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270912 carrilhoEstado espanhol - Gara - [Francisco Larrauri, traduçom do Diário Liberdade] Quando ainda ressoam os típicos comentários laudatórios que se seguiram à morte de Santiago Carrillo, Francisco Larrauri debulha nestas linhas «as fraudes» da sua longa trajetória política.


Foto: Santiago Carrillo, na altura secretário-geral do PCE, nos anos da Transiçom espanhola, sentado junto ao ex-ministro franquista Manuel Fraga.

O primeiro, o reconhecimento explícito da monarquia espanhola; o segundo, o realizado à diáspora que se mantivo fiel à República; e o terceiro, «o mais íntimo e partidário», o vivido pola militáncia comunista espanhola, basca, catalá e galega que pagou com a sua vida a luita clandestina no interior, a seguir à política de resistência ao fascismo e que tivo o seu ponto culminante no máquis de 1939 e na II Guerra Mundial.

O título nom é umha tentativa de insulto desalmado a um defunto, mas umha consideraçom política cheia de respeito a quem faz décadas representou um esforçado e valoroso movimento comunista e posteriormente, livre e voluntariamente, se fez amigo de um rei eleito para reinar polo general Francisco Franco e que representou os princípios fundamentais da ditadura que o ex secretário geral dos comunistas mandou combater durante quarenta anos.

Santiago Carrillo, afagado pola direita reacionária e pola social-democracia, apesar de lhe recordarem a diário o cenário de Paracuellos de Jarama na guerra de 1936, vegetou plácidamente com o corpo ideológico de umha estrutura política herdada do fascismo que ele mesmo contribuiu para legitimar com a herança das luitas polas liberdades democráticas do movimento operário e do movimento progressista intelectual.

Facilitada e realizada a passagem para abraçar a monarquia espanhola e portanto para o mais extremista nacionalismo espanhol com o adendo da guerra suja em Euskal Herria, a atividade pessoal dos últimos anos de Santiago Carrillo suscitou umha lógica revisom da sua obra, na qual nom se lhe perdoou a deriva política, mais polo aproveitamento que dela figérom os que foram no seu dia adversários das liberdades individuais e nacionais que polo que repercuta nos que sempre considerárom o marxismo como umha alternativa real ao capitalismo em crise.

A primeira fraude que surge com o reconhecimento explícito da monarquia, o monarca e seus valores subtraiu o sentido ético a milhons de republicanos e de cidadaos sem adscriçom partidária, que polo simples facto de defenderem a legalidade e se manterem fiéis à República, fôrom vítimas das malfeitorias dos militares facciosos. Vítimas permanentes desde o passado pola identidade e dignidade típica da gente corrente, e pola resistência lúcida em combates quotidianos que os levaram à valeta ou à diáspora sem que Santiago Carrillo recusasse o rançoso espanholismo representado pola monarquia imposta e hereditária. Chegou-se a dizer que todos os que luitaram contra Franco mereciam que os seus nomes fossem conhecidos, mas Carrillo nom só nom rompeu o silêncio por nengum deles, como vilipendiou as vítimas e converteu-nas em «esquecimentos» silenciados. Aí está Ahaztuak 1936-1977, para que nom se esqueça jamais a repressom do fascismo e a ditadura, homenageando as mulheres e gudaris assassinados.

A segunda fraude é à diáspora e aos exilados que por quarenta anos, podendo ou nom voltar, se mantivérom leais à República, sem que ninguém falasse deles. Na China, Moscovo, Cuba, República Dominicana, México, Paris e Montauban, onde o autor tivo pessoalmente antecessores, e aos quais o camarada Carrillo pediu disciplina e sacrifício para aguentarem, inclusive sem correio, para que os familiares do interior na sua resposta nom contribuíssem para financiar o fascismo com o valor de um selo, vivêrom-se mostras de heroísmo.

Os exemplos de constáncia e permanência no exílio, polo que tinha de depoimento humano mundial, luitavam intimamente contra as ánsias de voltar, e chegaram ao extremo de inimizar refugiados com mais de trinta anos fora dos seus lugares de origem. Como ex secretário-geral de grande parte dessa resistência, sua desfaçatez estivo à altura das visitas reais aos meninhos da Rússia.

A terceira fraude, a mais íntima e partidária, viveram-na os militantes comunistas espanhóis, mas também os comunistas bascos, cataláns e galegos. A luita clandestina no interior, com idealismo a mao-cheias, que seguiu à política de resistência ao fascismo e que tivo o seu momento álgido no máquis de 1939 e na Segunda Guerra Mundial, pagárom-na os comunistas com a sua vida. As mortes em combate, os passeios sem julgamento, as torturas que som endémicas, até o fusilamiento de Grimau polo regime que tam bem representou Juan Carlos I, bem como os últimos fusilados do franquismo, mereciam por parte de Carrillo umha reflexom e umha análise menos egoísta. seria tam justo que continuasse sem se arrastar no chao por um monarca que nom é continuidade da

monarquia expulsa polo povo, mas continuaçom dos princípios do Movimento do general Franco, que a memória viva dos camaradas desaparecidos, os seus descendentes e familiares, lho teriam reconhecido eternamente.

Lenine, em outro momento da história, escreveu «A revoluçom proletária e o renegado Kausky» para denunciar a atitude servil ante o oportunismo e o inaudito envilecimento teórico do marxismo de quem tinha sido dirigente da II Internacional. A transferência do pensamento é livre, e de um renegado transitamos para um político defraudador ao qual o espírito de esquerda que sobreviveu ao fascismo de 1939-1975 lhe exigia se nom rebeliom, ao menos indignaçom pola continuidade de um fascismo que se resistiu a desaparecer, e precisamente pola postura ideológica e política de Carrillo, que ao longo das últimas décadas nom tivo indícios de progresso moral, será arrinconado da história progressista, convertendo-se em ideologicamente prescindível para qualquer projeto político emancipador.

Sem se empenhar em gerar umha cultura de resistência transmissível, pois a transiçom que pactuárom foi umha miragem e a amnistia um fardo de prebendas para militares assassinos, Carrillo optou pessoalmente por recriar num espaço público veemente ao calor do Corte, dobrando-se à impunidade do franquismo como fórmula para sustentar o regime monárquico atual.

Descobrimos com ele que o mel do poder é pegajosos e agarra, e que a perversidade é polimorfa. Episódio da peruca e silêncio culposo em frente ao padecimiento da repressom e da tortura em Euskal Herria em nome do seu amigo o rei espanhol. Conhecedor de que tivo muitos tempos, talvez sejam a direita conservadora e a social-democracia espanhola as que preservarám a sua memória; esta foi a sua vontade e o seu testamento, o seu verdadeiro ocaso.


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