si liberta de todo contato com a democracia burguesa, pratica uma política claramente de classe e sabe aproveitar o momento oportuno para dar o assalto ao poder".

De fato, a luta de classes recobrou todos seus direitos, com mais intensidade todavia, que durante a monarquia pois, no regime democrático os antagonismos de classe se manifestam em toda sua desnudez, e a experiência dos últimos seis anos veio a demostrar que a democracia burguesa, incapaz de resolver os problemas fundamentais do país, preparava o terreno ao fascismo, e que a única saída da situação era a revolução proletária.

Na sublevação militar de 19 de julho, e na guerra civil e revolução subeqüentes, se condensou, pode-se dizer assim, toda essa experiência. E, é neste momento crucial de nossa história "em que estão em jogo os interesses fundamentais da classe trabalhadora e todo seu futuro", quando partidos que pretendem ser operários e marxistas tentam estrangular a revolução, frustrar as imensas possibilidades que se oferecem ao proletariado espanhol, sacrificando seus interesses superiores - que coincidem com os da humanidade civilizada - em prol da República democrática parlamentar, melhor dizendo, da burguesia e seu regime de exploração.

O Primeiro de Maio deste ano coincide com a fase mais crítica deste momento histórico. A burguesia, amedrontada nos primeiros meses da revolução, levanta a cabeça e tenta consolidar suas posições. Especulando com a guerra e suas dificuldades, tenta arrebatar - com inegável êxito em alguns aspectos - as conquistas do proletariado. E, como em todos os períodos revolucionários, tem como seu auxiliar mais eficaz o reformismo. Porém, a relação de forças, ainda que modificada nestes últimos tempos, segue sendo favorável ao proletariado. Para que esta relação de forças favorável seja decisiva, é preciso que a classe operária recupere a plena confiança em si mesma, rompa as amarras que a atam à democracia burguesa e empreenda resolutamente o caminho da conquista do poder. Hoje, todavia, ainda é tempo. Amanhã já será tarde.

E que não se deixe sugestionar pelos que sob pretexto de subordinar tudo às necessidades da guerra, pretendem estabelecer uma "união sagrada" à base de concessões constantes do proletariado aos seus inimigos de classe. A guerra tem uma importância imensa, porém está indissoluvelmente ligada à revolução. A burguesia preferirá a derrota militar ao triunfo da classe trabalhadora, para cujo aplastamento não vacilará, se as circunstâncias exigirem, em aliar-se com seus inimigos de hoje. Só um governo operário e camponês é capaz de organizar a vitória, de montar uma potente indústria bélica, de levar a guerra até o fim, de criar uma autêntica moral de guerra na retaguarda, de sacrificar todos os interesses particulares ao interesse geral.

Só um governo operário e camponês, que rompa todo contato com a burguesia nacional e com o imperialismo estrangeiro, e imprima um vigoroso impulso à revolução internacional, pode aplastar definitivamente ao fascismo, tanto na retaguarda, como na frente.

A consigna que arrastou as massas populares ao Primero de Maio de 1931 foi: Viva a República do 14 de abril! A consigna das massas trabalhadoras da Espanha, neste Primeiro de Maio trágico e glorioso, deve ser: Viva a revolução social! Viva o governo operário e camponês! Só com o triunfo desta consigna não resultará estéril o generoso sacrifício do proletariado espanhol nem seu magnífico heroísmo, sem precedentes na História.

Nota

[1] Traduzido do espanhol por Carlos Serrano Ferreira da versão eletrônica do sítio eletrônico da Fundación Andreu Nin (http://www.fundanin.org/nin8.htm). Esta fundação dedica-se à preservação da memória histórica do POUM. Tradução publicada primeiro no Arquivo Marxista na Internet, em http://marxists.org/portugues/nin/1937/05/01.htm .


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