Elas lideravam uma manifestação pacífica de famílias pobres, organizadas pelo MLB, que reivindicavam alimentos num supermercado do shopping para a campanha "Natal Sem Fome". A seguir a entrevista que Virginia e Leuda concederam a A Verdade.
A Verdade - Qual o objetivo do "Natal Sem Fome"?
Virgínia - O objetivo da campanha nacional "Natal Sem Fome", do Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), é denunciar a crueldade, a falta de amor e solidariedade que o sistema capitalista demonstra em todos os momentos. Considerando que são jogadas fora toneladas de alimentos, enquanto dois bilhões de seres humanos passam fome no mundo; e, apesar da hipocrisia da época do Natal, ao se falar de amor, paz, solidariedade e outros sentimentos nobres, provamos, com a nossa manifestação do "Natal Sem Fome", no dia 22 de dezembro de 2010, no North Shopping de Fortaleza-Ceará, que tudo isso é um jogo de propaganda para aumentar as vendas e os lucros das empresas. Fomos ao shopping com crianças, idosos, pais de família e apoiadores para reivindicar comida para uma ceia digna no Natal.
A Verdade - Por que a manifestação foi reprimida?
Elieuda - Porque nós vivemos numa sociedade em que a repressão só é cometida contra os pobres, em que a polícia só serve para proteger a classe dos ricos, quem vai preso são os trabalhadores, porque até hoje eu não conheço nenhum ladrão de "colarinho branco" que ficou realmente preso.
A Verdade - Além de presas, vocês foram agredidas?
Virgínia - Fomos presas - eu, a companheira Leuda e um apoiador, Bruno - e trancadas dentro de uma sala do North Shopping, sofrendo todo tipo de agressão: "telefones" nos ouvidos, tapas, murros, chutes, além de agressão moral e psicológica.
Elieuda - Nós tínhamos chegado ao North Shopping, pacificamente, e pedimos para conversar com a administração do centro comercial e do supermercado, quando, de repente, apareceram vários seguranças nos agredindo com "gravatas", socos, "puxa-cabelo". E fomos levadas para uma sala.
A Verdade - O que o MLB está fazendo para não deixar impune essa violência?
Virgínia - Nós vamos mover um processo contra o shopping por danos físicos, morais, agressão, tortura, racismo, como também fazer uma grande denúncia aos órgãos de direitos humanos do Estado. Denunciar a injustiça e a maldade cometidas contra nós.
Elieuda - Além disso, estamos fazendo denúncias nos bairros e fizemos uma carta de repúdio, em que vários movimentos populares, ONGs e entidades do movimento estudantil assinaram, em solidariedade. Vamos também fazer uma audiência na Assembleia Legislativa do Ceará e na Câmara Municipal. Vamos lutar por justiça!