Os jovens dos diferentes níveis de ensino, liderados pelas federações universitárias e pelo Colégio de Professores, tomarão novamente a Alameda de Santiago nesta quinta-feira em rejeição à educação de mercado implantada pela ditadura militar de Augusto Pinochet (1973-1990).
No meio do atolamento do atual conflito, os manifestantes exigem um plebiscito que conduza à realização da vontade da cidadania, que segundo recentes pesquisas favorece em mais de 80 por cento o papel garantidor do Estado numa educação pública, gratuita e de qualidade.
Para a dirigente estudantil Camila Vallejo, a educação em seu país deve deixar de ser um produto de mercado e retomar seu caráter social e universal.
A presidenta da Federação de Estudantes da Universidade do Chile afirmou que o modelo neoliberal na educação "não foi tocado" nos últimos 20 anos, e hoje é um dos mais desiguais e injustos do planeta.
Especialistas no assunto sustentam também que a modalidade de crédito universitário com aval do Estado agravou a situação de superendividamento das famílias e levou muitos estudantes de menos rendimentos que acessam as universidades por este meio a não poderem concluir suas carreiras ou se graduarem com dívidas milionárias.
Enquanto isso, o governo de Sebastián Piñera fez uma nova tentativa de destravar o conflito ao apresentar ontem uma nova proposta que contém diminuição de juros creditícios, entre outras medidas.
No entanto, os porta-vozes do já neste momento movimento cidadão coincidiram em que a iniciativa "deixa muitas dúvidas e vazios" em temas como o lucro, a desmunicipalização e a qualidade da educação.
Temos sido claros em que queremos avançar para a gratuidade e não fica explícito se os setores mais vulneráveis vão estudar de maneira gratuita, comentou Vallejo.
Estamos há três meses mobilizados e nossa luta é pelo fim do lucro no sistema, remarcou.
Na opinião do fundador do Movimento Amplo Social, o senador Alejandro Navarro, o ministro da questionada pasta, Felipe Bulnes, não avançou um milímetro no que solicitaram os estudantes. "Não se trata de regular o lucro, se trata de acabar com o lucro", enfatizou.
O que se pede são mudanças estruturais do sistema educativo chileno. Enquanto o governo não entender isso vão ser difíceis as soluções, disse também o deputado e presidente do Partido Comunista do Chile, Guillermo Teillier.
Em recente editorial a revista chilena Ponto Final advertiu que o Executivo só oferece saídas pela metade e lança mão de medidas de contenção do protesto estudantil com promessas e declaração de intenções que deixam como está o anquilosado sistema educacional imposto pelo pinochetismo.