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290712 cristinelagardeRubra - [José Martins] Para subjugar politicamente a classe operária e administrar as expansões e contrações do exército industrial de reserva global é de muita utilidade para os governos e as burocracias sindicais de pelegostradicionais ou de modernos neopelegos a ideia de crise económica permanente.


A análise da economia é uma coisa tão importante que não deveria ficar na mão dos economistas. Menos ainda, é claro, na mão de sociólogos, estatísticos, econometristas, cientistas políticos, geógrafos sociais e outros resíduos acadêmicos da Ciência Econômica (ou Economia Política, para os ingleses).

Veja o que se passou há poucas semanas: em entrevista ao jornal The Guardian, de Londres, a diretora gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), uma francesa que atende pelo nome de Cristine Lagarde – engenheira pós-graduada em Economia, outra praga que empesteia o mundo dos economistas – acusou o povo grego de vagabundo e de não pagar impostos.

A jornalista perguntou à burocrata do FMI se apenas pensava em números e se lhe era difícil exigir ao povo grego medidas de austeridade, sabendo que as mesmas acarretam cortes em serviços tão fundamentais como os cuidados de saúde e da assistência social ou cuidados aos idosos.

Ao invés de responder que essas medidas de austeridade são impostas ao povo grego para salvar os banqueiros da Grécia e alhures, Madame Lagarde respondeu pela negativa e justificou com emoção incontida: "Penso mais nas crianças que andam na escola, numa pequena aldeia do Níger, e que apenas têm duas horas de aulas por dia e são obrigadas a partilhar uma cadeira por três e mesmo assim estão desejosas de obter uma educação (...) porque penso que precisam ainda de mais ajuda do que o povo de Atenas", disse. "Sabe que mais? No que respeita a Atenas, penso em toda aquela gente que está sempre a tentar escapar aos impostos", acrescentou.

Que bela análise econômica da crise grega faz a economista de mais alta patente do FMI – a Grécia está em crise porque o povo grego não gosta de trabalhar e nem de pagar impostos. Qual a solução para a crise? A fervorosa defensora das criancinhas pobres da África tem a resposta na ponta da língua: o povo grego deve trabalhar mais, muito mais, e pagar impostos, muito mais. Questionada sobre os que na Grécia lutam desesperadamente todos os dias para sobreviver, privados de emprego e de serviços públicos, Madame Lagarde disse também pensar neles: "Acho que se deviam também ajudar a eles próprios coletivamente". Como? "Pagando todos os seus impostos", responde. E quanto às crianças gregas, que de forma alguma podem ser tidas como responsáveis? "Bem, os pais são responsáveis não? Então os pais devem pagar seus impostos", remata a mulher que substituiu Dominique Strauss-Kahn à cabeça do FMI.

Tanta obsessão com o pagamento de impostos levou diversos jornalistas a bisbilhotar a vida privada de madame e descobriram sabe o que? Que ela ganha aproximadamente meio milhão de dólares anuais como diretora do FMI e, muito importante, não paga nenhum tostão de imposto sobre essa bolada. Justificativa? Os altos funcionários de todas as grandes instituições imperialistas internacionais, como FMI. Banco Mundial, OMC, OIT, etc., são isentos do pagamento de imposto sobre suas gordas remunerações.

Os burocratas dessas danosas instituições imperialistas são cidadãos especiais que recebem polpudas fatias da mais-valia global originadas de recursos públicos de inúmeros países e não pagam nenhum tostão de imposto. E, como economistas cônscios de suas funções no sistema, decretam com ar de extrema sapiência econômica: os povos endividados até o pescoço, como Grécia, Espanha, Portugal, Itália, etc., chegaram à situação atual de falência nacional não porque todos os recursos públicos destes países foram parar nos cofres dos capitalistas na última crise (e continuam indo, como ilustra o caso atual dos bancos espanhóis), mas porque esses povos vagabundos do Mediterrâneo trabalham pouco, gastam muito e... não pagam os impostos!

AOS BANQUEIROS COM AMOR

A economia é uma coisa tão importante que não deveria ficar nas mãos dos economistas, vale repetir. Infelizmente, a ação danosa desses economistas das instituições de regulação financeira internacional não se limita a considerações morais acerca da realidade econômica. Acontece que, como irmãs gêmeas dessa deficiência mental, suas avaliações da dinâmica econômica global são também absolutamente inúteis.

No FMI de Madame Lagarde, as previsões sobre o produto bruto mundial sempre passam muito longe da realidade do ciclo econômico. Nesta semana, por exemplo, revisaram mais uma vez para baixo a previsão para o crescimento mundial neste ano. É claro que isso é uma possibilidade. Mas tem que justificar a afirmação, senão não vale. Seus economistas não apresentaram nenhuma comprovação séria para essa nova revisão. Nunca apresentam. Para eles uma afirmação vale por uma comprovação. Assim, de revisão em revisão eles chegarão a Dezembro com um diagnóstico muito próximo do crescimento em 2012! No ano que vem, a mesma ladainha catastrofista será repetida. Não se pode negar que essas previsões fajutas são muito importantes para as classes proprietárias. Acontece que nessas previsões a ameaça de um caos financeiro global nunca desaparece. É estrutural. Por isso, a política econômica de todos os governos deve visar prioritariamente à saúde dos bancos e dos parasitas em geral. Deve-se evitar permanentemente o "risco sistêmico".

Os economistas se aproveitam da ideologia de uma instabilidade estrutural ou permanente do sistema – também preconizada por amplas camadas de economistas "marxistas", diga-se de passagem – como argumento para defender os interesses capitalistas em geral e do capital financeiro em especial.

MAIS QUE AMOR

Até aí, nada de novo. Eles estão cumprindo seu papel de economistas. O que seria muito estranho é que eles defendessem alguma política econômica que favorecesse a classe operária. Isso aumentaria o "risco sistêmico". Ocorre que a atividade dos economistas tem duas consequências mais importantes do que simplesmente amar os banqueiros. A primeira é que essas análises não ajudam em nada para se diagnosticar com um grau razoável de precisão a situação de momento da acumulação real do capital. O ciclo periódico de superprodução de capital é retirado da tela. A economia, dizem, é marcada pelas instabilidades, incertezas e expectativa. Fenômenos psicológicos comandam os movimentos materiais da economia. Doravante a sua dinâmica é comandada pela política econômica dos governos encarregados de estabilizar a economia, diminuir as incertezas e racionalizar as expectativas.

O fato que está por traz disso tudo é que na luta de classes é muito importante aos capitalistas que o ciclo econômico real desapareça da análise. Para subjugar politicamente a classe operária e administrar os movimentos de expansão e contração do exército industrial de reserva é de muita utilidade para os governos e as burocracias sindicais de pelegos tradicionais ou de modernos neopelegos a ideia de crise econômica permanente, etc. Mesmo quando os economistas defendem uma política de expansão econômica, o que é mais comum, salvam-se as classes improdutivas em geral e aumenta-se o grau de exploração da classe produtiva de valor e de mais-valia, quer dizer, de capital.

A segunda coisa importante e altamente danosa dessa ideologia da crise permanente, de instabilidades e de incertezas, como determinantes da dinâmica econômica, é que ela fecha a possibilidade de se enxergar cruciais macrotendências no mercado mundial que estão a ocorrer sob nossos olhos e que darão o ritmo de novas relações econômicas e geopolíticas dos próximos vinte anos. Ora, antes que elas se realizem em toda plenitude, é importante analisar seus primeiros efeitos no desenrolar e fechamento do atual ciclo econômico. Tentaremos essa façanha a seguir.

Foto: NDM


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