O facto de fazer o Congresso em terra portuguesa fez com que o operariado luso tivesse maior representação do que o galego: vinte e dois delegados portugueses representaram quarenta e nove sociedades operárias do norte de Portugal, e dezasseis galegos levaram a representação de trinta e sete sociedades operárias da Galiza.
Na directiva do Congresso participaram a partes iguais os delegados galegos e portugueses: a presidência foi ocupada pelo português Vitorino Ribeiro de Miranda e a vice-presidência pelo galego Emílio Vilar. Os secretários das sessões foram os galegos José Campos e Benigno Barros, e os portugueses Manuel Gomes da Silva e João Alves Moreira Torres. O Congresso tratou da conversão da Comissão Internacional Galaico-Portuguesa criada no Congresso de Vigo na União Operária Galaico-Portuguesa. Em consequência, algumas das decisões tomadas em Viana foram a preparação do regulamento da União Galaico-Portuguesa, a publicação de um jornal próprio e a realização de excursões de propaganda da organização pelas vilas da Galiza e Portugal. O Congresso mesmo aproveitou para fazer um apelo aos canteiros portugueses para não substituírem os canteiros de Padrom que naquela altura estavam em greve.
Neste segundo Congresso, a União tendeu a aproximar-se do socialismo, chegando a recomendar a filiação das sociedades operárias à União Geral de Trabalhadores na Galiza e à Federação de Associações de Classe em Portugal. Na linha desta aproximação está a recomendação do Congresso para as sociedades operárias evitarem a declaração de duas ou mais greves simultâneas, pois era tradicionalmente o socialismo que fazia insistência em que a declaração das greves estivesse regulamentada e não dependesse unicamente da iniciativa de cada sindicato.
Devagar, a União Galaico-Portuguesa ia consolidando-se como uma organização que ultrapassava seus objectivos iniciais para abranger outros ainda mais complexos. Mas o seu caminho estava cheio de dificuldades, muitas delas relacionadas precisamente com a existência de organizações operárias de âmbito estatal a fazerem trabalhos semelhantes. O socialismo português estava fortemente implicado na organização de uma Confederação Nacional de Associações de Classe, que foi criada no Congresso de Aveiro de Dezembro de 1902 e no secretariado desta nova organização, figuravam entre outros o Vitorino Ribeiro de Miranda, e o Manuel Gomes da Silva, quem já temos visto na directiva do II Congresso Galaico-Português.
Foi assim como se chegou em Abril de 1903 ao terceiro Congresso Galaico-Português de Braga, ao qual concorreram sete delegados galegos que representavam trinta sociedades operárias, e catorze delegados portugueses que levavam a voz de cinquenta e oito sociedades operárias. O número de delegados e de operários representados (12.000, dos quais 7.000 portugueses e 5.000 galegos) era muito menor do que nos anteriores congressos, a ordem de trabalhos foi mais limitado e em consequência as conclusões não foram além de fixar o próximo Congresso para Setembro de 1904 em Ponte Vedra e decidir que os vindouros congressos se efectuassem de dois em dois anos.
Infelizmente, o Congresso de Braga pôs termo ao percurso da União Galaico Portuguesa. O Congresso de Ponte Vedra foi adiado pela coincidência com o Congresso de Agrupações Socialistas da Galiza e finalmente não chegou a realizar-se. A tentativa de a solidariedade operária ultrapassar umas fronteiras artificiais malogrou-se, mas os seus frutos ainda ficaram por muitos anos entre os operários das duas margens do Minho.
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