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A intensa forma da vitória

Celso Álvarez Cáccamo

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A intensa forma da vitória

Celso Álvarez Cáccamo - Publicado: Segunda, 29 Agosto 2011 23:54

Celso Álvarez-Cáccamo

Deve ser assim, tal como o instruíam os maiores na nossa mocidade, quando se forma o primeiro pensamento político pola observação elementar da injustiça e da miséria. Deveu ser sempre assim e não o sabíamos, quando nos diziam: "És jovem. Está bem que lutes polos teus ideais enquanto tenhas energia. Mas saberás que o mundo não é assim. A Revolta que imaginas não existe. Algo ficará do que fazes, mas a mudança é lenta. Logo instaura-se em ti o realismo. Claro que sim, luta agora polo que julgues justo. Mas não creias que o conseguirás em vida, ou sofrerás mais".


Deveu ser sempre assim e não o sabíamos, enquanto íamos cultivando as formas constantes da derrota como o nosso sucesso mais prezado, a nossa única manufatura coletiva. Mas tanta derrota fatiga. E, afinal, sabes?, impõe-se o realismo. Deve ser um mecanismo psíquico muito poderoso, e não o sabemos: se não podes vencer no que pensas, vence unindo-te ao contrário do que pensas e daquilo polo que lutas. Terás assim certeza da vitória, e disporás de muitas maneiras de fazer racional tal desatino. Dirás que, na verdade, pensas igual que antes, embora pareça que ages ao contrário. Ou dirás que é o mundo que mudou, não tu. Que, na realidade, um mesmo ideal pode tomar formas tão variadas que só uma análise simplista não reconhece a sua identidade. Que aquele comunismo libertário morreu, que aquele pacifismo extremo hoje é suicida, que aquele feminismo de raiz é já desnecessário. Por isso, falar como antes, dirás, é obsoleto, o mais oposto ao progresso. Deve ser assim que vai crescendo dentro, onde se forja o ser cada vez mais próximo da morte, essa ansiada sensação de vitória íntima, que nos ocupa e atrai desde a mocidade ilusa. Aprenderás que, afinal, não se amava o alvo inatingível: amava-se a própria sensação de vitória.

Por isso agora, sabes?, é preciso obedecer para vencer. Resistir o curso da vitória é fútil. Pactar as formas da opressão e da morte é a única saída para vencer, por fim, como queríamos. Porque não são opressão nem morte: são as formas atuais da liberdade e da vida, não sabias? Não tenhas tanta ingenuidade: as palavras apenas são cascas, não sejas fetichista. E, sobretudo, resta-che o consolo duma grande missão: após de nós, felizmente, vão marchando outras gerações com ilusão antiga, a quem devemos instruir no exato protocolo. Devemos dizer-lhes, como fizeram connosco: "És jovem. Luta, claro, luta enquanto tenhas energia, porque é uma forma de beleza. Eu também o fiz. Mas, se quiseres, também podes deter-te e observar-me. Eu já tenho idade, mas sou contente porque por fim triunfei contra mim, como cumpria".

Deveu ser sempre assim desde que nasceu o ovo da serpente, e não o sabíamos. O procedimento é fácil. Inclina o pescoço. Tens direito a escolher o instrumento. Em qualquer caso, não temas: será rápido. Enfrente dos teus olhos passará feliz toda a tua vida, como uma canção comum que te fazia estremecer de liberdade.

Fonte: Desde a margem.


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