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070813 golpe2Galiza - Galizalivre - O traço essencial que atravessa os meios ativistas nestes tempos é a perplexidade. Perante o desabamento evidente de um mundo que semelhava sólido até ateontem, desplome que se tornou lugar comum até para a imprensa do regime, os grupos militantes nom acertam a reagir, retomam os discursos de sempre, com cada vez menos convicçom, e intentam umha e outra vez as mesmas propostas, com a esperança difusa de que, por algum motivo desconhecido, o que nunca funcionou comece agora a dar resultado.


 Umha espiral desiludinte que enfraquece as energias de revolta e as canaliza para a rotina das reformulaçons políticas, as luitas pola conservaçom do nível de vida e a reafirmaçom dos dogmas herdados. A desintegraçom do sistema, em lugar de impulsionar o que se tinha apresentado como a sua alternativa, encontra inesperadamente o seu correlato na desintegraçom da sua oposiçom, para frustraçom de centenares de rebeldes que temos a vida consagrada ao combate por umha Galiza livre e socialista. Nunca falta, para quem se contente com placebos, a última novidade que prometa um "agora sim funcionará!", mas os crentes minguam e mesmo quem adere o faz com umha indissimulável incredulidade. Nós mesmos, para dizer verdade, evitamos pôr paus nessas rodas, umha vez que nom vemos opçons muito melhores.

Mui possivelmente o problema principal que confrontamos consiste na falta de imaginaçom. A nossa história militante, quer dizer, a do nacionalismo e o arredismo galego, transcorrida numha guerra que nom por minoritária foi menos dura e áspera, explica boa parte disto: contra o discurso oficial, contra o "sentido comum" da nossa época, os militantes independentistas houvemos de reforçar um caráter refractário que nos permitiu por-nos a sotavento da ofensiva ideológica espanhola, mas ao mesmo tempo dotou-nos de umha obstinaçom que nos ausentou muito das mudanças do mundo. Agora, com o mundo de pernas para o ar, custa-nos situar-nos nele e pôr em questom alguns dos tópicos da maneira como o percevíamos. Corremos, assim, o perigo de ficarmos fora de jogo da história, com um imaginário embalsamado que nom atende à corrente social nem pode intervir nos acontecimentos e nas batalhas que livra a populaçom galega nestes tempos convulsos. Tantos movimentos revolucionários tenhem vivido já esta situaçom ao longo do mundo e na própria Galiza... Sem serem vencidos polo Estado, tenhem sido varridos pola história.

No primeiro número desta revista colocávamos o acento na perda de significaçom da política partidária, minada polo autismo e polas suas dinámicas corrosivas, e sobrepassada por movimentos sociais que nem compreende nem lhe interessam. Nesta ocasiom dirigimos o foco para aquilo que está a marcar, na nossa opiniom, o resto dos acontecimentos a escala mundial: o final da economia de mercado, alicerce material e ideológico do mundo moderno, cujo colapso se iniciou já e que está a tambalear todo o edifício social dos países capitalistas, é dizer, de todos os países. Este facto central da época deixa sem realidade também os programas revolucionários, baseados nos pressupostos de crescimento económico, progresso tecnológico, opulência, etc. Se até há pouco o imaginário geral concevia o futuro em termos de utopia da abundáncia (seja o futurismo hi-tech, seja o reformismo de "cada vez mais benestar e direitos", sejam as fantasias de "rios de leite e mel" do marxismo e anarquismo), hoje resulta imprescindível apreendermos a imaginar um futuro de escassez, onde o parêntese histórico da sociedade de consumo se vaia perdendo na memória.

Em meio das convulsons, reconstruçons e re-definiçons que está a experimentar o nacionalismo galego, botamos em falta umha nova formulaçom do projecto económico de país que há de sustentar o exercício da soberania. Qual é a proposta do independentismo, à luz da crise energética, para um sector industrial como o galego, tam dependente da automoçom? Como nos imaginamos que se pode levar à prática a aposta teórica pola soberania alimentar, tomando em conta que a curto praço a produçom na Galiza da maioria da nossa alimentaçom pode converter-se nom só num desejo, mas numha necessidade de primeira ordem? Se a economia, além do sustento material dum povo, determina de forma directa os aspectos sociológicos, territoriais e políticos da naçom, acertar a definir o cenário económico no que se há de situar a Galiza soberana parece umha tarefa prioritária para quem queremos que a independência e o comunismo sejam umha realidade.

