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Xosé Bocixa: 'Quando assovalham a gente perto de ti... já sabes de que lado deves colocar-te'

221210_bocixa1Galiza - - Antom 'Papaqueijos' Diaz [para o Diário Liberdade] - Desta vez, vamos ter umha conversa com Xosé Bocixa, o vocalista dos já míticos Zënzar, umha banda que fai parte destacada da história do rock galego.


Este 18 de Dezembro encerrárom a sua turné de 2010 no pub Badulake de Ordes, pertinho da sua Meirama natal. Continuam mais vivos e com mais energia que nunca, e já andam a alburgar no seu próximo disco.

Antom - Quantos anos levades os Zënzar já na rota?

Bocixa - Quando figemos o primeiro concerto foi no ano 89. Desde entom, com calma, mas sem pausa, aí estivemos dando algo de guerra, sem quase mudanças na formaçom. Cinco discos, várias fitas-demo e compilatórios. A nossa ideia é continuarmos enquanto tivermos vontade.

A - Como se formou o grupo e como mudárom as cousas nos últimos vinte anos na música galega?

Todo vinha de atrás. Quando eu tinha onze ou doze anos vira num dos festivais de fim do ano escolar tocar uns rapazes que faziam versons de clássicos do rock. Falo de princípios dos oitenta. Entre eles, estava Silveira (alma de Zënzar) e Pardeiro (que hoje sempre vai connosco, ainda que acompanhando). No ginásio conseguiram fazer umha bateria de verdade, pois havia percussons amontoadas e sem uso. Levárom algumha, e, de aí, já saiu qualquer cousa que soava a bateria. Depois vim esta e outra gente nas festas de Meirama a meados dos 80 sendo eu adolescente. Átomo e Cobra fôrom duas formaçons que existírom em Cerzeda a princípios dos 80 que deixárom o pouso para que algumha desta gente e outra um pisquinho mais nova começássemos nesta história. Eu cantava em pequeno nas festas da aldeia, nas segas etc. Depois, umha noite que eu berrei o "pacto entre cabalheiros" com os amigos da Orquestra Foliada na festa das Encrobas, aos rockeiros que já eu conhecia e que mesmo fora ver ensaiar algumha vez, meteu-se-lhes na cabeça que eu era a voz que procuravam. À semana estávamos a fazer as primeiras versons. Pistones, Nacha Pop, Rollings, etc.

A - Que grandes influências musicais tínhais entom para montar o grupo?

Naqueles anos Leño, Asfalto... misturavam-se com Barricada. Silveira escuitava já muita música americana e inglesa: Pop, rock, metal, punk... algo de todo.

A - Mantedes a mesma formaçom?

Começamos como quarteto. A meados dos 90 entrou um segundo guitarra. Com a excepçom da fugida de Silveira, nom houvo mais abandonos. Porém, continua colaborando e aparecendo nalgum concerto especial a tocar connosco a modo de colaboraçom.

A - Como fazedes para agüentar tanto tempo juntos, concertos, gravaçons, bons e maus momentos...?

Pois penso que os nossos pontos vitais som dous.

Fazer música sem procurar nada em troca. Fazer pura e simplesmente o que nos apetece sem pensar nos gostos do mercado nem nessas histórias e depois, falar aberta e diretamente sem pudores todo o que se nos passa pola cabeça. O que detestas e gostas de cada pessoa há que comentá-la. Somos amigos da escola!

A - Como evoluiu o grupo, a nível musical e a outro tipo de níveis, como o ideológico, pessoal...?

Musicalmente penso que nos últimos anos estamos melhor que nunca. Já nos centramos mais na música que no desbarre. Falamos mais entre nós, arranjamos e buscamos o gosto de todos. Isso levou-nos a uns sons mais abertos para a gente mas sem o procurarmos, senom que é fruto do respeito de todos os gostos dos membros da banda.

Também nos misturamos con mais gente que colabora connosco.

Ideologicamente nunca agachamos as nossas reivindicaçons que nom mudárom muito, mas que se adaptam ao nosso momento, às nossas idades. A defesa da Terra, do território; a cultura, a nossa cultura em grande; a língua...

A entrada de Paco e Mário deu-lhe outra visom musical sem dúvida, por serem geraçons posteriores.

221210_bocixa2A - Estades a preparar o 6º disco do grupo. Como vai ser? Ides formalizar as novas colaboraçons de gaita e percussom que levastes na digressom de 2010?

Pois ontem mesmo despedimos A Tribo em Ordes com percussons e gaiteiro que além de músicos populares, som bons amigos e com os que nos entendemos, Gende Beat, o box Cerzedil num tema... que com outra gente, nos acompanhárom nalguns concertos deste ano e meio. Nom podemos esquecer Vituco Neira, Maria José Silvar e Pablo da Lama que também colaborárom muito connosco.

Queremos seguir contando com a sua parceria sem perder a essência punki-roqueira que nos caracteriza. Quero dizer que sempre há sítio para todo o que nos gosta e nos apetece, polo que é possível que em determinados concertos contemos com este tipo de músicos. Há unha parte de Zënzar que gosta muito do tradicional, da mestura. No seu momento já nos atrevéramos com parceiros como Rómulo Sanjurjo e Jam Papaqueijo no segundo disco.

A - Zënzar, Machina, Dios Ke te Crew, Kastomä. Podemos dizer, a modo de brincadeira, que musicalmente falando Cerzeda e sua comarca som umha "mina", a que crês tu que se deve isto?

No primeiro concerto de Zënzar lembro a champanha duchando um Nom Sei (velho salom reconvertido em Disco Bar... o primeiro no nosso concelho) ateigado de vizinhança da comarca. Era umha novidade impressionante que os rockeiros fossem vizinhos e vizinhas!

