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Em entrevista à Caros Amigos, a diretora do Observatório das Violências Policiais, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ângela Mendes de Almeida, aborda a nova crise na segurança e o embate de um governo conservador contra a população pobre.

O site de Caros Amigos abre com Ângela Mendes uma série entrevistas sobre os ataques atuais na capital paulista. Leia abaixo.

Caros Amigos - Como você vê e entende esse fenômeno de violência em São Paulo? O que acha que está por trás disso?

Ângela Mendes de Almeida - Os agentes do Estado – policiais militares, civis, guardas-civis e outros – sempre mataram, mas há épocas, na história recente de São Paulo, em que a violência policial recrudesce. Tivemos o Massacre do Carandiru, até hoje impune. Depois o Massacre do Castelinho, em 2002, no qual o então secretário da Segurança de Alckmin, juntamente com um juiz e um promotor, retiraram da prisão dois presos já condenados, para infiltrá-los no PCC e convidar algumas pessoas para um assalto a um avião com dinheiro, inexistente: as doze, que aceitaram o convite, foram metralhadas no pedágio do Castelinho. Depois os crimes do maio sangrento de 2006, longamente retratados como ação do PCC, que já estão agora desmascarados como o que foram de fato: matança indiscriminada de ao menos 446 pessoas por agentes do Estado em apenas oito dias.

CA - Você acha que existe alguma relação entre os assassinatos que estão ocorrendo e a proximidade das eleições?

AMA - A operação Castelinho teve um claro objetivo eleitoral. Quando mais tarde, o governador Alckmin concorreu, em sua propaganda estava o anúncio do fim do PCC obtido nesse massacre e a promessa de segurança.

É difícil analisar agora porque as mortes cotidianas cometidas regularmente por policiais à razão de uma pessoa e meia por dia, em média, tiveram um incremento tão grande após o episódio em que a Rota matou seis pessoas classificadas como sendo do PCC, no fim de maio desse ano. Mas não excluo uma operação eleitoral visando insuflar a população de classe média e alta contra "os bandidos", isto é, contra os pobres. Espalhando o medo e o sentimento de ameaça à propriedade privada, alguns políticos esperam ganhar eleitores com a proposta de "tolerância zero", isto é, aumentar o extermínio.

CA - Você acha que é possível fazer uma relação entre o que está ocorrendo hoje e o que ocorreu em maio de 2006?

AMA - É sim possível fazer uma relação a partir dos números. Os oito dias de matanças de 12 a 20 de maio foram dramáticos. Hoje temos visto uma matança contínua, porém mais espaçada no tempo. Porém há muitos mecanismos que se repetem. Um deles é o toque de recolher, que a imprensa, seguramente de má fé, atribui ao "crime organizado", mas que nós sabemos que é imposta pelos próprios policiais nos bairros das periferias.

Em relação àqueles crimes de 2006, dos quais pudemos ter na imprensa e por via de familiares que elaboraram a narrativa do que aconteceu, temos uma perigosa novidade que me assusta nos crimes atuais. Além dos "comboios da morte" em Osasco, que foram percorrendo uma rua e mataram oito em uma noite, depois foram percorrendo bairros próximos e mataram outros oito em uma outra noite, temos agora o sistema de perseguir motoristas que supostamente não param ao ser advertidos e, como castigo a esse crime, matá-los. Em uma só noite, foram outros oito.

Nessa perseguição endoidecida, acabaram por matar "um inocente", um empresário. O jornal de maior circulação de São Paulo titulou: "PM erra, mata empresário". Em um primeiro momento fiquei indignada, pois crime não é "erro". Mas afinal o jornal tinha razão: PM "erra" ao matar alguém que não é pobre, que não faz parte das populações do território da pobreza. Sem dúvida era isso que queriam dizer, pois no caso dos mortos anteriores, não se falou de "erro".

CA - Qual é o tipo de impacto que que causa na polícia paulista as declarações do governador fez "bandido tem duas opções: ou é prisão ou é caixão" e, recentemente, afirmou que quem atacar a polícia "vai se dar mal" e que "não recua um milímetro"?

AMA - As palavras do governador Alckmin são uma incitação aos crimes da polícia. Ele não será candidato a nada, mas seu partido tem um candidato. Será que ele não está projetando para o seu partido uma campanha eleitoral reacionária em que os crimes de policiais serão considerados um trunfo?

CA - E em relação ao comandante da Rota, tenente-coronel Salvador Modesto Madia, que foi um dos comandantes do chamado Massacre do Carandiru, e que em recente declaração à "Folha de S. Paulo" afirmou que não se importa com o número de mortes, mas sim com a legalidade delas.

AMA - Quanto ao novo comandante da Rota, que ao dar tais declarações mostrava-se preocupado apenas com a "legalidade", agora que a PM matou um empresário ele teve que reconhecer que havia um "reparo legal" pois a vítima não estava armada. Porém, quem nos prova que as outras vítimas, os 16 de Guarulhos, os 8 mortos por não parar seu carro, os três rapazes desaparecidos em Guarulhos estavam armados? As execuções sumárias agem na maior ilegalidade perante o Estado democrático de direito, pois se houvesse efetivamente uma reação de legítima defesa de sua vida, seriam os criminosos a ter que provar que assim foi. E a prática policial de carregar o morto, ou o quase morto para hospitais, recolher as cápsulas deflagradas e desarranjar a cena do crime é uma confissão plena de ilegalidade

CA - Uma das justificativas que a Secretaria de Segurança Pública tem dado aos assassinatos é que eles são brigas de gangues. Você acha que essa versão é plausível?

AMA - Essa justificativa é dada quando os policiais matam mascarados com toucas ninjas, simulando uma chacina, fruto de uma hipotética luta entre gangues. Mas a macabra "dança" das chacinas demonstra que a execução, feita sempre em locais públicos, em bares e padarias, às vezes com pré-aviso de toque de recolher e ameaças da polícia fardada, é uma verdadeira assinatura de mortes cometidas por agentes do Estado para espalhar o terror nas periferias.

Leia também: Em São Paulo tem sido utilizada a linguagem da guerra, carta branca à violência policial.

Confira reportagem especial sobre esta nova onda de ataques na edição 185 da revista Caros Amigos, nas bancas, durante esse nesse mês de agosto.


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