Insustentável quer dizer que nom vai durar

Para ajudar a nos fazermos umha ideia do presente e o futuro à volta da esquina, apresentamos aos leitores alguns textos provenientes de várias heterodoxias, que tenhem a virtude de terem antecipado os acontecimentos que estám a sacudir a economia. Vários deles identificam-se com a etiqueta do "decrescimento", esse estranho amalgama de teorias e práticas unido pola convicçom de que o crescimento está a tocar ao seu fim, polo que, quer queiramos, quer nom, "toca decrescer".

Diz muito, e muito mal, destes tempos que vivemos o facto de umha verdade tam singela ser assumida somente por um setor mui minoritário da populaçom. Dalgumha maneira a propaganda conseguiu persuadir-nos de que os limites da existência humana som barreiras que nom só nos degradam, senom que podemos e devemos rebasá-las, e que de facto a "história humana" consiste nesse desafio olímpico contra a sua finitude. Que importa que esse relato deixe de parte a totalidade da história do povo galego (até há meio século, mais ou menos), ou, se vamos a isso, de qualquer povo do mundo? A cultura popular, longe do desassossego prometeico dos industriais e os cientistas, consistiu em apreender a aceitar as limitaçons da condiçom humana, e empregá-las como alavanca para a criaçom dos aspeitos mais nobres da cultura: isso que noutra época se chamou "sabedoria" e que consistia na capacidade de estar no mundo em paz. Sabedoria, já agora, repartida muito mais democraticamente nas aldeias do que os atuais diplomas universitários.

Mesmo sem conhecer requintadas teorias nem dados estatísticos, qualquer pessoa mais ou menos cabal, de qualquer época e de qualquer parte do mundo, teria concordado com o diagnóstico dos "decrescentistas": um sistema que exige como requerimento para a sua continuidade o consumo cada vez maior de recursos naturais e de energia, a construçom de infraestruturas cada ano mais mastodônticas para a eletricidade, o telefone, internet, o transporte por estrada e por aviom, que necessita umha regulamentaçom mais e mais complexa e portanto umha multiplicaçom nunca acabada de corpos políticos para redigi-la e policiais para a fazer valer... Nom é precissamente um sistema sustentável, mais bem parece um cancro a se reproduzir pola pele do planeta.

Como a intoxicaçom ideológica que padecemos, depois de tantos anos de ensino público e de tanta exposiçom à indústria cultural, nos tem tornado insensíveis às evidências, recorremos a um texto de Xoán Doldán, professor da faculdade de Economia da USC, para que explique com linguagem científica como é que o crescimento económico indefinido é incompatível com a realidade finita do mundo, e em que ponto estamos no trajeto que leva da ensonhaçom à catástrofe.

Nos últimos anos tem-se debatido muito nos nossos ambientes sobre o pico do petróleo e a crise energética. A grande dificuldade da maioria da gente a respeito desta análise consiste em que nom entra nas categorias em que fomos habituados a pensar o mundo, isto é, nas da economia. Afeitos a olhar a história, a política e o mundo sob a luz do dinheiro, com a sua lógica interna, os seus conflitos de classes, as suas crises... que de súbito apareçam os geólogos para dizer que o jogo se acaba por causas relativas à composiçom do subsolo, resulta mui perturbador. Porém, o problema nom é do subsolo nem dos geólogos, senom do fanatismo económico em que vivemos os homens e mulheres contemporáneas. O mundo, certamente, pode ser olhado com a óptica da forma-mercadoria, como fai o marxismo, incluindo a teoria crítica de autores como Anselm Jappe, e dessa maneira encontrar-lhe a lógica, as falhas, os limites internos; mas também pode ser visto sob outras olhadas, que identificam outras tensons que atravessam a época. Umha delas poderia rachar antes que as outras, e nom nos sorpreenderia que essa fosse a bancarrota energética.

A consciência da análise que explica aqui Doldán tem feito mudar o cenário para muita gente. Passar da fé num futuro de certa estabilidade, sob o império do capitalismo e do estado, de progresso tecnológico e abondáncia material, a ser conscientes da iminência do colapso da civilizaçom industrial altera os planos de cabo a rabo. Assim, as propostas do decrescimento formulam-se nesse contexto e apontam a umha adaptaçom dos movimentos contestatários que deixe de dar por sentado todo isto e se prepare para as turbulências do fim de regime. Dous dos galegos que, no ámbito da opiniom e o ativismo ideológico, mais se tenhem empenhado em promover esta mudança de planos som Manuel Casal Lodeiro, companheiro de Xoán Doldán no coletivo Véspera de Nada, e Carlos Taibo, ativista e solidário em mil causas populares. Deles divulgamos duas achegas que explicitam mui diafanamente o que signfica a análise do decrescimento para as luitas sociais, criticando a obstinaçom das organizaçons de esquerda em manter o velho paradigma e pulando por umha autonomia e autosuficiência local que nos ponha a coberto da falência da economia e o estado. O texto de Casal Lodeiro é, ao igual que o de Doldán, inédito, enquanto o artigo de Taibo foi já publicado no Diário Liberdade.

