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lesbicas-1Brasil - Vermelho à Esquerda - [Anna Paula Figlino] Nada adianta lutar pela emancipação feminina e pelos direitos LGBTT se não tivermos em mente que a total emancipação não se dará no capitalismo.


Há muito tempo que não publico no blog, tenho me mantido um pouco distante, confesso... Mas logo que o Vermelho à Esquerda foi criado escrevi um textinho sobre a criação de um estereótipo feminino como impulsionador de um mercado. A emancipação feminina, que desde finais do século XIX foi se colocando como uma causa necessária, teve um avanço se formos considerar a forma como as mulheres se colocavam na sociedade no final desse século, e a forma como as mulheres se colocam na sociedade hoje. Ainda existem muitos avanços necessários, mas, de uma forma geral, podemos perceber que o feminismo como ideologia tem uma força capaz de mudar épocas e valores. Mas não simplesmente um olhar positivo, devemos lembrar que tal emancipação não ficou livre de oportunismos burgueses. Os estereótipos femininos criados pela mídia burguesa no começo do século XX tinham como objetivo ditar às mulheres "o que é ser mulher". Ser mulher passou a significar não apenas mão de obra mais barata, mas passou a ser também um mercado consumidor em potencial. Ou seja, a emancipação total feminina, e, na verdade, de toda a humanidade, não é possível em uma sociedade movida por relações capitalistas.

Fora a discussão sobre feminismo, na verdade quero deixar claro nessa publicação que atualmente as discussões de gênero não podem ficar apenas no discurso da emancipação feminina, e isso não é novidade para ninguém. As causas LGBTT devem ser incluídas, e tenho percebido umas semelhanças que quero poder explicar melhor entre o início da emancipação feminina em meados do século XIX e as causas de quem está gradativamente "saindo do armário".

Da mesma forma como a burguesia não tardou em criar um mercado propriamente voltado para mulheres, atualmente, já vi reportagens defendendo o casamento entre pessoas do mesmo sexo com o argumento de que "gays tem muito bom gosto, a arquitetura e o mercado de decoração só tem a ganhar com esses novos tipos de casamento". Personagens gays que tem aparecido com cada vez mais frequência em novelas e seriados em geral contribuem parcialmente para uma melhor aceitação desses tipos de relacionamento, mas a forma estereotipada em que são colocados contribuem negativamente para uma generalização dessas pessoas. A afeminação dos gays e a masculinização das lésbicas, que costumam aparecer com naturalidade em personagens de novelas e seriados, nada mais é do que uma negação da relação entre pessoas do mesmo sexo. Ao criar personagens que têm uma relação homoafetiva, a mídia tende a mostrar que existe na relação "@ dominante e @ dominad@", e sempre colocando a figura mais masculinizada da relação como dominante. O patriarcalismo se reflete na forma como demonstram "o que é ser lésbica" ou "o que é ser gay". Da mesma forma, os travestis são mostrados como figuras extremamente sexualizadas e inclusive como pervertidas, ao estereotipar travestis a mídia não contribui em nada para a aceitação dessas pessoas na sociedade. São mostradas como figuras ridículas, como personagens necessárias a qualquer tipo de humor opressivo e apelativo. Transexuais ainda são raros entre esses personagens, o que de certa forma é uma desconsideração dessas pessoas. Mais desconsiderad@s ainda são @s bissexuais e os casais poligâmicos. Talvez exista em algum seriado, mas não tenho conhecimento, confesso que pouco assisto TV, se alguém souber de algum seriado que aborde o assunto gostaria de saber, podem me indicar... (:

Mas a estereotipação de pessoas LGBTT tem em comum com a estereotipação feminina a já dita criação de um mercado. Da mesma forma como a figura feminina foi vista como mercado consumidor, a figura dos LGBTT vem sendo construída. Tod@s já devem ter ouvido uma piadinha machista alertando os maridos para que mantenham suas esposas longe do cartão de crédito. Tod@s já devem ter visto alguma propagando de shopping colocando uma mulher cheia de sacolas de compra. Gays também têm sido frequentemente vistos como mercado consumidor, mas colocar um gay em um comercial provavelmente não vai ser uma coisa que veremos tão cedo com a mesma frequência, uma vez que a sociedade preserva uma mentalidade homofóbica e um marketeiro provavelmente não quereria "espantar os clientes". Ao invés de inserir gays no mesmo tipo de consumidor comum, como seria inserido, por exemplo, um homem heterossexual caucasiano de classe média, os gays têm sido colocados num mercado à parte, inclusive à parte do mercado voltado para mulheres, sempre com a ideia de estereotipar para delimitar o público consumidor, e ditando aos gays que devem se comportar de forma "afeminada". Criam-se ideias idiotas sobre a forma como deve se portar um gay: usar cor de rosa, roupas mais justas e mais curtas, se depilar, manter o cabelo sempre impecável, as unhas feitas e apenas com base (porque usar esmalte pode fazer parecer um travesti), usar maquiagens leves como base e um batom de cor leve (mas não pode usar mais maquiagem, se não da mesma forma pareceria um travesti), ouvir cantores pop internacionais que fazem músicas apenas para vender, cultuar mulheres que são tidas como sex-simbols, ser cabeleireiro, fazer as sobrancelhas, "desmunhecar", e mais infinitas coisas que se tem colocado como padronização da forma como se comportaria um gay.

Queria concluir meu texto colocando que de nada adianta lutar pela emancipação feminina e pelos direitos LGBTT se não tivermos em mente que a total emancipação não se dará no capitalismo. Devemos romper com esses estereótipos que de nada servem se não para a delimitação de mercados consumidores.

Anna Paula Figlino é estudante de história da USP.


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