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lepFrança - Correio da Cidadania - [Luiz Eça] A três semanas das eleições, Jean Mélenchon estava passando Marine Le Pen (foto, ao lado de seu pai, Jean-Marie Le Pen) nas pesquisas e assumindo a terceira colocação. As perspectivas eram de que continuaria a subir, tendo em vista o entusiasmo que despertava e as massas que iam aplaudi-lo nos seus enormes comícios. Não se acreditava que ele pudesse ganhar, pois a maioria dos eleitores ainda tinha o que perder e a pregação do candidato da esquerda radical assustava por ser francamente revolucionária.


Ideias como democracia direta, com plebiscitos frequentes para decidir questões como a participação do país na OTAN; impostos fortemente progressivos; rompimento com o Tratado de Lisboa para se chegar a uma nova Europa cooperativa; direito de veto aos trabalhadores sobre decisões das empresas que ameacem direitos sociais e direito de preempção, pelo qual os trabalhadores de uma empresa posta à venda teriam preferência para assumir seu controle sob forma cooperativa, eram demolidoras.

Havia outra candidatura que ameaçava o sistema, porém, de uma forma diferente. Se Mélenchon era revolucionário, Marine Le Pen era reacionária, pois suas ideias sinalizavam uma volta ao passado, renegando as coisas boas do presente, como a Europa Unida, e defendendo um nacionalismo fascista, com forte coloração racista.

Sendo ambos claramente ideológicos e absolutamente opostos, cada um tinha por si eleitores cativos, que os apoiavam por solidariedade a suas ideias. No entanto, há uma grande fatia da população formada por pessoas profundamente desencantadas com a ordem política e econômica vigente, mas sem ideologia.

Não acreditam mais nos partidos tradicionais, nem no considerado politicamente correto, muito menos nas propostas que mantêm as coisas mais ou menos do mesmo jeito. Essas pessoas querem uma mudança completa, que renegue o sistema, no qual veem a causa dos problemas do país.

Na eleição, elas tanto podiam pender para as soluções audaciosas de Melenchon, que atacavam de frente os privilégios dos poderosos, quanto para as posições de Le Pen, que faziam um ataque vago aos "grandes interesses", ao mesmo tempo em que condenavam de forma muito concreta os estrangeiros, particularmente os imigrantes islâmicos, que estariam roubando os empregos dos bons franceses. Mélenchon valorizava os trabalhadores do país; Le Pen, a raça francesa.

O eleitorado revoltado vacilou entre um e outro para, por fim, preferir o nacionalismo racista da candidata da Frente Nacional, que chegou na frente do seu rival de esquerda por 18% a 11% dos votos.

Foi um resultado à primeira vista surpreendente, mas absolutamente conseqüente com as tendências do povo europeu, de um modo geral.

Recente relatório da Anistia Internacional mostra que nos países do Continente uma discriminação contra os islâmicos que demonstram sua fé é regra, especialmente nos setores da educação e do emprego.

O relatório intitulado "Escolha e Preconceito: discriminação contra os muçulmanos na Europa", mostra que a legislação aprovada pela Comunidade Europeia que proíbe a discriminação no emprego não tem sido respeitada devidamente na Bélgica, na Holanda e na França, de Sarkozy.

Os argumentos usados pelos empregadores (e aceitos pelas autoridades) são: a identificação de um funcionário como muçulmano irrita clientes ou colegas, conflita com a imagem corporativa da empresa ou com sua neutralidade diante dos problemas do Oriente Médio.

A Anistia verificou um índice de desemprego muito maior dos muçulmanos em relação à média dos países do Continente.

A discriminação em função da religião é maior no que se refere às mulheres muçulmanas de origem estrangeira. As estudantes muçulmanas são impedidas de usar véus ou outras vestes tradicionais nas escolas de países como a Espanha, a França, a Bélgica e a Holanda. O relatório também critica a proibição, na Suíça, da construção de minaretes nas mesquitas.

Na região da Catalunha, na Espanha, muitos muçulmanos foram obrigados a rezar ao ar livre porque as autoridades locais rejeitaram o pedido de se construírem mesquitas, sob a alegação de ser incompatível com as tradições e a cultura catalãs.

"Em vez de esconder esses preconceitos, partidos políticos e autoridades públicas freqüentemente os alardeiam na sua busca por votos", disse Marco Perolin, expert em discriminação da Anistia Internacional, referindo-se ao que acontece na França, Espanha, Bélgica, Holanda e Suíça.

De fato, a estratégia eleitoral de Marine Le Pen foi centrada na crítica às leis de emigração, exigindo maior rigor e colocando os franco-árabes muçulmanos como um corpo estranho e danoso ao país.

E não somente ela: Sarkozy também lançou mão da carta do anti-islamismo, quando usou eleitoralmente o horror despertado pelo assassino em série de origem árabe para mandar prender uma porção de muçulmanos sob acusação de terrorismo - aliás, não provada.

E teve êxito: estava 4% atrás de Hollande e, com seus apelos racistas, cresceu e acabou apenas com 1% a menos de votos do que o adversário. A grande votação de Marine Le Pen mostra a força do racismo anti-islâmico e do fascismo no país.

Tanto Hollande quanto Sarkozy podem ser considerados homens do sistema. Sarkozy não pode prometer crescimento, uma vez que, ao lado de Angela Merkel, impôs a austeridade como única saída para a Europa em crise. Se ganhar, o que se pode esperar dele é não mais do que o mesmo. Já Hollande quer reformar o sistema, com algumas idéias arrojadas, como cobrar 75% de imposto dos mais ricos, que deverão pagar pela solução da crise.

O que Roosevelt fez para tirar os EUA do buraco não foi muito diferente. Seja quem for eleito no segundo turno, a oposição mais forte que terá de enfrentar será a da Frente Nacional e seu racismo, empolgantes para um em cada cinco franceses.

Luiz Eça é jornalista.


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