Se algo há que reprochar à maoria dos representantes do decrescimento é que assumírom com muita mais facilidade a certeza do colapso do que o seu previsível caráter violento, e portanto nom tirárom as conclusons correspondentes para as luitas sociais. Pode dever-se, como aponta Carlos Calvo, a umha "confusom entre as cousas da lógica e a lógica das cousas", e assim se explica que se chegue até a concever umha transiçom ordenada sob a égide de um Estado que se considera neutral e razoável, ou as piadosas chamadas aos empresários para que se tornem eco-emprendedores. Na verdade, a dinámica da dominaçom nom se rege polo sentido comum senom polo imperativo de se manterem na cima da pirámide social, polo que é de esperar que continue a vigorar o que já vivemos: a Galiza nova, o mundo pós-capitalista, construi-se num contexto de ilegalidade, de perseguiçom policíaca e de encarceramentos. Negar essa realidade e a sua mais que provável continuidade, ou escolher ficar inofensivos como estratégia de defensa, som opçons que muitos nom estamos dispostos a aceitar.

É também o fim de um mundo de homens

A. Toxo e Mariola Mourelo, duas militantes feministas galegas, contribuem com umha visom feminista que nom tem relaçom algumha com aquele anseio de integraçom (nas eleiçons, nas fábricas, nos exércitos...) no mundo masculino, tam similar e tam compreensível como o anseio obreirista de fazer parte (no consumo, nas instituiçons, etc.) do mundo burguês. O que se nos apresenta é mais bem umha óptica singular sobre a crise económica. Se os três textos anteriores olhavam o sistema reparando nos fluxos energéticos e apontando à sua insustentabilidade, o artigo de Toxo e Mourelo emprega a óptica de género, defendendo umha economia feminista que recusa a assunçom do "mercado" como único ámbito da produçom, fenómeno que tem coberto com um manto de invisibilidade o conjunto de atividades necessárias para a reproduçom da vida que fôrom delegadas às mulheres, como os cuidados ou a criança. Através dum percurso polos feminismos galegos e internacionáis, e destacando as iniciativas que neste contexto vincam na transformaçom da realidade económica dumha perspectiva anti-patriarcal, as autoras reclamam a perspectiva feminista como revalorizadora do papel central da vida nas relaçons socioeconómicas, e das comunidades como base dos projectos que caminhem para a superaçom do capitalismo.

A oportunidade política desta perspectiva é evidente: nos últimos anos o arredismo, por intuiçom e por necessidade, tem aberto novas frentes da construçom nacional em campos que só o feminismo aceitara antes como políticos. A criança dos meninos, a educaçom infantil, o parto e a lactaçom, etc. som novas preocupaçons e novos terrenos de luita, o que contribuiu a minar a centralidade política das categorias capitalistas referidas ao mercado de trabalho. E por certo, há que apontar que dentro da empresa nom há mais forma de vida que a capitalista, e que a galeguidade, se quer subsistir como algo mais que marca turística, se encontra no campo da vida nom mercantilizada.

A dinámica fatal do capitalismo e o precedente de comunidade.

Umha visom puramente marxista da crise oferecem-na os autores da "crítica do valor", entre os que se contam Robert Kurz ou Anselm Jappe. Apartir de um estudo direto dos principais textos de Marx, estes autores procuram discernir a perspectiva "imanente" do pensador alemao, aquela que se insere dentro das categorias do capitalismo e que foi dada por boa polo movimento operário, da perspectiva "trascendente", que na sua opiniom se encontra na crítica do valor efetuada por Marx, principalmente no primeiro tomo d'O Capital. Tirando desse fio redescobrem umha teoria à que livram da esclerose de que se resente hoje na maioria das suas versons, e que, já agora, tem ocupado um papel importante no percurso inteletual da linha política que representa esta publicaçom.

