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Hoje Pinheirinho, amanhã Belo Monte

fhcdilmaBrasil - Diário Liberdade - [Paulo Gustavo Roman] É difícil acreditar que o massacre que ocorreu no domingo, no Pinheirinho, tenha sido obra única e exclusivamente do governo do estado de São Paulo e do judiciário do estado. A morte de 7 pessoas, sendo uma delas uma criança de 3 anos, e centenas de feridos indica a brutalidade que a polícia militar agiu no dia 22 de janeiro de 2012, na desocupação do Pinheirinho.


Foto: Dilma Rousseff se diverte com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante discurso do vice-presidente Michel Temer, em São Paulo. Dilma foi homenageada na Prefeitura de São Paulo pelo prefeito Gilberto Kassab com a medalha 25 de Janeiro. O governador Geraldo Alckmin, responsável pelo massacre do Pinheirinho, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chefe do PSDB, também foram agraciados.

No momento em que o Brasil está ganhando projeção internacional com o crescimento da economia e o “fenômeno” Lula, não seria demasiado arriscado não interferir no massacre levado a cabo pelo governo do estado de São Paulo? O que está por trás do massacre do Pinheirinho? Será que podemos ver uma possível conciliação entre PSDB e PT justamente quando as lutas por moradia se fortaleceram no país por causa da Copa do Mundo? O quê o PT tem a ganhar em varrer para debaixo do tapete o massacre do Pinheirinho, no qual tem o governo do estado – seu maior opositor nas urnas – como principal responsável?

Antes de responder tais questões será necessário lançar luz aos últimos eventos e discursos dos representantes dos dois partidos. Em junho de 2011, Dilma enviou uma carta ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na qual lhe parabenizava por seus 80 anos de vida e também saudava a sua contribuição decisiva “para a consolidação da estabilidade econômica”, diz Dilma na carta. O ex-presidente viu na carta muito mais que um gesto político, mas um gesto de conciliação, segundo suas próprias palavras “foi um gesto para dizer: olha somos todos brasileiros, em alguns pontos temos de nos entender.

Há poucos dias, o ex-presidente FHC concedeu uma entrevista para o The Economist, além da polêmica do posicionamento do ex-presidente a favor de Aécio Neves – ex-governador de Minas Gerais – e contra uma possível candidatura do ex-governador José Serra à Presidência da República. O ex-presidente disse ter sonhado com uma conciliação entre o PT e o PSDB, conta também que era próximo de Lula, mas por questões eleitorais esta conciliação não foi possível, no entanto, a relação que mantém com a Dilma é diferente da relação que mantém com o Lula. Na entrevista FHC apontou para questões que ultrapassariam os interesses partidários em nome do interesse nacional, ele disse o seguinte: “Que fazer com a energia? Que fazer com a educação? Como criar melhores oportunidades para nossa infraestrutura, com o governo e o setor privado trabalhando juntos? Como chegar a um consenso sobre o meio ambiente? É tão óbvio. Essas não são questões partidárias, mas nacionais.

Ao ressaltar a necessidade de uma conciliação entre os partidos – PT e PSDB – o ex-presidente também disse que as diferenças entre ambos se dão somente no plano eleitoral, pois, segundo ele, no “discurso eleitoral é diferente, claro, porque você tem que sinalizar que é diferente. Mas na prática não é – o que dificulta a oposição”. Claro que a aproximação buscada pelo PSDB envolve os descaminhos que a oposição enfrenta hoje, na medida em que o PT “aprimorou” o projeto do PSDB, seguiu privatizando o Estado, dando total respaldo ao agronegócio com o novo Código Florestal e o investimento neste campo, como também conseguiu – o que o PSDB não tinha conseguido – frear as lutas dos trabalhadores e com alguns programas sociais conseguiu a aprovação das classes menos favorecidas. Esse duplo jogo que o PT colocou em prática nos dois primeiros mandatos é o que o PSDB não conseguiu fazer.

No entanto, hoje o cenário mudou. Saiu o Lula e entrou a Dilma, o histórico sindicalista salgou a terra por onde passou, a CUT nos dois primeiros mandatos impediu em nome da governabilidade as greves e manifestações contra o governo, sempre nos lembrando que poderia ser pior com o PSDB. Mas com a chegada da Dilma ao Planalto, uma tecnocrata sem manejo político, as coisas mudaram de figura. É justamente o seu perfil administrador e técnico, que foi exaltado por Fernando Henrique Cardoso, por ela estar supostamente “acima das questões ideológicas”, que será possível uma conciliação entre PT e PSDB. Com isso não quero dizer que Lula permanece ainda no terreno da justificação teórica para o plano prático. Lula presidente é o cara da carta aos brasileiros, este já indica um plano nacional de conciliação que, no entanto, não poderia ser levado a cabo até as suas últimas consequência pois Lula ainda tinha uma imagem presa ao seu passado como sindicalista. Posição diferente da qual goza Dilma, que foi eleita justamente por ter “know-how”.

Cabe enfatizar que o governo Dilma aprofundou o projeto deixado pelo governo Lula. O projeto de conciliação de classes que está a ponto de se quebrar. O maior sintoma deste projeto, que não é um projeto só do PT, mas um projeto da classe dominante brasileira – cabe ressaltar –, foi a criação do PSD (Partido Social Democrático) pelo prefeito da cidade de São Paulo, Gilberto Kassab. Este partido se propõe a ser uma ponte entre o PT e PSDB, um partido que nasce “livre das ideologias” e com uma grande aceitação dos dois maiores polos eleitorais.

Portanto, esse realinhamento da classe dominante no Brasil é extremamente preocupante, pois indica um reagrupamento do poder que envolve partidos políticos, o judiciário, exército, polícia e meios de comunicação. A cobertura da mídia no massacre do Pinheirinho demonstra o grau de subserviência e de comprometimento com os interesses da classe dominante. Só depois de muitos vídeos, fotos e relatos postados na internet é que o cenário começou a mudar – mesmo que timidamente – já é possível ler na Folha, no Estadão ou na Vanguarda (TV afiliada da Rede Globo no Vale do Paraíba) os abusos da polícia no caso do Pinheirinho.

Pode-se notar que o Pinheirinho não foi um caso isolado, o projeto de conciliação da classe dominante caminha a passos largos. Novos pinheirinhos virão. Hoje foi o governo federal quem camuflou o massacre, pois tem plena consciência que precisará usar o mesmo nível de força para dominar a resistência às barragens de Belo Monte. Assim como os governos estaduais terão que usar cada vez mais a força para retirar as populações que vivem nos locais pretendidos para serem utilizados pela Copa do Mundo de Futebol (os Comitês Populares da Copa estimam entre 150 a 170 mil famílias a serem despejadas ou que já foram despejadas). Compreender esse cenário é vital para a resistência e para a luta dos trabalhadores.

O Pinheirinho também demonstrou que a união dos setores comprometidos com os trabalhadores é possível. Faz-se necessário uma estratégia política que permita enfrentar a classe dominante, uma estratégia que agrupe os diversos movimentos sem que as peculiaridades destes sejam suprimidas. Uma calendário de lutas que dê organização para a classe trabalhadora e para os demais movimentos de resistência para que seja possível fazer frente à classe dominante.

Todo poder para o povo!

Paulo Gustavo Roman é mestrando em Filfosofia pela UFPR e testemunhou o massacre do Pinheirinho


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