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040512 sechu atxagaGaliza - Diário Liberdade - [Séchu Sende] Reproduzimos a seguir o texto inédito da conferência lida na Universidade da Sorbona, polo escritor galego Séchu Sende. O autor foi convidado a Paris polo Centro de Estudos Galegos, no 12 de abril passado, representando a literatura galega, numha mesa redonda sobre as literaturas minorizadas do Estado espanhol. No ato intervinhérom ao lado de Séchu Sende, Bernardo Atxaga, em representaçom da literatura basca e a valenciana Isabel Garcia Canet, pola literatura catalá. 


Galiza é o território onde nasceu o galego-português arredor do século IX e onde hoje muita gente falamos e escrevemos em galego ou português da Galiza. É difícil falar da literatura galega em 20 minutos. Por isso vou acompanhar-me de fotos, porque dizem que valem mais que mil palavras. 

  1. Umha das primeiras cousas que fago quando viajo a qualquer país é fazer zapping nas teles públicas na procura dos spots publicitários. É umha forma de conhecer a sociedade, através da publicidade. Antes de saír da Galiza quigem fazê-lo com a Televisom Pública da Galiza na casa de meus pais, -eu nom tenho tv- e que achei? Um anúncio de cola para dentaduras postizas e outro de audífonos para a 3º idade. Apaguei a tv.

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  1. Umhas das melhores Histórias da Galiza nom tem mais de trinta versos, é um tema do poeta punk O Leo, que interpreta com o seu grupo Labregos no Tempo dos Sputniks: umha relaçom sadomasoquista entre a Galiza e Espanha: España, dame caña, soy tu perra, dame guerra.

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    3. Galiza é um país com um grave conflito lingüístico. A nossa língua, o galego ou português da Galiza, está a perder falantes de forma alarmante. Umha forma de conhecer o presente do nosso país é ler este folheto de 1942 e imaginar as consequências de 500 anos de dominaçom espanhola e 40 anos de ditadura fascista e espanholista, com epígonos que chegam até hoje:

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     Outra mostra atual do vírus da espanholizaçom que se estendeu gravemente por múltiplos ámbitos do país podem ser estas normas internas de cortesia para @s trabalhador@s dum hotel:

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    Mas, como movimento social, há um importante número de galegos e galegas que defendemos conscientemente a nossa cultura e a nossa língua.

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    3. Qualquer pessoa que se detiver a observar a política do atual governo da Galiza poderá descobrir na cultura do enxerto a inspiraçom da sua estratégia desgaleguizadora. Para reduzir a presença da língua galega, cortam e fam enxertos de língua espanhola em diversos ámbitos.

    Imaginade um grupo de senhores com gravata no escritório. Sobre a mesa, livros de agricultura, muitos deles especializados em enxertos:

    - E que fazemos com o teatro?

    - Umm, o teatro vai ser difícil de desgaleguizar... O teatro em galego tem muita força...

    - Pois temos que enxertá-lo. Um enxerto drástico. Cortamos por aqui e aqui fazemos um enxerto em cunha.

    4. Desde o blog Brétemas, e segundo a Panorámica de la edición española de libros 2010, publicaçom do Ministério de Cultura espanhol, podemos saber que:

    1. A ediçom na Galiza acada em 2010 o maior número de referências de ISBN em galego da sua história: 2.546

    2. A ediçom pública em galego diminui até niveis históricos: 9,8%,

    3. Os livros de Literatura suponhem 26,81%

    Segundo o estudo Comércio Interior do Livro na Galiza 2010:

    4. A ediçom em língua galega consolidou o seu catálogo ao longo da década de 2000, em que publicou 56,67% dos títulos de toda a sua história.

    Outros dados de interesse:

    Na Associaçom de Escritores em Língua Galega há mais de 400 asociados, e estima-se que na Galiza há arredor de 1.000 escritores e escritoras vivas com obra publicada. É um dos tópicos sobre o nosso país: Somos um país de poetas.

    Segundo o informe “Lazer e hábitos culturais dos galegos”, preparado polo Conselho da Cultura Galega, só 6,3% dos leitores na Galiza lem habitualmente em galego e até 59 por cento lê em galego ocasionalmente.

    Con respeito aos hábitos de compra de livros, o barómetro estima que na Galiza de cada 100 livros vendidos 7 som livros em galego.