A hipótese é, neste caso, um velho postulado marxiano: a lei do declínio tendencial da taxa de lucro. Por imperativo da concorrência, a incorporaçom de teconologia aos processos produtivos é cada vez maior. Isto é assim desde o artesanato, até a microelectrônica, passando polo máquina de vapor ou o motor a explosom. O qual explica a relaçom que existe entre a dinâmica do capitalismo (a sucessom de revoluçons industriais desde o s. XVIII, com as suas crises e períodos expansivos), e a evoluçom tecno-científica da sociedade moderna. Como correlato disto, a produçom das mercadorias incorpora progressivamente umha maior proporçom de "trabalho morto", ou seja, tecnologia que nom gera valor; ao tempo que míngua o "trabalho vivo" necessário, ou seja, o trabalho subjectivo imprescindível para a criaçom da mais-valia. Por isso se fala da "tendencia decrescente" dos ganhos. Porque, com a dimiminuiçom do trabalho vivo, os lucros unitários que se obtêm de cada mercadoria também diminuem; por moito que isto se compense com um incremento, da massa total de benefícios, decorrente dumha maior produtividade.

Mas o importante, do ponto de vista da teoria crítica do valor, nom é esta diminuiçom dos ganhos. Lembremos que, a trave que sustenta toda arquitectura da crítica marxiana, é o facto do trabalho ser a substância do valor. Por isso, o fundamental é a contínua e fatal desubstanciaçom do valor inerente ao evoluir do capitalismo. Eis o sentido dum conhecido excerto dos Grundrisse: O capital é em si mesmo uma contradiçom em processo, pelo facto de que tende a reduzir o trabalho a um mínimo, enquanto, por outro lado, coloca o trabalho como a única fonte de riqueza. Nom é extranho que os críticos do valor considerem os Grundrisse como umha guia para a interpretaçom de O Capital. Para compreender esta contradiçom em processo cobra importancia a visom marxiana da dinâmica do capitalismo implícita em conceitos, hoje um tanto esquecidos, como acumulaçom primitivia, subsunçom ou comunidade. Precissamente, este último conceito tal e como aparece nos Grundrisse, merece boa parte das consideraçons que faz Jappe na entrevista que se inclui neste número. Nesta entrevista, aborda se a importância dos Grundrisse em relaçom com um elemento básico na explicaçom da dinâmica do capitalismo: o seu confronto com outras formas de vida anteriores. Confronto vital, na Galiza, para percebermos com claridade a historicidade da sociedade na que vivemos e imaginar, levando em conta o que mais valorizamos do nosso passado, como pode ser a sua superaçom na Galiza.

Em resumo: o capitalismo nom existiu sempre, nem existirá para sempre. De facto, segundo os críticos do valor, a revoluçom industrial da microelectrônica, teria levado o o capitalismo ao seu limite intrasponível há várias décadas, tendo subsistido desde os anos 90 do século graças à fraude contável na que consiste a tam celebrada financeirizaçom da economia e a estimulaçom artificial da procura em base ao crédito geralizado. Por um lado, a conversom da imensa maioria dos capitais em "especulativos", com as consequentes bolhas em muitos setores económicos, vem significar somente isto: que a capacidade da economia de produzir ganhos está esgotada, e a única saída para quem gere o dinheiro (os fundos de investimentos, os fundos de pensons, etc.) é a "economia casino", na que se anota como lucro o que nom é mais que caça de vento. E, por outro, apenas a concessom indiscriminda de empréstimos puido, até agora, satisfazer as cotas de consumo exigidas polo exponencial crescimento da produtividade. Nom é de estranhar que os primeiros afetados da actual crise sejam, precisamente, os negociantes de lucros futuros: os bancos, que comerciam com um porvir até há pouco repleto de riquezas e que de súbito ficou devaluado ao velho mundo de escassezes e penúrias. Todos os centos de milhares de milhons de euros e dólares emprestados às empresas da construçom, aos hipotecados repentinamente insolventes, aos Estados cuja dívida pública pende de um fio... demonstram a indigência de um sistema que subsistiu durante anos a base do dopping financeiro.

Chama a atençom que, fora de autores minoritários como estes, a maioria dos grupos, partidos e sindicatos marxistas nom seja capaz de perceber esta situaçom de colapso. Apesar da evidência, ainda faz parte dos lugares comuns do nacionalismo e da esquerda a convicçom de que "nom é umha crise, é um roubo", segundo a qual os grandes empresários estariam a fingir umha recessom para ter umha excusa para recurtar os direitos sociais e o nível de vida da populaçom. Além disso, é generalizada a opiniom de que existe umha espécie de comando central capitalista com "um plano", que sabe como sair desta situaçom e continuar a dominar o jogo. Paradoxalmente, parece que quanto mais anticapitalista é um militante, mais confiança tem em que o capitalismo é eterno e indestrutível. A gente do comum, porém, já começa a ver as orelhas ao lobo, e a fé no progresso atravessa as suas horas mais baixas.

