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RAG descarta Carvalho, mas um reintegracionista protagonizará o 17 de Maio: Valentim Paz Andrade

040611_paz_andradeGaliza - Diário Liberdade - Nom houvo surpresas. A Real Academia Galega (RAG) voltou a descartar Ricardo Carvalho Calero, contra o que é um clamor no mundo cultural e normalizador.


Tal como "anunciárom", sucessivamente, diferentes representantes do mundo cultural oficialista ligados ao isolacionismo militante, Ricardo Carvalho Calero, primeiro catedrático de Língua e Literatura Galega, militante republicano de esquerda, defensor da soberania nacional e lingüística galega, voltou a ser "punido" pola entidade que preside Xosé Luís Mendes Ferrim. O último a atacar o autor ferrolano, polo seu compromisso reintegracionista, foi Ramón Lorenzo, que, com o maior descaramento, o acusou de ter feito "muito mal à língua", por assumir e defender o ideário histórico do nosso nacionalismo em matéria lingüística.

De facto, e como melhor prova do que afirmamos, o protagonista do próximo 17 de Maio vai ser Valentim Paz Andrade, representante do pensamento tradicional galeguista, defensor de umha orientaçom reintegracionista para o galego. É complicado para a Real Academia Galega de Mendes Ferrim e Ramón Lorenzo, cada vez que tenhem que eleger protagonista para o Dia das Letras Galegas, evitar personalidades reintegracionistas no mundo cultural e literário tradicional galego.

Curiosamente, a notícia da eleiçom de Paz Andrade foi oferecida inicialmente em espanhol polo jornal digital 'Galicia Hoxe', que posteriormente mudou o texto por um outro na nossa língua.

Empresário galeguista

Valentim Paz Andrade é autor poético e ensaístico, destacando também polas suas iniciativas de caráter empresarial em favor da cultural galega inclusive durante a ditadura franquista. Representa, além disso, um dos raros representantes da burguesia galeguista, promotor de projetos culturais normalizadores.

Nascido em 1898, a sua longa trajetória estivo marcada polo compromisso galeguista. Junto a Castelao e Ramom Cabanilhas, fijo parte das listas eleitorais da Candidatura Galeguista. Integrou logo as fileiras do Partido Galeguista, chegando a ocupar o cargo de secretário em 1934. Com Carvalho Calero, colaborou na redaçom do Anteprojeto de Estatuto da Galiza apresentado em 1931 polo Seminário de Estudos Galegos.

Durante a ditadura, foi desterrado a diferentes pontos da Galiza e mesmo do estrangeiro (Villanueva de la Serena, Badajoz, Espanha), bem como detido pola sua atividade em favor das ideias galeguistas, mesmo que fosse ligando-as à sua extraçom social burguesa. Dirigiu revistas, exerceu como advogado e como empresário, chegando a impulsionar o grupo industrial Pescanova, convertido na primeira companhia armadora europeia de barcos congeladores, na década de 60 do passado século.

Ajudou perseguidos políticos e mantivo o vínculo com os círculos galeguistas, nomeadamente os artísticos, até o fim da ditadura. Depois, participou em diferentes iniciativas políticas ligadas à direita galeguista, chegando a ser eleito senador em 1977 pola "Candidatura Democrática Galega".

Poeta, ensaísta...

A sua obra como autor literário destaca sobretodo na poesia, com quatro poemários, e como ensaísta, alternando neste género o uso do galego com o do espanhol. Também escreveu umha obra narrativa em 1921, que permanece inédita (Soldado da morte).

Tempo haverá para divulgar os seus valores como literato. Ficamos agora com umha caraterística que define a grande maioria de autores e autoras que já protagonizárom o Dia das Letras Galegas: a sua defesa da unidade lingüística galego-portuguesa.

... e reintegracionista

Recorremos a Martinho Monteiro Santalha, o estudioso e presidente da Academia Galega da Lingua Portuguesa, para apresentar algumhas provas documentais das convicçons reintegracionistas de Paz Andrade:

1959: Valentim Paz Andrade: Galícia como tarefa. Buenos Aires, Ediciones Galicia

(Traduçom do Diário Liberdade)

"[...] Dada a identidade estrutural que conservam o português e o galego, reciprocamente inteligívels. Trata-se de umha língua com a qual podem entender-se hoje mihons e milhons de pessoas, embora o falem com diferente sotaque ou escrevam de forma diferente certo número de vocábulos. No cômputo, compreendem-se as populaçons da Galiza, Portugal -com as suas colónias- e o Brasil. (pp. 138-139).

"[...] que o mesmo idioma se module com diferente sotaque e até que um certo número de palavras e giros se pronunciem ou construam diferentemente na Galiza, Portugal e Brasil tem umha importáncia secundária. Nunca poderá explicar satisfatoriamente a desconexom prática entre o ramo galaico e o luso do idioma comum. E muito menos, a orientaçom do problema, fechando as suas perspetivas dentro do quadro regional e do conceito vernacular do idioma. [...]

"Toda posiçom que supuger desconhecimento da unidade estrutural deve, neste caso, ser rejeitada por falsa".

"Portanto, nom pode parecer razoável qualquer tendência que reduzir o problema à reabilitaçom literária de umha língua retardada na sua forma escrita, fazendo caso omisso, ou pouco menos, da evoluçom que experimentou durante séculos de uso múltiplo e pleno, fora da área de origem. Muito mais construtuva seria a tendência à assimilaçom das vozes necessárias, cujo uso é normal no outro ramo da mesma árvore lingüística" (pp.145-146)

1968: Valentín Paz-Andrade, «A evolución trans-continental da lingua galaico-portuguesa», em: [VÁRIOS], O porvir da lingua galega, Lugo: Círculo de las Artes 1968, 166 pp., pp. 115-132:

(Adaptaçom ortográfica do Diário Liberdade)

"Que caminho deve escolher a Galiza para ajustar a futura evoluçom da sua língua? [...] Nom pode de algum jeito estar reclamando certa virada no rumo da política interna do idioma? [...] O galego há de seguir mantendo umha linha autónoma na sua evoluçom como idioma, ou há de pender a mais estreita similaridade com a língua falada, e sobretodo escrita, de Portugal e o Brasil? [...]

"Nom se pretende chegar à unificaçom literal. Mais trata-se de conter a dissociaçom, fazendo os ajustes necessários para aproveitar as vantagens mútuas que um intercámbio permanente poderia proporcionar. A ninguém se oculta que, da parte da Galiza, há a ganhar muito mais que a perder, se a relaçom entre umha e outra fala se avivece e sustenta (pág. 131).

"Que sorte de cegueira pode ainda hoje, com a melhor intençom, seguir fechando as portas do idioma, abertas cara à sua mais grandiosa floraçom humana e literária? Talvez estejamos diante do nó mais tolhedor da cultura galega, aínda que muitos nom tenham reparado nele" (Epistolário (1997), pág. 196).

Como se vê, e seguindo os preconceitos do "ilustre académico" Ramom Lorenzo, Valentim Paz Andrade entra plenamente na categoria dos que, como Carvalho Calero, "figérom tanto dano à língua", se por tal entendermos discordar da linha marcada polas instáncias políticas espanholas, separadoras da unidade lingüística galego-lusa-brasileira que o galeguismo, o nacionalismo e o independentismo galego sempre defendêrom.


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