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País Basco: Solidão e Nação

Raphael Tsavkko Garcia

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Defenderei a casa de meu pai

País Basco: Solidão e Nação

Raphael Tsavkko Garcia - Publicado: Sexta, 08 Julho 2011 11:17

Raphael Tsavkko

Alguns de meus leitores devem saber que no começo de junho fui fazer uma visita ao País Basco. Fui coletar material para começar a escrever minha dissertação de mestrado, que trata também de nacionalismo basco e especialmente de questões identitárias. Fui esperando comprovar algumas teorias e aprender, e não imaginei que aprenderia tanto.


Por esta razão a coluna ficou suspensa por tanto tempo. Hoje a retomo, pretendendo torná-la quinzenal.

De início, me deparei com a cidade mais bela que já tinha visto, Bilbao. Primeira impressão talvez contaminada pela minha paixão pela cidade, algo que nunca consegui explicar, um sentimento que me persegue desde o fim da infância.

Caminhar por todo o centro, por Deusto, por toda a Ría que corta a cidade. Tomar uma Estrella Galicia ao lado do Guggenheim com a maravilhosa vista da Universidade de Deusto e caminhar pelas pequenas ruas do Casco Viejo, parando em cada bar para comer um pintxo e saborear um txacoli.

Um povo simpático, sempre tentando ajudar um turista perdido e perdendo alguns minutos para conversar sobre sua terra, sempre com um prazer imenso na voz e a clara satisfação de apresentar uma cidade que adoram.

Fui a Donostia, uma bela cidade, Bermeo, acolhedora e Gernika, uma emoção indescritível: Uma pequena cidade marcada pela guerra que se reergueu e hoje serve de lição para o mundo.

Fui ao País Basco e aprendi muito.

Conheci pessoalmente o professor Pedro Oiarzabal que, espero, venha a ser meu orientador de doutorado futuramente. Trocamos muitas idéias, conversamos sobre projetos...

Devo agradecer - e muito - ao meu amigo Paul Rios, da organização Lokarri, com quem passei um dia inteiro, com quem fiz uma proveitosa viagem a Donostia de carro e com quem pude (e a convite dele) participar de um ato político do Bildu, o partido nacionalista basco por qual eu nutro imensa simpatia.

Conhecer importantes militantes políticos, nacionalistas, feministas e parlamentares de esquerda no ato no Kursaal de Donostia foi mais do que eu esperava de minha visita.

Mas o principal, sem dúvida, foi poder ter algumas horas para conversar sobre o que é ser basco. Sobre este sentimento, esta identidade tão única, mais até do que eu imaginava.

Sempre havia pensado, por estudar tanto sobre a questão da identidade, que os bascos eram apenas mais um povo oprimido lutando por sua terra, mas sem grandes diferenças práticas entre todos os demais povos orpimidos, como catalães, bretões, corsos e etc...

Estava enganado, há muito mais!

Existe a solidão, o isolamento.

Os Bascos, para quem não sabe, são um povo único. Falam uma língua única, sem qualquer parentesco com nenhum vizinho - na verdade com nenhuma outra língua no mundo. São, talvez, o povo mais antigo a habitar a Europa e, neste meio tempo, nunca foram efetivamente conquistados (apenas no século XVIII-XIX a Espanha conseguiu efetivamente dominá-los) e sempre mantiveram sua identidade protegida. Seus mitos, lendas, costumes, cultura.... e sua língua.

Esta "unicidade" os faz sentir-se isolados. até mesmo solitários, mesmo em meio à toda uma Europa em processo de integração (ainda que hoje fale-se em desagregação graças às crises econômicas).

Para compreender este sentimento imaginem os brasileiros e os argentinos. Somos vizinhos, conseguimos nos compreender, em determinadas épocas tentamos nos aproximar, seja cultural ou politicamente. Temos histórias em comum (o sul do país e regiões da Argentina, inclusive, tem culturas muito próximas e história em comum), proximidade, nos identificamos com os argentinos e eles conosco, mesmo que para muitos pareça que nossa relação se limite a um suposto ódio esportivo.

Mas para os bascos, não existe esta argentina. Existem apenas dois Estados vizinhos que por séculos tentaram eliminá-los, privá-los de sua cultura e que, mesmo assim não conseguiram. Antes deles foram outros povos, reinos, invasores que tentaram eliminar completamente os bascos da terra, subjugá-los.

E ainda assim estes permaneceram firmes. Seguros em suas tradições, unidos em sua cultura. Mas isolados. Sabendo que eram diferentes, que não falavam nada próxima ao Francês, ao Espanhol ou ao Provençal (ou Gascão nesta região) mais próximo ou mesmo ao Catalão, que tanto compartilha em termos de solidariedade nacionalista.

Os bascos são bascos.

E é, em grande parte, este sentimento de serem únicos que os motivou a resistir e que funciona como motor de sua identidade.

É este sentimento que permeia mesmo aqueles que nem sequer se consideram nacionalistas, mas tem amor por sua terra e querem manter viva sua cultura. Um "Basquismo" (não confundir com a definição política do termo que, por exemplo, adota o Batzarre e o Zutik e outros setores bascos) que liga toda a sociedade ou pelo menos a maioria dela.

Era possível sentir, enquanto conversava com Paul, uma melancolia em suas palavras, assim como uma tenaz resignação e ao mesmo tempo um amor indiscutível por sua pátria.

Enfim, foi uma viagem marcante, que me fez amar ainda mais aquela terra - que eu já amava antes sequer de conhecer! E tenho muito a agradecer, outra vez, a Paul.


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