    5.

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    Um dos temas universais das literaturas do mundo é o conflito lingüístico. Quando Michele Lalonde escreve Speak White no Quebeque, ou quando Bernardo Atxaga fala da sua língua como de um ouriço-cacheiro, ou Derek Walcott, Se trocas de língua, trocas de vida, ou José Hierro no seu Cuaderno de Nueva York, Ellos me han robado el idioma, ou Pierre Jakez Hélias em O cavalo do orgulho fai a crónica da perseguiçom do bretom, Proibido cuspir no chao e falar bretom, esta-se a verbalizar literariamente a violência sobre as línguas do mundo.

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    Na Galiza este é um dos temas que se atualiza geraçom após geraçom, desde Pondal e Rosalia até Suso de Toro, o coletivo Ronseltz ou Chus Pato, A minha língua nativa é o fascismo, Carlos Negro, Calros Solha, Igor Lugris ou Carlos Quiroga. Mas também é um tema que se difunde desde os CDs e concertos de Sacha na Horta, Mercedes Peón, Dios ke te Crew ou Quempalhou, com letras como poemas.

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    6. Interpretando o sociolingüista basco Txepetx, diremos que o poder reproduz-se na linguagem porque a linguagem reflete o nosso modo de ver a realidade e na nossa sociedade ocidental o autoritarismo existe também na discriminaçom das línguas minorizadas. As minorias que controlam o poder mediático na Galiza exercem umha contínua distorçom sobre essa propriedade comum que é a linguagem. De ai a invisibilizaçom da nossa língua -apesar de ser ainda língua maioritária- nos média que impulsam o proceso de espanholizaçom.

    Ou, noutro nível, cumpre denunciar a marginaçom e silenciamento da opçom lingüística galego-portuguesa na maioria dos ámbitos de poder cultural galego institucionalizados e a censura sobre o NH galego-português, discriminado em relaçom ao Ñ galego-castelhano.

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    A confluência sobre os cenários de músicos da Galiza, Angola, Portugal ou Brasil a cantar na mesma língua é talvez o melhor exemplo de que o galego ou português da Galiza é umha língua internacional que compartilhamos com milhares de pessoas dentro e fora das fronteiras do nosso país.

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    Com umha presença emergente do ativismo lingüístico galego-português, com umha forte tradiçom histórica, reivindicamos aqui, em Paris, o cesse da marginaçom da corrente social conhecida como reintegracionismo, que contempla a nossa língua –o galego ou português da Galiza - como umha das expressons da lusofonia.

    7. E agora, um achegamento resumido ao músculo social da literatura:

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    Cumpre destacar outra geraçom mais, a importáncia da apariçom de novas poetas, como Andrea Nunes, Olalla Cociña, Xiana Árias, Lorena Souto, Maria Rosendo, Alicia Fernandes, Elvira Ribeiro, Íria Pedreira, Ugia Pedreira, a somar-se à corrente da escrita de mulheres que fertilizou com umha imensa qualidade a nossa literatura dos últimos anos.

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    Umha das características interessantes da nossa poesia atual, por exemplo, é o ativismo literário de alguns escritor@s: intervençons como Onde haja um cubata que se quite um soneto de Maria Lado e Luzia Aldao; os combates de Poetas da óstia, com enfrontamentos tam sugestivos como os poetas de Ferdinand de Saussure contra os poetas de Noam Chomski, o Festival de Poesia de Salvaterra, a Ponte Poética de Ponte Vedra, a semana de Poesia Selvagem de Ferrol, os festival anual de Implicadas para o Desenvolvimento, ou a presença permanente da gente da literatura a participar no movimento social da língua, no ecologismo, ou nos múltiplos conflitos sociais.

    E nesta linha, gostaria de assinalar como umha das correntes mais interessantes da nossa literatura, e do processo de resiliência social do nosso país, o aluviom do humor: Calros Solha, Leo e o seu Hai Cu, Mexan por nós e nós cagamos por eles, o romancista Carlos Meixide, e sua derivaçom musical com Tomás Lijó, Os da Ria, os guións, ás vezes metaliterários, do seriado de tv na internet Nom saímos do lixo, os contributos do movimento Ridiculista na rede social...

