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Carlos Garrido: 'Ainda estamos a tempo de reverter o processo de substituiçom lingüística'

300311_carlos_garrido_manual_cientifico_2Galiza - PGL - [Vítor M. Lourenço Peres] Através Editora lança a segunda ediçom do pioneiro Manual de Galego Científico.


Carlos Garrido, presidente da Comissom Linguística da AGAL e professor de Traduçom Técnico-Centífica na Universidade de Vigo, lança agora a segunda ediçom do Manual de Galego Científico, de parceria com o especialista catalám Carles Riera e sob a chancela de Através Editora. Estivemos com ele para falarmos deste trabalho em particular e da situaçom da língua em geral.

Segunda ediçom de um manual de galego científico fora da órbita ILG-RAG. Além da satisfaçom pessoal, qual a reflexom que fas disso?

Em primeiro lugar, devo dizer que no plano pessoal é umha satisfaçom poder lançar umha segunda ediçom revista e muito acrescentada desta obra, que acho que representa umha interessante ferramenta para a difusom do galego especializado. Já no plano social, no entanto, nom podemos estar tam satisfeitos porque o galego-português, em geral, nom está a afiançar-se na nossa sociedade e, em particular, ele continua praticamente ausente da expressom técnico-científica.

E quando dizemos que o galego nom está a funcionar como veículo do discurso técnico-científico nom só estamos a lamentar de que a língua nom atue como instrumento expressivo da investigaçom, como também que ela continua ausente de funçons de larga repercussom social, como, por exemplo, do campo sanitário. Pensemos, por exemplo, que ainda nom existem bulas de medicamento escritas em galego, como também nom existe em galego-português da Galiza um género textual técnico-científico tam popular como o manual de instruçons de eletrodomésticos (costuma haver versão portuguesa, mas ela ainda nom é reconhecida a nível social como galega).

Essa ausência também se repercute em que quase nom haja textos do ámbito da didática e da divulgaçom da ciência escritos em galego-português da Galiza. A existência de tais textos no ámbito luso-brasileiro serviria para preencher esta lacuna, mas, por obscurantismo político, a sociedade galega está a ver-se impedida de usufruir esses recursos.

O que achega de novidoso esta segunda ediçom do Manual de Galego Científico a respeito da primeira?

A novidade fundamental consiste na incorporaçom de um extenso capítulo dedicado à morfossintaxe do galego especializado. Para o estudo da morfossintaxe do galego técnico-científico aplicamos umha estratégria de habilitaçom que é homologa da estratégia de habilitaçom lexical que expomos numha monografia da minha lavra que em breve virá a lume sob o título Léxico Galego: Degradaçom e Regeneraçom (Edições da Galiza).

Trata-se de umha estratégia que parte de umha modelizaçom integral da degradaçom lingüística e que se baseia numha sistemática descastelhanizaçom e simultánea coordenaçom com o luso-brasileiro. Como fruto dessa estratégia propomos incorporar ao galego umha série de estruturas morfossintáticas vigentes em luso-brasileiro que venhem a reforçar e a enriquecer a expressividade galega (perfectividade expandida, intensificaçom da passiva própria, elipses verbais, exploraçom funcional do infinitivo flexionado, etc.)

Naturalmente, para além do acréscimo deste capítulo de morfossintaxe, a publicaçom desta segunda ediçom também deu ensejo a acrescentarmos material novo nos domínios da prosódia e da morfologia lexical, de modo a aprofundarmos, por exemplo, o tratamento da acentuaçom dos termos e da conversom semántica (nominalizaçom do infinitivo, etc.).

Falarmos numha língua nos contextos da ciência e da técnica é falarmos, portanto, no léxico. Carlos, podemos concluir que o léxico reflete a saúde de umha língua?

Podemos, sem dúvida. A composiçom do léxico de uma determinada modalidade lingüística reflete fielmente a sua história e, sendo a história do galego umha história de degradaçom e de empobrecimento, o léxico nom podia ficar livre dessas tendências. O triste é que as medidas adotadas polo poder político e académico institucional para combater essa degradaçom lexical na prática se estejam a revelar inúteis.

Em geral regista-se umha subordinaçom mental ao castelhano que nem sequer é superada por esses usos institucionais do galego. Por exemplo, há agora uns cartazes difundidos por umha entidade oficial de promoçom da mulher que rezam: "Se te trata mal, maltrátate"; o que pode entender-se, naturalmente, como "Se te tratar mal, flagela-te a ti própria" (a formulaçom funcional seria "Se te tratar mal, é que ele te maltrata", o que quer dizer que os usos institucionais em galego continuam a surgir como servil e disfuncional traduçom do castelhano.

Tendo em conta isto, como ves entom a saúde do galego-português da Galiza? Nos dias de hoje podemos afirmar que existe como língua na Galiza?

Se por língua tivermos o conceito de veículo expressivo de umha sociedade completa, integral, devemos concluir que nom, que o galego nom está a funcionar como língua verdadeira. Umha prova em tal sentido é o que antes expúnhamos, a circunstáncia de o galego estar praticamente ausente da esfera técnico-científica, decisiva hoje e no próximo futuro para a nossa sociedade.

A esse respeito, é triste verificarmos como boa parte do galeguismo continua aferrada à defesa e promoçom exclusiva do ámbito literário, descuidando flagrantemente outros ámbitos de maior incidência social que poderiam revitalizar o galego, como nomeadamente o técnico-científico.

Neste sentido, por exemplo, é de lamentar que o novo plano de estudos da graduaçom em Traduçom e Interpretaçom da Universidade de Vigo, se nom houver umha correçom de última hora, vaia reduzir sensivelmente os créditos de traduçom técnico-científica para galego, mesmo com a anuência de pessoas que se reclamam galeguistas.

Conforme esta realidade que expós, podemos concluir que como comunidade lingüística na Galiza ainda temos futuro?

Ainda estando conscientes de que a situaçom sociolingüística para o galego é extremamente adversa, acho que ainda estamos a tempo de reverter este processo. Para isso cumpriria que imperasse o senso comum e que todas as forças galeguistas entrassem numha fase de frutífera colaboraçom em prol da língua, o que sem dúvida requereria da assunçom da unidade lingüística galego-portuguesa e, portanto, do aproveitamento social dos recursos que agora oferece a lusofonia, entre os quais, destacadamente, os do ámbito técnico-científico. Nesse sentido, esta segunda ediçom do Manual de Galego Científico pretende servir como estímulo e como subsídio para empreendermos esse caminho e para aplicarmos essa estratégia.


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