O aparecimento de uma nova geração que explorou com rigor outras formas literárias diferentes da lírica que esteve condicionada pelas transformações operantes no seio da sociedade galega e pela crise socio-política européia, posta em xeque com a Primeira Guerra Mundial e a Revolução Russa.
Os membros mais ilustres desta época nasceram entre as décadas de 1880 e 1890. Entre eles, é necessário distinguir os pertencentes ao chamado Cenáculo Ourensán e os ligados à vila de Rianxo. Do primeiro grupo, podemos destacar os nomes de Vicente Risco e Otero Pedrayo ligados à uma pequena burguesia de descendência fidalga, formados nas correntes literárias e filosóficas européias dos finais do século XIX e preocupados com temas esotéricos e empenhados num trabalho coletivo em prol da cultura e da língua galega.
Em 1917 com a fundação das Irmandades da Fala, organização que unia as reveindicações linguísticas e de caráter político. A aposta do grupo de Ourense pela orientação cultural do movimento se concretizou com a criação da Revista Nós em 1920. Nesta publicação, que durou até julho de 1936, problematizou a autenticidade antropológica do ser galego com um atlantismo de raíz celta com a intenção de "europeizar" a literatura galega.
Outros dois escritores, Castelao e Rafael Dieste, também podem ser estudados como pertencentes à Geração Nós - na medida em que a sua produção enxerga uma luz nessa etapa que se estende de 1916 a 1936 - mostram diferenças significativas com Vicente Risco e Otero Pedrayo: afastados do intelectualismo de Ourense, Castelao e Dieste criam obras estilisticamente mais singelas, simples e contidas na forma, entretanto com personagens típicos galegos. Poder-se-ia citar a figura do labrego, quer dizer, do agricultor, do homem do campo.
Em todos os casos, a prosa adquire uma forma mais madura - nos campos científico, filosófico e artístico-, e a narrativa exibe pela primeira vez uma vocação de modernidade e modernização, incorporando o maravilhoso e o fantástico como temas literários, além disso o humor vem como traço essencial da cultura galega, em contraposição com a comicidade mais vulgar de alguns precedentes.
SOBRE O AUTOR: Rodrigo Barreto da Silva Moura é estudante de Mestrado em Literatura Portuguesa e Galega pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Brasil.