O Miguel Macedo resolveu o seu dilema. Ao invés de se demitir, demitiu o director nacional da PSP Guedes da Silva e com ele toda a direcção, um dos vértices da estratégia dos provocadores infiltrados.
Pelos factos descritos, denunciados e sobejamente debatidos por estas e por outras bandas, a notícia terá que ser celebrada, mas importa lembrar que a festa ainda vai no adro.
Antes de mais é preciso dizer que não foi o Miguel Macedo que exonerou o Guedes da Silva e a Direcção Nacional da PSP. O Guedes da Silva e a Direcção Nacional da PSP exoneraram-se a si próprios ao criarem os factos que justificam a demissão de qualquer funcionário público. Por isso mesmo, e porque as "várias questões" de que o Miguel Macedo fala tiveram outros actores envolvidos, é fundamental não esquecer que ainda só foi castigada uma parte dos trambolhos violentos que cometeram e desenharam os crimes cometidos a 15 de Outubro e a 24 de Novembro. Do Miguel Macedo, o topo da cadeia de comando, aos agentes envolvidos, muita água ainda vai ter que correr para que todos assumam as suas responsabilidades.
O Miguel Macedo e o Passos Coelho aproveitaram o caso para substituir um homem e uma direcção que vinham do tempo do Rui Pereira e do José Sócrates, e esperam que esse dado oculte as explicações que quer a direcção cessante quer a que irá tomar posse têm ainda que fazer, seja na praça pública, seja na barra do tribunal.
O facto da decisão ter sido tomada dois dias depois dos acontecimentos da manifestação do passado dia 21 de Janeiro, precisamente quando começam a surgir relatos e elementos que sugerem a articulação de agentes da PSP com os provocadores fascistas, adensa a inquietação que obriga o Miguel Macedo a dar mais explicações.
Até que novos dados se comprovem, Guedes da Silva tem a obrigação de dizer tudo o que sabe. É isso que qualquer director a quem sobre um pingo de dignidade faz quando é demitido. Não deve poupar quem pretende deixar sobre os seus ombros e sobre a sua direcção toda a responsabilidade. De onde vieram as ordens, o que pretendem e em que pé está o inquérito interno, aberto à data dos acontecimentos?
A investigação levada a cabo por centenas de activistas bem como a sua capacidade de gerar um movimento de denúncia sem paralelo, foi determinante. A título de exemplo, só no 5dias e em pouco mais de dois dias, 50 mil page viewers passaram por aqui, sendo que perto de dez mil encontrou razões para partilhar a informação. Se somarmos todos os outros blogues envolvidos, bem como o feito de arrasto da comunicação social, a audiência atingiu valores que dizem bem da clareza das provas apresentadas.
Um brinde especial aos autores materiais das imagens, aos que editaram e cruzaram os elementos que foram recolhidos a partir da comunicação social e aos primeiros jornalistas a vencer o medo de publicar o material apresentado na rede. Enquanto assim quiserem a sua identidade permanecerá sem ser revelada, mas o seu mérito não pode nem merece ser esquecido. Hoje por hoje isto pode ser apenas uma vitória de alcance limitado, é certo, mas num tempo em que nos querem habituar à derrota esta demissão constitui um excelente tónico e um verdadeiro estímulo à persistência que urge cultivar para conquistar as exonerações que estão por vir.
De impeachment em impeachment, é possível impor o impeachment final!