Cinco são os âmbitos nos quais destaca especialmente a minha biblioteca. Em primeiro lugar as publicações sobre a nossa cidade e sobre os seus muitos aspetos, artísticos, históricos, naturais, etnográficos, monumentais e humanos, com muitos livros de e sobre os nossos vultos mais importantes. Em segundo lugar, livros sobre educação e pedagogia, que é a minha especialidade e profissão, durante os últimos quarenta e dous anos. Neste campo tenho verdadeiras jóias, como as coleções completas da editorial argentina Kapelusz, que nem tem na sua totalidade a biblioteca nacional de Buenos Aires. Em terceiro lugar, as publicações de cultura lusófona, galega, portuguesa e brasileira e mesmo de Goa, com coleções completas de revistas como Nós e A Nosa Terra e outras fac-similares.
Em quarto lugar, a secção de cinema. Sem temor a engano, a minha biblioteca cinematográfica pode considerar-se como a melhor que existe na Galiza. Na mesma figuram coleções completas de livros e revistas galegas, espanholas, catalãs, francesas, italianas, alemãs, inglesas, cubanas e doutras nacionalidades. Também numerosos vídeos e DVDs de cinema clássico e de todos os diretores e países.
Por último, e em quinto lugar, está a minha extraordinária biblioteca dedicada a Tagore, com livros de ele e sobre ele em todos os idiomas do mundo, incluído o esperanto. Se ninguém lhe põe remédio, e parece que esse é o seu destino final, esta biblioteca, dentro dos dous próximos anos, terminará por ir para a Casa da Índia de Valhadolid. Embora o que subscreve gostaria mais de que ficasse na nossa cidade. Junto com as de Blanco Amor, Vilanova e Ben-Cho-Shey, num edifício digno de Ourense.
Mas, como cheguei a adquirir este meu grande amor pelos livros? Essencialmente três foram as causas que originaram o meu aprécio pela leitura. O ter nascido na própria escola da minha aldeia de Corna. Com três e quatro anos, a mestra, natural de Porto de Souto, Mª Consuelo Dolores Nóvoa Portugal, bondosa, alegre e carinhosa, levava-me à sua aula no seu colo. Por isto aos quatro anos já lia e escrevia. E a minha posterior mestra de primária, Carmen Barbosa, que há pouco tempo que faleceu, desenvolvia todos os dias atividades leitoras, deixando-nos escolher a nós os livros da biblioteca da aula, formosos e variados, de histórias, contos, fábulas, lendas e poesias.
Em segundo lugar, o meu pai João, de quem sempre ganhava livros que me trazia de Lalim, Carvalhinho e Ourense, quando ia às feiras destes lugares. A minha mãe Rosa, pela sua parte, contava-me ao lado da máquina de costurar, formosos contos e recitava-me ditados populares e poemas. Em terceiro lugar, a minha esposa Ana, extraordinária professora de língua e literatura castelhana no Instituto do Couto, recentemente reformada. Grande amante da leitura, tem lido infinidade de livros e teve o detalhe de me presentear no ano 1966, sendo ainda noivos, os livros primeiros de Tagore. Também obras de Juan Ramón Jiménez, Machado, Gabriela Mistral, Neruda, Lorca, Saroyan, Galeano, Lajos Zilahy, Steinbeck, Pearl S. Buck e o finês Sillanpäa.
Porque eu muito gostei delas no seu dia, e ainda hoje, recomendo-lhes aos meus leitores leiam as obras dos autores antes citados, e de Tagore as novelas Gora e O Naufrágio e os seus contos. Ademais do livro de poemas O Jardineiro e o de aforismos Pássaros perdidos. Entre os galegos A Esmorga e La catedral y el niño de Branco Amor, Memórias de um neno labrego de Neira Vilas, Sempre em Galiza de Castelao, Vida, paixão e morte de Alexandre Bóveda e os poemas de Celso Emílio e Manuel Maria. Dos modernos recomendo eu Manuel Ribas, Guisão, Ferrim e Caneiro. Entre os lusófonos Torga, Pessoa, Eça, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Drummond de Andrade e Cecília Meireles.
(*) Didata e Pedagogo Tagoreano.