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Príncipe? Príncipe do cacete!

Antônio Ribeiro

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Opinião Crítica

Príncipe? Príncipe do cacete!

Antônio Ribeiro - Publicado: Terça, 26 Abril 2011 02:00

Antônio Ribeiro

A família real britânica custa aos contribuintes mais de 50 milhões de libras anuais (60,3 milhões de euros, 72,1 milhões de dólares, aproximadamente), nos dias atuais.


Enquanto isso, o governo conservador promove cortes nos gastos públicos, penalizando a maioria da população.

A mídia burguesa, todavia, promove o glamour dessa realeza inútil. O povo embarca nessa, e vibra com o casamento do futuro príncipe com a plebéia.

Para a cerimônia – paga pelo proletariado britânico – foram convidadas várias personalidades conhecidas. Também estarão "presentes" convidados que somente os membros da inútil realeza britânica verão: os extraterrestres

Como brasileiro, vivo em um País onde há reis de tudo: do futebol à música brega, passando por reis da cocada preta e outros monarcas inusitados.

Até mesmo as escolas de samba têm rainhas da bateria.

Os "reis" brasileiros, inclusive os Orleans e Bragança, supostos herdeiros da coroa brasileira, nada apitam!

A eles fica bem uma música popular antiga "Que rei sou eu"?

God shave the Queen (Deus barbeie a raínha)

Em 1968, pouco antes da edição do famigerado AI-5 pela ditadura militar, a rainha Elizabeth II da Inglaterra visitou São Paulo.

Com a presença da monarca, inaugurou-se em 7 de novembro de 1968, a nova sede do Museu de Arte de São Paulo (MASP) , na Avenida Paulista.

Hospedada em um hotel próximo, a rainha Elizabeth II teria que passar defronte a um prédio situado na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, para se dirigir ao local da festividade.

Naquele prédio, havia vários andares vagos para alugar.

Celso, auxiliar contábil em uma empresa de publicidade, era antimonarquista até a medula. Acordara bem disposto, na antevéspera da passagem da comitiva real. Admirando os raios solares que penetravam pela janela, resolveu protestar contra a visita da rainha.

Depois de muitas conjecturas, bolou que o protesto seria através de uma faixa com os dizeres: God shave the Queen.

O plano de elaboração da faixa foi exposto a Miguel, refugiado da ditadura salazarista, desenhista na mesma empresa em que Celso trabalhava. Todavia, o inglês claudicante de Celso deu a entender que seria escrito save, causando indignação no desenhista.

— "Não gosto de padres, reis, príncipes e rainhas. Portanto não o ajudarei na homenagem", protestou Miguel. Tenho como lema o seguinte: "O mundo (ou o homem) só será livre (ou deixará de ser miserável) quando o último rei (ou déspota) for enforcado nas tripas do último padre" conforme, parece, falou Diderot.

Conhecedor da precariedade de seu inglês, Celso escreveu a frase em um papel. Esclarecida a situação, Miguel elaborou com capricho a faixa.

Mas, como colocá-la em um dos andares vazios do prédio?

Os beleguins da ditadura militar estavam a postos. Agiriam com presteza, sem dúvida. Miguel colocou em prática uma idéia que considerou brilhante: foi ao Largo do Paissandu no centro da paulicéia, em um bar freqüentado por biscateiros.

Indagou se alguém aceitaria fazer bico.

Sebastião, mestre-sala da Escola de Samba Nenê de Vila Matilde topou, recebendo a proposta:

— Dou-lhe agora quarenta cruzeiros em dinheiro. Você entrega vinte cruzeiros ao zelador do prédio situado na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, 1833, para que ele permita a colocação desta faixa em homenagem à rainha da Inglaterra.

— E o inquilino, doutor?

—Coloque-a em um dos conjuntos vagos.

— Receberei só vinte cruzeiros, doutor?

— Darei mais trinta cruzeiros, quando o serviço estiver pronto.

"Onde vou receber o restante do dinheiro", indagou Sebastião.

—Mando um portador entregá-lo a você neste bar.

(O jovem informou que se chamava Plínio e morava na cidade de Jundiaí).

Sebastião colocou a faixa no terceiro andar, à vista da rainha. Quando a monarca desfilou em carro aberto, a polícia ficou atônita, mas não agiu de imediato.

No dia seguinte, vários agentes da polícia política desceram das viaturas. Dirigiram-se prédio. A batida - como eles diziam em sua escrota gíria - era para prender o zelador Leôncio.

Ele era pobre migrante nordestino, o bode expiatório perfeito. O síndico do prédio era coronel reformado do exército, portanto impoluto. Como afirmou o gordo tira que chefiava a operação, "imprendível".

Prenderam o zelador. Retiraram a faixa do terceiro andar, prova material indispensável.

Encaminhando ao Dops, o delegado de polícia de plantão interrogou o zelador:

—Porque você ofendeu a rainha?

—Não ofendi doutor. "Nem conheço a mulher", respondeu Leôncio.

— Não minta comunista safado!

—Doutor, a única rainha que conheço é a Zilda, da bateria da escola de samba que freqüento.

(Um dos policiais, que dava garantia ao delegado, ameaçou agredir o preso indefeso e o delegado impediu).

—Você sabe o que está escrito naquela faixa?

"Joaquim, da Escola de Samba Vai-Vai, informou que era homenagem à rainha. Pagou-me vinte cruzeiros. Permiti que a faixa fosse colocada no décimo andar porque com o dinheiro comprei remédios para minha mulher asmática", explicou Leôncio.

—Pode informar o endereço do Joaquim?

—"Nunca tinha visto ele" antes. A primeira vez foi quando ele foi ao prédio dizendo que era o Joaquim da Escola de Samba Vai-Vai do Bexiga. Pediu para colocar a faixa em homenagem à rainha". "Se mal sei rabiscar meu nome", como iria entender língua das estranjas?", indagou Leôncio.

"Imbecil, aqui está escrito "Deus barbeie a rainha", informou o delegado, que tinha a faixa aberta em seu gabinete.

—Doutor, nem sabia que a mulher tinha barba!

O inteligente delegado de polícia (existem!) percebeu que estava tratando com sujeito simplório.

Deixou Leôncio preso por algumas horas.

Depois mandou soltá-lo ileso, sem sofrer arranhão, coisa rara naqueles tempos tenebrosos.

O delegado de polícia sentiu necessidade de desabafar. Chamou os tiras e gritou:

Caralho, estou cheio de problemas, e vem esta tal de rainha me dar trabalho. Vocês, imbecís, embarcam em canoa furada.

São todos incompetentes!


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