Penso que Zënzar arrastou outra geraçom de Cerzeda, Desertores do Arado, e assim sucesivamente, chegando a se espalhar à comarca. Nasser, SHangri-la, Sensacha, Osiris, Presença Zero, Machina, Kastomá... Toda esta gente conta o bem que ano após ano passavam no festival de Cerzeda que organizávamos Zënzar e depois a AC Lucerna. Sempre se apoiou a música de base. Às vezes criavam um grupo com o objetivo de tocar ao ano seguinte.

A - Além disso, todos os grupos da comarca sempre destacárom o seu compromisso mais ou menos ativo com o galego e com a defesa do património ambiental. Sodes assim todos rabudos ou é que a gente nova (e nom tam nova) da comarca está assim de conscientizada e militante?

Penso que se escolhes o rock para dizer o que pensas fás isso com todas as conseqüências, ainda que haja diferenças. Aqui se assumiu como de todos os mínimos de uns Mördor que falavam do galego, da indústria poluente que sempre assolou Cerzeda e da destruiçom da natureza e do contorno social. O discurso rockeiro em Cerzeda é coerente.

Todos participamos na AC Lucerna e confluímos nela organizando o festival, cursos de formaçom, o Entruido Choqueiro, magustos etc. Sabemos donde vimos e nom queremos que se esqueça.

A - Como influiu em vós, e na mocidade da comarca, o ambiente rural-industrial e o conflito das Encrobas?

Para mim foi a base da criaçom da minha filosofia vital, do meu ponto de vista do mundo.

Quando a grande empresa te assovalha e assovalha todo o povo, o teu ambiente, quando vês a destruiçom e o abuso de poder com a cumplicidade do poder político local, galego, espanhol... já sabes de que lado deves colocar-te.

Perdes o medo ao que pense e diga de ti a maioria que nom é por turrar contra o poder, por turrar polo de todas. O vale das Encrobas foi o meu paraíso na infáncia, do qual hoje nom resta quase nada, mais que un grande buraco cheio de água e muitas boas e más lembranças.

Nos nossos discos sempre há cousas vinculadas à grande empresa exploradora e poluente no nosso concelho, Fenosa. E, com certeza, aos políticos que nos governárom e que em troca de dinheiro para esconder o nosso passado construiam um presente sem futuro. Depois chegou Sogama...

O atual presidente da Cámara de Cerzeda, que sempre militou no PSOE, dixo muitas vezes que ele nom é Deus, mas quase. Tem chegado a proibir o festival em espaço público por cantar esses temas e falar destas questons. Tem perseguido discrepantes. É o mesmo que hoje se atreve a dizer num pleno que a rádio e tv local falam o que ele quer.

Infelizmente, tipos como este e pior governam muitos concelhos galegos. Há excepçons, eu nom caio no de que todos os políticos som iguais, nom é certo. Todos som diferentes, mas a classe política está nas nuvens.

Em que mudou Cerzeda e as redondezas de 1990 a 2010?

Nestes anos destroem-se os sectores primários, os espaços tradicionais e de interesse meio-ambiental, antropológico, etc. e substitui-se por um jeito de vida insustentável no tempo.

221210_bocixa3Grandes indústrias poluentes e grandes obras públicas que o dia de manhá serám os museus da loucura de uns iluminados que fôrom os líderes de umha sociedade instalada na tv, na mensagem adormecedora e que engole com todo a mudança de um salário intermediado na presidência da cámara.

Em Cerzeda só quatro tolos nos atrevíamos a dizer que SOGAMA era umha mentira. Agora que perigam os postos de trabalho de todas essas pessoas, que se vê que o único que interessa é um grande lixeira...15 anos depois, há vozes de pessoas que ali trabalham que já dim como aqueles quatro tolos.

Nom fica nem monte para em caso de necessidade produzir cereal. Os eucaliptos ocupam as zonas de prado. Graças à política dos políticos com poder e a essa cegueira coletiva de que falava Saramago.

Na ignoráncia é facil manipular e no desejo de satus é tentador deixar-se manipular.

Desde que eu sou consciente da minha existência, medrou o estado de bem-estar, mas a um preço muito caro e irreversível. Outras geraçons vam-no pagar muito caro.

A - A eclosom da música galega contemporánea nos últimos 20 anos foi brutal. Surgem propostas musicais heterogéneas e de excelente qualidade por todo a Galiza. Mas, há algo daquela época polo que sentes saudade, que achas em falta?

Acho em falta a motivaçom de tocar em troca de nada. Muita gente começa a tocar para comer o mundo e ao ano já entregou os pontos, porque está à espera de dinheiro, de fama. Para viver da música há que trabalhá-lo muito e ter sorte. Ser constante no tempo.

Acho em falta a emoçom do público polo próximo, polo produto que nom sai nos meios comerciais. Acho em falta o apoio dos organismos privados e públicos com a música galega.

Muita gente fala de Zënzar comigo, para bem ou para mal, e dás-te conta de que nunca nos vírom ao vivo. Falam de ouvidas ou de um concerto que vírom há 11 anos.

A - Di-nos que três cousas guardarias na faldriqueira da memória de todos os anos de rota com os Zënzar

Guardaria mil caras de pessoas que conhecim e com as que me une muito. Mil noites com essas pessoas. Guardaria momentos impressionantes com os meus companheiros de grupo e com amigos e amigas que nos conhecemos e forjamos a nossa amizade na aranheira do rock.

Para mim o mais importante do grupo foi poder expressar-me e fazer sentir algo a quem te escuita. Por muito minoritário que sejas... avonda!

Ontem mesmo, em Ordes, vivemos umha noite impressionante com um cento de pessoas que pagárom cinco euros para nos ver num local.

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