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    Temos um país que associa geraçom após geraçom literatura e música e socializa poemas como os de Samuel Solleiro e Ataque Escampe ou Ugia Pedreira e Marina Oural, o beat-rap de Carlinhos Gende, e grupos como Sacha na Horta, The Homens, recém desaparecido, Zenzar, Ruxe Ruxe... ou canta-autoras como Sés ou a angolana-galega Aline Frazao a renovar a nossa literatura musicalizada.

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    Também é interessante a criaçom de espaços editoriais para umha nova geraçom de ensaístas e argumentadoras, espaços que criam as editoras Estaleiro, Axóuxere, Através, Urco...-, à que há que somar o importante contributo da literatura argumentativa, de opiniom ou jornalística na prensa, -apesar do feche do jornais escritos Galicia Hoxe, Xornal, ou o mítico digital Vieiros-, em publicaçons como Tempos Novos, Novas da Galiza ou nos digitais Galicia Confidencial, Praza Pública, Dioivo, Portal Galego da Língua, Diário Liberdade...

    Além disto, cumpre salientar o espaço digital –com redes de participaçom e visibilizaçom da atualidade literária, como Chuza ou Cabozo- e, sobretodo, a blogosfera galega com numerosos blogs para a criaçom e a dinamizaçom literária para os que mesmo já existem prémios institucionalizados.

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    A importáncia da literatura oral, com criadores como Quico Cadaval, Carlos Santiago, Carlos Branco, Cándido Pazó, Celso Fernandes, Avelino Gonçales, Pedro Brandariz e muita outra gente, vencelhada ao mundo do teatro, hoje alvo dos ataques do próprio governo galego que, por exemplo, vem de cessar a diretora do Centro Dramático Galego por questons mais relacionadas com a política de enxertos e censura que com a gestom profissional.

    Ou a apariçom de literatura de género com grande sucesso comercial como os romances negros de Diego Ameixeiras ou Domingo Vilar, Manuel Portas e o mundo do narcotráfico, ou a chegada da literatura fantástica com um best-seller como O mundo secreto de Basilius Hoffman, de Fernando Cimadevila, e o grupo de gente que nos assombra com a literatura Pulp de Contos estranhos em Urco Editora.

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    No ámbito da literatura infantil, ao lado da internacionalizaçom de umha figura como Agustim Fernandes Paz, das editoriais Kalandraka e OQO, gostaria de comentar um dos processos de expansom do imaginário coletivo mais interessantes dos últimos anos e que transforma umha lenda de tradiçom oral quase desaparecida e conservada na memória de umha dúzia de avôs e avós da montanha num fenómeno social emergente: O Apalpador. Com similitudes com o Olentzero basco e outros personagens europeus, este carvoeiro que achega a noite de ano velho já protagonizou seis livros que atualizam a sua figura tradicional com valores ecologistas e de cooperaçom, num processo de participaçom social de motor reintegracionista.

    8. Porque acreditamos que as palavras tenhem o poder de mudar as vidas, nom podemos ignorar, ainda que às vezes o tentemos, que a literatura transforma o mundo. O difícil é saber Quanto, Em que medida ou Como, especialmente porque a ciência nom nos dotou ainda da tecnologia para medir a quantidade de transformaçom social por número ou qualidade de palavras emitidas.

    Mas se muita gente nom acredita que Um outro mundo é possível, sim que é inegável que a literatura fai-nos ver que Um outro mundo é verosímil.

    Para mudar o mundo um passo prévio é imaginá-lo, sonhá-lo. E as palavras tenhem um poder mágico, da família do ilusionismo, que permite borrar os limites entre a realidade e a ficçom, entre a verdade e a mentira.

    Os escritores e as escritoras do meu país estám a construir o mundo com as suas maos e ideias, como as arquitetas, os médicos, as professoras ou os motoristas de autocarros.

    A literatura, como as palavras, nom só representa a realidade, cria realidades.

    A literatura muda o mundo.

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    9. Umha das fotos mais admiradas e representativas da greve geral do 29 de março foi a foto dum tatoo nas costas dumha adolescente na manifestaçom de Compostela: “A liberdade nom é negociável”. Eu quero ver nestas cinco palavras a história e o presente do meu país e, como muitíssima gente que partilhou esta imagem nas redes sociais, leio este texto com a emoçom de quem avança para o futuro com a força da insubmissom e a juventude.

    Obrigado, Merci.



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