Mensagens da cadeia

Dous dos colaboradores desta revista encontram-se, no momento de redigir esta apresentaçom, prisioneiros acusados de participar na resistência galega. Outra tivo tempo de passar um ano presa entre a sua contribuiçom ao primeiro número e a publicaçom do segundo, e alguns mais já tenhem passado outras temporadas anteriormente. É bom lembrar, de tanto em tanto, que se bem o controlo político espanhol sobre os galegos é hoje principalmente subtil, ideológico e cultural, o monstro nom deixa de amossar as suas fauces com quem lhe desputa a capacidade de atuar.

Ao contrário que noutros tempos, agora está-nos permitido emitir qualquer opiniom, assim seja radical ou extremista, sempre e quando aceitemos o abismo entre o dizer e o fazer. Como apontavam os outros, a vontade espanhola veria-se satisfeita com umha dupla cisom: por um lado, a dos inteletuais que podem opinar sobre qualquer assunto, e que nom pensar mover um dedo para que as suas opinions se materializem; pola outra, um Estado mudo, cuja maquinária burocrática (políciais, inspetores, administrativos, etc.) nom defende nengumha opiniom, mas entretanto atua com devastadora eficácia.

Carlos Calvo, que é também o autor dos desenhos que ilustram este número, e Antom Santos, encaminhárom-nos dous textos mui diferentes em forma e fundo, mas que coincidem em apontar à aspereza da luita nestes tempos, e na importáncia de nom nos ausentarmos do conflito sob o pretexto da construçom nacional. Mui longe da famosa "torre de marfim", na soidade das suas celas, reivindicam umha posiçom no mundo que nom faz da guerra a sua razom de ser, mas que nom esconde a cabeça sob a asa quando o inimigo amossa as suas verdadeiras armas. Firme e mui serenamente instalados na vida de acordo com os seus princípios, exponhem com modéstia os seus pensamentos por volta de temas como a "digna pobreza", o consumismo, a construçom nacional, a crise económica, a Galiza tradicional...

Mais alá dos necessários discursos de motivaçom humanitária ou da linha de defesa jurídica, estes documentos transmitem-nos a verdade de uns irmaos que se sabem incompatíveis com Espanha e que nom se esforçam por "encaixar".

Um passeio de Gandhi pola Galiza

Fora das correntes principais do independentismo galego vem-se constituindo desde há um par de anos um espaço novo, articulado por volta do Partido da Terra. Apostando firmemente pola autosuficiência local, pola volta ao campo, pola autogestom e contra o Estado e o sistema de mercado, e fazendo bandeira do reintegracionismo lingüístico, esta nova linha tem-se feito um oco no nacionalismo. Minoritária como é, conseguiu, por exemplo, maior número de votos que as candidaturas independentistas tradicionais. O su principal sucesso, no entanto, é ter conseguido colocar no debate político temas até o de agora ocultos sob tabus, e fazê-lo sem complexos, sem vontade de compromisso nem aspiraçons de serem tidos em conta no jogo politiqueiro. Nesta revista temos umha grande sintonia com boa parte das posiçons defendidas por essa sensibilidade, em particular nos temas que tratamos precissamente neste número.

Joám Evans é um conhecido animador dessa corrente, e colabora com um artigo interessante sobre a autosuficiência e a autogestom como forma de romper laços com o colonizador. Por estas terras associamos imediatamente Gandhi com a expressom "nom-violência", mas o político indiano tem também muitas outras fasquias inteletuais que nom há que rejeitar. Empregando a sua figura e doutrina, Evans traça um percurso entre continentes que deixa de manifesto as semelhanças entre as formas de organizaçom popular autónoma respeito ao poder em todos os povos do mundo, ao passo que reivindica essa mesma autonomia no processo de libertaçom.

Isso, a que nesta revista chamamos "construçom nacional", inspira um leque de caminhos que na Galiza se estám a ensaiar por cada vez mais rebeldes, tendo-se chegado a umha quantidade já superior à da maioria das forças políticas nacionalistas, mas sem que de momento se conseguisse materializar num movimento social de seu, apesar de várias tentativas recentes. Como dar corpo à legiom de desertores das cidades, do consumo, do mercado de trabalho, da política institucional? Eis o problema que afrontamos os que já nom nos conformamos com os jogos de espelhos dos partidos políticos. Quiçá o caso indiano, como aponta Evans, poda achegar-nos algumha ideia neste sentido.

Foto: Capa da revista (Diário Liberdade)

 


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