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O Feudalismo Digital: Blogueiros querem reconhecimento

280211_huffEstados Unidos - Editor's Web Blog - [Frederica Cherubini] "O Facebook não vai desaparecer, nem o Twitter ou o Tumblr. Sem ofensa, mas em um mundo perfeito, não teria qualquer uma dessas plataformas. Num mundo perfeito todos teriam seu próprio pedaço da rede, onde mandariam completamente.” Assim escreveu Anthony De Rosa, redator chefe da Reuters Media, em janeiro.


“Nós vivemos em um mundo de feudalismo digital”, continua. “A terra onde muitos vivem é propriedade de alguém, seja o Facebook, o Twitter ou o Tumblr, ou qualquer outro serviço que oferece que oferece terra livre ao usuário que, por sua vez, produz o conteúdo necessário para a sobrevivência desta terra”. 

David Carr, refletindo sobre o tema, no New York Times, aponta um grande contraste, ao menos teoricamente: US$ 50 bi é o valor estimado para o Facebook, o Twitter é avaliado em algo em torno de 10 bi de dólares, o Tumblr e o Quora são igualmente avaliados e o Huffington Post será vendido por US$ 315 mi para a AOL, estando entre as maiores concentrações da história empresarial americana. Em contrapartida, muitos dos valores agregados a essas marcas são criados gratuitamente pelas pessoas, disse ele.

(Se estamos diante de uma bolha 2.0 pronta a estourar, no entanto, é outra história.)

Há duas principais questões para se considerar:

Por um lado, nós estamos acostumados a pensar em conteúdo como mercadoria, que se pode ter de graça por meio de redes de compartilhamento em redes sociais (a propósito, tem que se ter em mente que, como Carr sublinhou, publicidade, “a mantenedora de todas as mídias” não diferencia as empresas de mídia tradicionais e as mídias sociais e amadoras).

Por outro lado, sites de notícia como Huff Post têm construído uma parte significante de seu valor agregado graças à contribuição de blogueiros e comentaristas, trabalhando em troca de nada para garantir a audiência destes sites, bem como sua valorização.

“É interessante ver como legiões de blogueiros não pagos irá reagir à fusão do The Huffington Post com a AOL. Escrever para um blog iniciante parece ser um pouco diferente de produzir conteúdo para o AOL, uma grande companhia de mídia americana com capitalização de US$ 2,2 bi”, argumenta Carr.

Bem, os blogueiros reagiram. E eles não parecem felizes.

Como LSDI (Libertà di Stampa Diritto all’Informazione – Liberdade de Expressão e Direito a Informação, um site italiano de notícias*) noticiou, alguns blogueiros criaram um grupo no Facebook chamado “Hey Arianna, você pode me dar um centavo?”. “A AOL te deu US$ 315 mi: nós só estamos que você dê um pouco disso para os blogueiros não remunerados que ajudaram a construir o Huffington Post” diz a descrição do grupo, fazendo referência ao livro de Arianna Huffingtton sobre a desvantagem no trabalho da classe média americana e pedem que ela se mantenha fiel ao ideal que professava, remunerando-os pelo trabalhado feito. A página tem mais de 800 fãs.

O debate se espalhou pela web

Paul Gillins do jornal Death Watch escreveu que os blogueiros são obrigados por ninguém a trabalharem de graça em troca de ter suas idéias divulgadas numa página de grande audiência. Ele cita Lauren Kichner, que escreveu no “Columbia Jornalism Review” [publicação do curso de jornalismo da Universidade de Columbia1], dizendo que “o modelo de negócio do Huffington’s Post é perfeitamente legal. Mas é correto?”.

Entretanto, essa não é uma prática nova, como Gillin observa. Na era pré-internet, o New York Times costumava usar trabalho de freelancers não remunerados que só o faziam para ter seu nome exposto no jornal. Belo consolo!

O porta-voz do Huffington, Mario Ruiz, respondeu às criticas com uma nota publicada no Poynter. Ruiz disse que acredita piamente que jornalistas têm que ser pagos pelo seu trabalho e, por isso, eles têm 143 editores e escritores pagos. A diferença, no entanto, é que blogueiros e pessoas que postam suas opiniões de graça, como a maioria conhece o valor de se ter expressão numa plataforma com tanta repercussão. “As pessoas postam no HuffPost de graça pelo mesmo motivo que vão em programas de televisão toda noite de graça – elas são apaixonadas pelos seus ideais, querem ser ouvidas pelo maior número de pessoas possível e entende os benefícios que essa visibilidade podem trazer à sua causa.”, disse ele.

Jeremy Daniel, no Memeburn [um site de tecnologia*], também abordou o assunto, partindo das reflexões de Chris Hedges, escreveu que “Todo empresário usa os benefícios do trabalho não pago, com um punhado de trabalhadores mal remunerados, não sindicalizados, para construir uma empresa que é vendida por algumas centenas de dólares, não importa como ele ou ela é apresentado para você, não é um progressista.”.

Daniel conta, também, que o comediante Stephen Colbert anunciou a criação de um site chamado “Colbuffingtonrepost.com”, o qual tem “tudo o que todo mundo gosta no Huffington Post, porque É o Huffington Post, mas com um visual diferente.”. Colbert está colocando o site à venda por US$ 315 mi e disse que, se conseguir vendê-lo, vai dar a Arianna o mesmo valor que ela deu a ele pela venda de seu site, ou seja, nada.

Como Douglas Hushkoff escreveu no “The Guardian”, a compra do Huffington Post pela AOL causa um sentimento diferente a quem contribuiu com o site ao longo dos anos: “a impressão é que as coisas tomaram um rumo pessoal”.

“Nós escrevemos para o HuffPo de graça e o fizemos sem ressentimento”, disse ele. “o sentimento é de que estávamos escrevendo mesmo para Arianna. Tudo bem que traz benefícios, mas o beneficio era justamente a impressão de ter participação na comunidade, livre das influências da indústria midiática.”.

“Nós não estamos testemunhando o fim do HuffPost – mas o fim dos motivos para se escrever de graça. Eu faria isso por Arianna, mas nunca faria pela AOL”, conclui Rushkoff.

O debate é complexo. Como escreveu o autor Alessandro Mazoni, “Ai posteri l’ardua sentenza” – A posteridade irá julgar.

 

Traduzido por Bruno Baader

1Nota do tradutor

 


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