1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (0 Votos)

020310_mdias.JPGDL - Damos continuidade à série de entrevistas a representantes sindicas das centrais galegas, com a recém constituída COG.


Chove, é um dia cinzento. Lobregamos ao longe, desde a praça da estaçom de comboios o letreiro  da Central Obreira Galega. Ao chegarmos atende-nos Mário Dias Bustamante, responsável deste pequeno sindicato nacionalista e de classe constituído há pouco mais de seis meses. 

A sede da COG é na Corunha, no popular bairro dos Malhos. Ocupa a velha sede da CUT, organizaçom que um grupo de trabalhadores da comarca herculina decidiu abandonar para conformar este novo projecto sindical.

Mário gasta óculos, barba e cabelos grisalhos. Desculpa-se por ter de fazer uns telefonemas urgentes antes de começarmos a entrevista. Nós pedimos licença para tirarmos umhas fotos e analisamos com vagar o local. “Se procurardes cartazes ainda nom há muita cousa porque levamos pouco tempo”, adverte-nos amistoso Mário, que nom deixa o telefone. “Estamos envolvidos num conflito importante em IPASA - empresa corunhesa do sector padeiro-. Despedírom um companheiro e estamos muito atarefados”. Mário coordena: “amanhá às 10 no sindicato para irmos à concentraçom”. Vê-se-lhe soltura no seu trabalho. Mexe-se bem entre papéis, canetas, marcadores e pastas. Telefona de novo, dá uns documentos a um trabalhador que chega fumando um charuto.

Diário Liberdade - Quais fôrom as razons que vos levárom a criardes a COG?

Mário - As razons reais fôrom a falta de pluralismo e de democracia interna que estava a caracterizar a CUT. Na origem, esse sindicato foi maioritariamente formado por companheiros procedentes da CIG, que no momento em que nos cindimos montamos a CUT nesta comarca e em mais três ou quatro.

O motivo, naquela altura, que nós colocamos para promovermos aquela cisom, foi o mecanismo de controlo que impunha a UPG sobre o resto da central. Todos esses vícios fôrom sendo trasladados e impregnando umha central muito mais pequena, como é a CUT, começando a desaparecer a democracia e o pluralismo interno, regendo-se como umha organizaçom política mais do que como umha organizaçom sindical.

DL - Com a COG, som já três as centrais sindicais enquadradas nas coordenadas nacionais e de classe. Que diferenças existem entre CIG, CUT e este novo projecto da COG?

Mario - A COG é um projecto pequeno, que está a começar, que nasce pola falta de democracia e pluralismo interno nas restantes centrais nacionalistas; isso é assim nestes momentos, no futuro, veremos... Se as cousas mudassem, poderíamos reconsiderar a nossa posiçom, mas por enquanto nom. Vamos ir avante até o fim, morrendo com as botas postas, se for preciso.

020310_cog.JPGDL - Quais som os objectivos da COG?

Mario - Somos umha central sindical nacionalista, de classe, que está numhas coordenadas, nom de apoio explícito, mas que nom veríamos mal a independência nacional. Por outra parte, caracteriza-nos a combatividade nos problemas laborais, a democracia e o pluralismo interno, defendendo um modelo de tipo assemblear; em definitivo, as mesmas causas que nos levárom a durante dez anos, levantar a CUT nesta comarca.

DL - Desde a chegada ao poder do PP na Comunidade Autónoma da Galiza, tenhem surgido numerosas vozes dentro da esquerda galega que reclamam a convocatória de umha greve geral em resposta aos planos da burguesia de que seja o povo trabalhador galego quem pague a crise. Qual a posiçom da COG?

Mario - Há outros temas que nos atingem mais directamente, mas nom esquecemos essa perspectiva. Nom temos umha avaliaçom própria, mas sem dúvida teria que haver greve geral neste país já. Se nom, a crise capitalista vamos pagá-la os de sempre, a classe trabalhadora.

DL - Crês que a crise em que estamos mergulhados pode ser o fim da civilizaçom burguesa e o início de umha vaga de revoluçons transformadoras ou é mais umha crise das tantas que tem sofrido o capitalismo?

Mario - Nom é umha crise cíclica qualquer, pois está muito mais acentuada tocando fundo o próprio sistema, mas nom creio que este seja o fim do sistema capitalista. As crises regeneram-se com condiçons de trabalho insofríveis e trabalho mais precário, insofrível para a classe trabalhadora.

DL - Que leitura fai a COG dos processos revolucionários latino-americanos?

Mario - Ainda nom nos deu tempo a fazer umha avaliaçom, mas há casos interessantes como a Venezuela e a Bolívia, mais do que o Equador. Está a chegar-se a umha etapa final no Terceiro Mundo para o grande sistema capitalista, que controlava todos os recursos daqueles países, nos quais, nestes momentos, os povos já sabem que as alternativas som outras. Chávez e Evo Morales mantenhem-se no poder apesar das tentativas do imperialismo de tentar derrocá-los, porque já contam com sociedades maduras para a defesa dos pressupostos, se nom revolucionários, sim pré-revolucionários.

DL - Com que Galiza sonham os trabalhadores e trabalhadoras da COG?

Mario - Dentro da COG há filiados de todo o tipo, mas, partindo dos seus Estatutos e eu como responsável actual, gostaria de umha Galiza onde se repartissem todos os bens entre todo o povo e houvesse igualdade de oportunidades e igualdade económica para viver no próprio país, sem ter que emigrar. Para isso, teria que haver umha mudança real, indo em direcçom ao socialismo, com umha estrutura socioeconómica própria que nos permitisse desenvolver-nos como país, o que nestes momentos nom temos.

Somos um país que depende dos serviços, mais que da indústria ou do campo, a quota do leite é um exemplo de como nos cortárom a capacidade de desenvolvimento agrário, o mesmo nas pescas, etc.

020310_mdias2.JPGDL -Essa Galiza é possível?

Mario - Nestes momentos nom, no futuro veremos. Hoje nom se admite a Europa das nacionalidades, o imperialismo está ao máximo nível económico, com estados com menos peso que algumhas multinacionais, como a maquinaria automobilística alemá, por exemplo. No caso das nacionalidades como a nossa é ainda mais complicada a situaçom, com umha Europa contrária aos povos e ao serviço das multinacionais.

O caminho deveria ser esse, mas hoje nom se enxerga a soluçom, que para mim é a via do socialismo e da independência nacional de cada país na Europa.

DL - Como vê a COG a situaçom sindical galega?

Mario - Actualmente a situaçom é muito difícil. Estám a reduzir-se postos de trabalho, a fazer “limpeza” de trabalhadores molestos nas empresas através de ERES, deixando as maos abertas ao grande patronato para fazerem e desfazerem à vontade no País. Por isso fazia falta umha greve geral nacional.

DL - Como parte do soberanismo galego, qual é a vossa avaliaçom da trajectória deste movimento nos últimos anos, acha que o independentismo avançou na Galiza?

Mario - Há mais consciência nacional, mas nom tenho tam claro que o avanço nessa consciência, que se vê no incremento do BNG, se tenha transladado ao projecto independentista, em termos organizativos nem de apoio de massas. As tentativas de criar umha organizaçom independentista nom tem coalhado e, portanto, podemos dizer que nom tem havido, no independentismo, um avanço semelhante ao do nacionalismo.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.