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medicosBrasil - Envolverde - [Claudio Carneiro] Governo aposta que dispor de um médico ruim é muito melhor do que não oferecer nenhum à população.


O país necessita formar o dobro da quantidade de médicos prevista para os próximos oito anos. O objetivo é atingir a taxa de 2,5 médicos para cada mil habitantes – estabelecida pelo governo – a ser alcançada até 2020. Os ministérios da Educação e da Saúde receberam a difícil tarefa da multiplicação dos pães. Em outras palavras, as faculdades de Medicina precisarão despejar por seus portões quantidade muito maior de médicos até o fim desta década, uma vez que o governo considera baixa a relação de 1,95 médicos para cada mil habitantes, verificada em 2011 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Na matemática do governo, o número de 371 mil médicos em exercício precisa pular para 520 mil – o que vai exigir a diplomação de 228 mil profissionais no curto prazo. Tempo mais exíguo ainda se considerarmos que um curso de Medicina leva seis anos para ser concluído. Além disso, a abertura de novas vagas em universidades já existentes, ou de novas faculdades, exige professores e funcionários capacitados, equipamentos modernos, tecnologia, cadáveres, espaço físico, etc. Não são banais as tarefas que caíram no colo dos ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Saúde, Alexandre Padilha – este último citado nos grampos da Operação Monte Carlo, por autorizar negócios escusos com o grupo de Carlinhos Cachoeira.

O Ministério da Saúde projeta que, em 2012, serão formados 14.660 médicos – 16.240 em 2014 – o que é pouco, para atingir a meta e substituir os colegas que se aposentam, morrem ou, simplesmente, desistem da profissão. "Aumentar o número de vagas nas universidades não é a solução", diagnostica o clínico e pneumologista Maron El Kik. Com 40 anos de profissão, ele defende uma distribuição de médicos uniforme em todo o território e mais: "Os recém-formados têm que ter noções seguras de clínica médica, pediátrica e de clínica cirúrgica obstétrica-ginecológica", afirma.

O país tem 181 faculdades de Medicina, cem delas instaladas na última década. Segundo o IBGE, entre 2000 e 2009, a quantidade de médicos aumentou 27% enquanto a população brasileira cresceu 12%. Para atingir a marca que supera meio milhão de médicos, Mercadante e Padilha vão ter que dobrar a carga, distribuindo 30 mil diplomas a cada ano. "O aumento do número de vagas não é solução", aponta o cirurgião Igor Dutra, de 29 anos e três de formado: "Essa medida isolada apenas contribui para dados estatísticos, sem que seja efetivo um maior cuidado com a saúde da população", reclama.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um médico para cada mil habitantes. Mas devido às características de sua demografia – com grupos isolados em diversos Estados, contrastando com a grande densidade nas capitais – o Brasil tem áreas inteiras sem um único médico. O governo aposta que dispor de um médico ruim é muito melhor do que não oferecer nenhum à população.

País pode importar "bolivianos"

Assim, poderá, por exemplo, incentivar o ingresso de profissionais que cursaram faculdades estrangeiras. Este é o grande risco. Mercadante e Padilha já buscam, digamos, flexibilizar as regras exigindo que médicos formados no exterior, como na Bolívia, por exemplo, passem por um exame de revalidação do diploma. Até então, esta era a barreira a impedir que profissionais de baixa qualidade atuassem no mercado brasileiro. Ao derrubar o Exame Nacional de Revalidação de Diploma Médico – batizado de Revalida – o governo abrirá a porteira, premiando a incompetência: em 2010, dos 628 estrangeiros – ou brasileiros formados fora do país – somente dois foram aprovados para atuar no território nacional. Em 2011, 536 fizeram as provas e 65 foram aprovados.

Mas o problema da saúde é complexo e tem outras origens. Mesmo oferecendo salários mais altos que os do prefeito – acredite – alguns municípios do interior não conseguem contratar um único médico. Em alguns casos a oferta chega a R$ 20 mil por mês. Os recém-formados preferem as grandes cidades – o que não impede a sobrecarga de atendimento e a superlotação.

Assim como Maron El Kik, o CFM também não acredita em escassez de médicos, e sim na má distribuição destes profissionais. O Conselho contribui com uma sugestão: a criação de uma carreira de Estado que retire o profissional de onde o mercado está e o leve aonde o mercado não foi – como ocorre com juízes, promotores e militares. A região Sudeste concentra 42% da população do país e 55% dos médicos. No Rio de Janeiro, a relação é de um médico para cada 306 pessoas – o que não implica, necessariamente, em atendimento de qualidade; 413 cidadãos paulistas têm um médico à disposição. Já no interior do Amazonas existe um médico para cada grupo de 8.944 habitantes. Em Roraima, a situação é mais dramática: um para 10.306.

Mesmo trabalhando a mais de 300 quilômetros de distância, os médicos Maron e Igor têm receitas parecidas para este mal. A relação de um médico para mil pacientes é bastante razoável, segundo Maron: "E se tivessem melhor formação, esta medida poderia subir até para dois mil habitantes por médico". Igor também acha aceitável o índice apontado pela OMS, "desde que haja uma ação atuante no campo da medicina preventiva", acrescenta.

Números da medicina no Brasil e no mundo

As incoerências continuam. Por motivos óbvios, os Estados que tivessem menos médicos deveriam ter as menores mensalidades de suas universidades e garantir um maior número de profissionais, certo? Errado! O Centro Universitário Nilton Nunes, do Amazonas, tem o curso de Medicina mais caro do país: R$ 6.224,63 mensais.

Das 500 melhores universidades de Medicina do mundo – ranqueadas pela Universidade de Xangai –, 151 são norte-americanas, 39 alemãs e 37 britânicas. O curso de Medicina da USP – o melhor do Brasil – ficou na 76ª posição. É a única brasileira no Top 100. A Medicina brasileira tem longo caminho a percorrer.


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