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240713 ben-cho-sheyGaliza - PGL - [José Paz Rodrigues] Acaba de ser inaugurada no Centro Cultural “Simeón” de Ourense uma muito interessante Mostra-Exposição monográfica dedicada ao grande polígrafo galego José Ramom e Fernández Ojea, conhecido com o sobrenome de “Ben-Cho-Shei”. Estará aberta até o próximo 18 de agosto. Recomendo aos meus leitores e amigos que a visitem. 


A exposição é o resultado da colaboração entre as áreas culturais das Deputações de Lugo e Ourense. Por isto, antes de vir a Ourense esteve exposta na cidade lucense. O objetivo da mesma é recuperar a figura do grande galeguista ourensano, injustamente esquecido, e com categoria para Galiza similar a Cuevilhas, Risco e Otero. Dous grandes blocos temáticos são o conteúdo desta exposição: uma amplíssima fotobiografia, com imagens muito lindas, curiosas e interessantes, e, sob o lema de “Andar e aguçar”, os trabalhos e os dias de Ben-Cho-Shei, ao redor das suas importantes facetas de educador e pedagogo, etnógrafo, arqueólogo, escritor, jornalista, heraldista, político e galeguista. Uma abundante informação gráfica, documental e bibliográfica ilustram as informações sobre as variadas facetas culturais em que destacou. Ademais, por sorte, em Ourense contamos com a sua biblioteca e arquivo, adquirido no seu dia, graças à sensibilidade de Victorino Nunhez, para a biblioteca da Deputação ourensana. Por isto a exposição pôde enriquecer-se aqui com materiais fornecidos por esta biblioteca, que dirige com acerto Isabel Almuinha. Só tenho que lamentar que os que desenharam e organizaram esta importante exposição não contaram com a colaboração de um dos maiores amigos de Ben-Cho-Shei, como foi Isaac Estraviz. Quem no seu dia prologara essa monografia tão importante dedicada ao galeguista, intitulada Galiza no Coração, editada por Edições do Castro. E não quero esquecer-me que há poucos anos a AGAL realizou no Liceu de Ourense uma homenagem na lembrança de Ben-Cho-Shei, em que participara o seu neto, junto com Estraviz, Barbosa e eu mesmo. Sobre o particular existe no PGL a oportuna resenha do ato.

Este grande galego e ourensano, figura para mim indiscutível que sempre admirei e apreciei, e que tive a sorte de tratar em Madrid e Ourense, foi um grande polígrafo, educador, pedagogo, etnógrafo, historiador, geógrafo, especialista em heráldica e galeguista de pró. Em 1923 adquirira o título de mestre na Escola Superior de Magistério madrilena. Exerceu de mestre excecional em Carinho e Santa Marta de Moreiras, na comarca ourensana da Derrasa. Em 1935 aprovou a oposição para inspetor de ensino primário, ocupando vaga em Lugo, onde foi importante dirigente do Partido Galeguista. Em 1937 foi suspenso de emprego por três meses e obrigado a deslocar-se a Cáceres, como inspetor, exilado da sua Terra, que tanto sempre amou. Terminou como inspetor em Toledo e publicou artigos muito interessantes e livros, como o Catom GalegoSanta Marta de Moreirasos Baldaquinos galegos e o Baralhete, sobre o “idioma” dos afiadores. Com uma bolsa das Deputações galegas realizou ampliação de estudos pedagógicos na França, Bélgica e Holanda. Coordenou durante anos a Página Pedagógica do diário ourensano La Zarpa. Na qual publicou interessantes artigos sobre os grandes pedagogos Decroly e Pestalozzi e sobre a Escola Nova e o tema da língua galega no ensino. Sempre se interessou pela cultura popular galega: os jogos, o ciclo das festas populares, os ofícios e o artesanato. Escreveu muitos e variados artigos sobre temas nossos e apoiou sempre a nossa língua e o seu ensino, defendendo claramente a importância que teria na Galiza o ensino do idioma português, versão culta da nossa própria língua. Com Risco e Otero realizou no seu dia o roteiro a Santo André de Teixido. E difundiu, com estratégias muito adequadas e sempre com humor e alegria, o galeguismo. Sabendo como relacionar-se com a gente moça galega. Por exemplo, nos grupos “Castelão” e “Brais Pinto” de Madrid. Ali foi onde eu o conheci, quando, na feira do livro da capital, atendia o pavilhão do livro galego. Era um prazer estar ao seu lado. Irradiava alegria, bondade, entusiasmo e vibrações positivas.

O maior investigador sobre a Festa dos Maios

O dia 2 de maio de 1988 falecia José Ramom e Fernández-Ojea, mais conhecido pelo pseudónimo de “Ben-Cho-Shei”. Vêm de cumprir-se, portanto, os 25 anos do seu falecimento. Eu quero lembrá-lo hoje, não só pela exposição sobre a sua figura da qual antes falei, como também porque o considero o maior experto sobre a festa popular dos maios, a mais antiga do nosso ciclo anual, e da qual eu tanto gosto e sobre a que muito investiguei. Infelizmente, por decisão muito equivocada de todos os concelheiros ourensanos, há uns anos que a festa popular mais formosa, e de maior significado, do ciclo anual, não se celebra no dia 3 de maio, que foi feriado em Ourense durante muitas décadas. E que “Ben-Cho-Shei”, que amava os maios como ninguém, não teria permitido, protestando energicamente diante do concelho ourensano por ter desprezado esta festa, e ser levada agora a uma situação quase residual, com muito pouca participação e qualidade. Para recuperá-la, como merece pelos seus valores históricos, etnográficos e ecológicos, teria que voltar a ser na data em que sempre fora desde tempo imemorial. A ela vinha sempre desde Madrid “Ben-Cho-Shei”. No dia 1 ia às de Marim, Ponte Vedra, Poio e Vila Garcia, e no dia 3 achegava-se à de Ourense, presidindo muitas vezes ao júri correspondente. Graças à sua sensibilidade por esta festa, temos a sorte de contar na biblioteca do centro cultural do Simeom, com tudo o que ele recolhia da mesma nas localidades antes citadas: fotos que ele tirava de maios enxebres e artísticos, grupos de cantores, participantes e numerosas coplas dos diferentes grupos criadores de maios pontevedreses e ourensanos, nas respetivas festividades locais. Se alguém quer pesquisar sobre esta festa popular não tem mais remédio que consultar o tesouro que nos deixou da sua recolha durante numerosas edições, e que conservamos na nossa cidade.

