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edBrasil - Diário Liberdade - [Evandro R. Saracino] Encerrada a maior greve de professores da história do Estado de São Paulo, o Jornal da Folha aproveitou o momento de fraqueza e tripudiou: Derrotados, professores de SP põe fim à greve. O que o jornal não diz é que os derrotados não são apenas os professores. 


De quem foi a derrota?

O governo pode ter vencido, mas o Estado saiu perdendo. A educação pública continuará sua derrocada. Os professores continuarão trabalhando em regime de miséria, as salas de aula continuarão superlotadas, as associações de pais e mestres continuarão tendo que vender rifas e pizzas pra comprar papel higiênico e produtos de limpeza. Sugiro um título mais adequado para a notícia da folha: A politicagem venceu, a sociedade, mais uma vez, saiu perdendo.

Os grevistas podem voltar para a escola de cabeça erguida. Os poucos guerreiros podem ter perdido a batalha contra a gigante máquina Governo/Mídia, mas defenderam a honra, lutaram pelo que há de mais certo, lutaram pelo justo. Os humilhados e responsáveis pela derrota não são esses, são aqueles que preferiram garantir o bônus, são aqueles que optaram pela licença prêmio, são os que disseram não poder entrar na greve por ser categoria 'O' ou por ser estágio probatório, são os que dão aula pra complementar a renda que é garantida pelo cônjuge e não se interessam pela educação. São aqueles que esperam que o Sindicato, por si só, resolva todos os problemas educacionais, sem que ninguém tenha de ir para a luta. Quando o grevista voltar para a sala de aula, não deve sentir vergonha de si, deve sentir vergonha dos outros, daqueles que não sabem que a vitória só se dará quando a luta for qualitativa e quantitativa.

O enfrentamento contra o governo

O Estado não é contra a educação e a greve não foi contra o Estado. No entanto, nas últimas décadas, o Estado é governado por um grupo que usa como tática, não só para controle social, mas também para fornecimento de mão de obra barata para os polos industriais, o sucateamento da educação publica. Ao mesmo tempo em que o Estado pode se vangloriar de ter universalizado a educação, o governo pode se vangloriar por tê-la transformado em algo inócuo. As duas décadas sob o governo do PSDB marcam o retrocesso da educação no Estado de São Paulo.

No enfrentamento contra o governo, não se pode contar com os outros poderes, pois, apesar da teórica separação entre eles, são compostos pela mesma base governista. Trocando por miúdos, os poderes não lutam pela manutenção do Estado e sim pela sustentação do governo.

É por isso que não devemos nos apoiar na luta sindical por vias jurídicas. Não adianta que fiquemos de braços cruzados esperando a solução legal para nossos problemas, pois ela não virá.

O enfrentamento tem que ser cotidiano, em sala de aula e na sala dos professores. Tem de haver conscientização, tem de haver fortalecimento da base. Tem de haver união! O sindicato é a cimento, mas os professores é que são os tijolos da educação. E quando houver greve, ela tem de ser massiva, pois além de não receber o apoio do poder judicial, ou professores também terão de contar com o enfrentamento da mídia.

O enfrentamento contra a mídia

A coluna de Rodrigo Constantino na revista Veja, ilustra bem o que significa 'contar com o enfrentamento da mídia:

"a qualidade de nosso ensino público é terrível, não é problema de falta de recursos públicos, logo, de nada vai adiantar jogar mais dinheiro estatal nesse sistema falido"

E a mídia tem essa visão por ser malvada? Claro que não. O maior consumidor de revistas e jornais é a classe média, os anunciantes são a elite. A classe média não quer ver seus impostos sendo gastos em coisas que não usufruem. É triste, mas é a verdade. Tem raiva das políticas assistencialistas porque não precisam delas, tem raiva da escola pública e da saúde pública por contratarem serviços particulares, para eles, a manutenção dos serviços públicos é gasto dobrado. Já a elite, detentora das redes particulares de ensino, bem como de outros serviços, tem interesse na escalada do sucateamento. A melhoria da escola pública, pela lógica do capital, significa perda de possíveis consumidores. É por isso que a vista grossa que a mídia faz não surpreende.

Se não podemos contar com o jurídico, nem com a mídia...

A greve tem de ser massiva. Escolas precisam ser fechadas. O discurso de que os estudantes serão prejudicados é falacioso. O professorado que se utiliza deste discurso para justificar a não adesão às greves precisa entender que uma greve total gera resultados rápidos enquanto que uma "meia greve" se arrasta, como se arrastou por estes três meses. O professorado precisa entender que os estudantes são mais prejudicados pelas aulas vagas do que pela não aula. Que eles são prejudicados a vida letiva inteira pelas salas superlotadas, pela falta de estrutura das escolas e pela desmotivação dos profissionais da educação. A mobilização é para construir e não para destruir.

A "meia greve" é o principal alicerce do discurso negativo do poder judicial e da mídia que argumentam: se está bom pra uns, porque não está bom pra todos?

E eu penso... Será que alguém do professorado tem coragem de dizer 'não temos do que reclamar, a educação publica é de qualidade'? Se não puder dizer, por que dividir a categoria? Por que dar mais munição aos inimigos que já são gigantes?

A luta é contra o governo e sem o apoio da mídia, mas não devemos desistir ou sentir-nos derrotados, afinal, professorado unido é professorado forte. Enquanto houver educação, tem de haver luta!

 

Evandro R. Saracino é professor e militante.


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