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launa capaBrasil - Blogueiras Feministas - [J. Oliveira e Maria Gabriela] Launa é o romance lésbico e feminista de Gabriela de Andrade Rodrigues. De acordo com Gabriela, ela escreve para tentar entender a vida:


Desde muito pequena, mantinha cadernos e diários com minhas observações e aflições. Com o o tempo, tive vontade de aliar isso com a arte. Era estudante de Artes Plásticas, mas minhas produções visuais não satisfaziam todos meus anseios de comunicação e por outro lado, minha militância feminista e anti-capitalista não transmitiam minhas aflições individuais. Acredito que resolvi escrever para tentar “curar” todas essas angústias e necessidades. Como já ouvi outras artistas dizerem, escrevo porque preciso.

Sabemos o quanto essa temática pode ser difícil, especialmente na literatura. De acordo com a sinopse:

Cecília é uma jovem condenada a viver numa instituição de detenção penal para incapazes mentais. Bissexual, polígama e ativista política, ela sobrevive num cotidiano repetitivo e sem sentido até o último ano de cumprimento de sua pena. As transformações começam quando, com suas colegas de cárcere e seu amigo Inácio, constrói a utopia de uma sociedade solidária e receptiva ao sexo feminino. O tempo passa até um trágico incidente acontecer e transformar suas vidas novamente. Prestes a desistir, Cecília encontra Launa e a possibilidade de uma estranha realidade. Dividida entre a lucidez e a loucura, ela recorre à escrita para se entender e fazer conhecer.

Durante toda a leitura, que ocorre rapidamente, já que a história é envolvente, o sentimento de confusão é o que mais se destaca. Mas, a confusão não é causada pela linguagem utilizada, nem por nenhum erro da autora, a confusão ocorre dentro de nós, pois é a mesma que ocorre na história de Cecília. Os fatos descritos na narrativa também começam a fazer parte de quem a lê.

A narração intercalada entre a visão do narrador observador e a de Cecília provoca um sentimento de apreensão no leitor, que é imerso no ambiente confuso e extraordinário da clínica de incapazes mentais, onde mulheres que foram afastadas do convívio da sociedade, por motivos diversos, se aproximam e juntas descobrem um inimigo em comum. Tragédias, amizades e todas as formas de amor recheiam a história.

As ilustrações de traços simples e inocentes, mas ao mesmo tempo perturbadoras, além de algumas poesias complementam a narrativa que nos traz muitas situações fortes e violentas. O livro consegue intercalar a voz de várias mulheres com experiências complexas e doloridas, transformando isso em uma leitura instigante e envolvente.

O feminismo e a intersecionalidade

A importância do feminismo é demonstrada de diversas maneiras, fugindo dos textos tradicionais. Esse é um ponto muito forte do livro, pois o movimento é valorizado de maneira sutil, porém extremamente eficaz. Por exemplo, há a união entre as mulheres que habitam o mesmo setor para se auxiliarem e, dessa união, a especialidade de cada uma foi transformada em aulas para que pudessem compartilhar a importância do amor próprio.

O livro também trata de outros assuntos, que ainda possuem pouco espaço dentro do feminismo, como a homossexualidade, a bissexualidade, a heteronormatividade, a poligamia, a não-monogamia, o tratamento de mulheres com doenças mentais e dependência de drogas, além do racismo. Muitas vezes, a abordagem desses temas ocorre de uma maneira tão simples que são esquecidos os preconceitos. Mas, ressalta o quanto a sociedade precisa evoluir diante deles em apenas um ato: a tragédia que ocorre envolvendo Inácio e as outras internas. Ao tratar de tantas diferenças, põe em evidência situações que nos são tão comuns e presentes a boa parte das mulheres. O aborto, as diversas formas de violência e silenciamento, relacionamentos abusivos, o mito do príncipe encantado, a falta de agência  em determinados contextos, entre outros.

O livro não trata apenas de uma mulher, são várias as mulheres que constroem o feminismo. Portanto, há o desafio da intersecionalidade, que é dar voz para todas as mulheres e conseguir acolhe-las com todas as suas particularidades. Além de ouvir umas as outras, precisamos entender que podemos sempre aprender com todas, porque cada mulher tem a sua história de superação e a sua busca para ter espaço nessa luta contra a opressão.

É um desafio para o feminismo intersecional abarcar todas essas experiências. Enquanto militantes, por muitas vezes deixamos de lado algumas questões que não nos são tão presentes e acabamos por invisibilizar ou até mesmo silenciar ou oprimir outras pessoas que estão lutando ao nosso lado.

Violência e sobrevivência

Um ponto muito importante tratado nesse livro, que é preciso enfatizar, é a complexidade de lidar com os fantasmas particulares criados pela violência sofrida por cada uma das mulheres. Podemos nos ajudar nesse combate, mas é importante lembrar que cada história é única e por mais que existam histórias parecidas cada pessoa tem sua forma de lidar com os próprios traumas e as diferentes formas de opressão podem nos machucar de formas diversas.

Para lidar com isso, passamos individualmente por todo um processo de aceitação da nossa história (que muitas vezes começa com a aproximação com a militância). As vezes demoramos a aceitar que passamos por determinado tipo de violência e, quando conseguimos entendê-la nem sempre é possível encarar situações parecidas sem o minimo de receio. Em alguns casos, a mera menção a um caso parecido ou a algo que nos lembre determinada violência pode nos provocar reações extremas ligadas à superação do trauma em questão.

Por isso, a simples presença de uma pessoa em um determinado espaço pode oprimir. Essa desconstrução, tanto do papel que a sociedade nos impõe como pessoas oprimidas, quanto  de pessoas opressoras é de extrema importância para a militância intersecional. Se queremos um mundo menos violento e menos desigual precisamos primeiro buscar em nós mesmos essa mudança. E então sermos empáticos ao processo de cada um para buscar o próprio espaço nessa luta.

Launa promove uma leitura que valoriza o feminismo como peça fundamental para uma sociedade igualitária, desmistifica clinicas de incapazes mentais, quebra preconceitos e, principalmente, mostra que loucura é uma questão de ponto de vista.

Referência

Launa de Gabriela de Andrade Rodrigues. Editora FAC – Fundo de Apoio a Cultura, 2013.


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