Continuo a considerar que foi um imenso erro mudar na nossa cidade a data de celebração da festa dos maios. Penso que, tanto o grupo de governo do concelho como os dous grupos da oposição, atuaram neste tema um pouco alegremente, de maneira irreflexiva e, até certo ponto, de forma irresponsável. Em Ourense a festa dos maios fora sempre no dia três de maio e ademais feriado local. Isto favorecia a participação na festa dos diferentes estabelecimentos de ensino do nosso termo municipal. Que é a melhor maneira de assegurar a continuidade duma festa popular muito importante do nosso ciclo anual. Se Bem-Cho-Shei estivesse fisicamente entre nós, sendo o galego que mais amava esta festa, estamos seguros que nunca aprovaria a decisão da Câmara Municipal ourensana. Além do mais é paradoxal que seja agora variável a data quando se conseguiu que fosse declarada a festa de interesse turístico. Estamos a tempo de emendar o erro e que uma nova corporação arranje o tema, voltando a colocar a data no seu lugar.

“Desde que me reformei vou todos os anos à minha Terra para ver a festa dos Maios, pela que sempre tive grande agarimo. Chego a Ourense no dia 28 ou 29 de abril, no dia 30 vou dormir a Ponte Vedra, para no dia 1º ver os maios ali, em Marim e mais em Redondela”. No ano 1969 escrevia isto o ourensano José Ramom e Fernández-Ojea (Bem-Cho-Shei). No dia 3 de maio, durante muitos anos, este galego de alma e coração, nunca faltava à convocatória dos maios ourensanos. Jamais lhe pagaremos o legado que nos deixou, a sua excelente biblioteca e infinidade de fotos e coplas desta formosa festa de amor à vida, à natureza e ao amor. Festa que permanece, apesar de viver na época dos videojogos e telemóveis de última geração. Isto só se explica por ser a festa mais antiga, nascida já nos momentos finais do Paleolítico, e, em concreto, no “Magdaleniano”. Tendo grande esplendor nas culturas médio-orientais e nas greco-latinas. Em Roma, por exemplo, durava todo o mês de maio, período em que se organizavam todas as festividades de honra a deuses e deusas relacionadas com a natureza, o mundo vegetal, animal e humano. A segunda razão é que é a festa do amor, e sem amor não há vida. A cidade de Ourense (“Auriensis”), que como todos sabem tem origem romana, foi um lugar onde a festa teve sempre maior enraizamento. Por isso tampouco deve admirar que sejam de Ourense os maiores investigadores desta festa. E acima de todos eles Bem-Cho-Shei. Com quem concordamos plenamente. Especialmente quando assinala que esta era a festa na honra das deusas do amor. Vénus em Roma, Afrodita na Grécia, Astarte no Egito, Istar na Assíria e Milita na antiga Babilónia, que vem a coincidir quase com o território atual do Iraque. Onde aliás levam tempo sem amor e, portanto, sem festa dos maios. Pelo desamor dos poderosos que nunca estão fartos e sempre querem mais. Bem-Cho-Shei dizia ademais, e também nisso concordo, que a palavra “Maia” quer dizer em sânscrito “ilusão”. E esse é o verdadeiro significado dos maios que se celebram na primavera em muitos lugares do planeta. “É a festa da ilusão e da alegria, da primavera e da juventude, da tradição renovadora, da esperança e do relembro, das flores e dos nenos, da prosa e da poesia e, especialmente, da vida e do amor, tão profundamente ligados”, continuava a dizer o nosso galego exemplar. A quem muitos lhe devemos o seu apoio e a sua alegria quando estando em Madrid desfrutava ao estar com os jovens estudantes da Galiza. E, por ele, na feira do livro havia um pavilhão sempre para o livro galego, onde desfrutávamos todos os galegos ao carão desta pessoa modelo de galego bom e generoso. Eu, por sorte, estudando na Complutense, coincidi ali com ele nos anos 1969, 70 e 71.

Entristece-me ver como é um dos mais esquecidos, quando merecia por tudo o que escreveu, realizou e lutou pela nossa língua e cultura, um lugar preeminente no olimpo dos galegos ilustres. Se calhar, porque era amigo de dizer “ao pão pão e ao queijo queijo”, é pelo que está mais no esquecimento. Esta injustiça, infelizmente, bem poderia perdurar. Tão excelente pessoa, em todos os sentidos, não se merece o esquecimento que continua a tributar-lhe a sua cidade de Ourense. Que deveria reparar quanto antes este desprezo injustificado. Para começar voltando a festa ao dia três, dia da Santa Cruz. De alguma maneira esta exposição acima mencionada vem reparar em parte a injustiça de que falo. A sua figura bem o merece, porque há que colocá-lo ao nível de outros grandes como Otero, Risco e Cuevilhas.


José Paz Rodrigues é académico da AGLP, didata e pedagogo tagoreano.


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