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mapa final 2Brasil - Diário Liberdade - "A construção de grandes barragens na Amazônia está sendo feita muitas vezes sem respeitar os povos indígenas e moradores locais, embora o Brasil tem leis específicas que devem proteger esses territórios. Algo semelhante acontece com os madeireiros, que muitas vezes fazem a exploração de madeira ilegal mas trabalham com a impunidade"


Foto da Agência Pública

Um grande grupo de pessoas está divulgando a luta do povo Munduruku, na Amazônia brasileira, contra a destruição de sua terra, causado principalmente pelos megaprojetos de represas no rio Tapajós - o último grande rio virgem na Amazônia - e madeireiras. Segundo a Inés, que faz parte desse grupo promotor, "a construção de grandes barragens na Amazônia está sendo feita muitas vezes sem respeitar os povos indígenas e moradores locais, embora o Brasil tem leis específicas que devem proteger esses territórios. Algo semelhante acontece com os madeireiros, que muitas vezes fazem a exploração de madeira ilegal mas trabalham com a impunidade". É a destruição de terras sagradas para esses povos e, enfim, do território onde viveram de forma sustentável por séculos.

Apesar da ocupação tradicional da terra pelos Munduruku já ter sido reconhecida pela Fundação Nacional do Índio (Funai), que concluiu em 2013 o documento que identifica e delimita a Terra Indígena (TI) de Sawré Muybu, o processo continua paralisado. O motivo: o Governo brasileiro quer implementar a qualquer custo o complexo hidrelétrico que inclui uma usina dentro da região de Sawré Muybu, tal como em setembro do passado ano a então presidenta da Funai, Maria Augusta Assirati, admitiu para os Munduruku.

Após inúmeras reuniões com representantes do governo brasileiro, com a passividade das autoridades - mesmo desobecendo ordens judiciais exigindo reestabeleciento do processo de demarcação - e sabendo o resultado de lutas passadas, assim como a motivação informada pela própria Funai, os e as Munduruku iniciaram um processo de autodemarcaçao da sua terra. Foi em outubro de 2014. Terminando esse processo, tentarão obter a oficialidade esses territórios considerados por especialistas terras efetivamente desse povo.

Quarta carta do Povo Munduruku

O povo Munduruku publicou já três cartas, entre outros documentos, e publica agora a quarta:

Nós Munduruku, do alto e médio Tapajós, estamos dando continuidade com a segunda etapa da autodemarcação IPI WUYXI IBUYXIM IKUKAP- DAJE KAPAP EYPI.

Em cinco dias na floresta, concluímos seis pontos da autodemarcação e presenciamos rastros de destruição, feitos pelos ladrões invasores de nossas terras: madeireiros, palmiteiros e grileiros.

No segundo dia, acompanhando o rastro dos madeireiros, encontramos dificuldades para a alimentação, estávamos há dois dias sem encontrar caça. A gente sabe que onde há presença de zoada de trator, de moto-serra, e com a circulação de pessoas no ramal a caça fica extinta, esses animais não suportam sentir esse cheiro humano. Estamos falando a respeito disso em razão de presenciar essa cena durante a autodemarcação.

Depois que a gente varou no ramal dos madeireiros, vimos uma trilha, uma ponte, que eles fazem para carregar madeira e palmito de açaí. Vimos também a roça deles. Isso aqui é uma estrada para puxar madeira e palmito. Como a gente está autodemarcando agora, percebemos que está dentro da nossa área.

Estamos vendo aqui a destruição que o pessoal está fazendo no açaizal. Quem começa tudo isso são os madeireiros. Eles fazem o ramal e os palmiteiros vem atrás destruindo o açaizal. A gente estava preservando para tirar o açaí para os nossos netos, estamos vendo que não temos mais quase nada na nossa terra. Daqui que a gente tira a fruta para dar o suco aos nossos filhos e agora estamos vendo a destruição. Sempre dizemos que o pariwat (branco) não tem consciência disso.

Por isso que estamos fazendo a autodemarcação, porque os pariwat estão destruindo as árvores, nós não fazemos ao modo deles. A intenção do pariwat e do governo federal é só destruir mesmo, e a intenção do indígena é preservar. Por que a gente preserva?

Porque esse patrimônio foi dado a nós por nosso guerreiro Karosakaybu, a terra é a nossa mãe de onde tiramos nossa sobrevivência e onde podemos viver de acordo com a nossa cultura.

Daje Kapap Eypi é um lugar sagrado para todo o povo Munduruku, seja do alto ou médio Tapajós. Temos que preservar a nossa natureza, o nosso rio, os nossos animais e as nossas frutas, deixadas por Karosakaybu.

Estamos realizando a autodemarcação para mostrar que essa terra é nossa, para que os brancos respeitem a nossa terra.

Queremos ter autonomia em nossa terra, queremos que nós, indígenas, possamos ser os fiscais e protetores dessa terra como sempre fomos. 

Continuamos aqui na autodemarcação e não sabemos o que vamos encontrar pela frente…

Sawe!

11 de julho de 2015, aldeia Sawre Muybu, médio Rio Tapajós.

O portão de entrada do mundo

Um dos mais numerosos grupos étnicos do Brasil, o povo Munduruku é composto por mais de 13 mil mulheres, homens e crianças que vivem às margens dos 850 quilômetros do rio Tapajós e afluentes. A maior parte das aldeias deve sentir os impactos do projeto para a região. São previstas sete hidrelétricas na bacia, além de outras duas já em construção no rio Teles Pires, afluente do Tapajós na divisa com o Mato Grosso. Uma das mudanças previstas é a queda no número do peixe e da caça – itens essenciais para a sobrevivência desse povo. Por isso, em toda a extensão do rio há caciques e guerreiros mobilizados contra as usinas. Também há grupos a favor, formados por uma minoria que vive nas cidades.

Preocupados com os impactos no seu território como um todo, indígenas Munduruku de diferentes partes da bacia se uniram e elegeram a Sawré Muybu como um marco fundamental a ser defendido. Além das famílias que vivem lá, essa terra abriga o solo sagrado Daje Kapap’ Eipi, entendido como o local onde nasceram os primeiros Munduruku, os animais e o rio Tapajós. Dada sua importância espiritual e o contexto de conflito político, o local se aproxima do que seria uma Jerusalém Munduruku.

“Esse é o portão de entrada do nosso território, viemos proteger a terra para nossos filhos e netos. Para o futuro”, diz Saw Rexatpu, guerreiro e historiador Munduruku, ao fim de um dia de trabalho na picada da autodemarcação. “Nossos bisavós morreram lutando aqui e nós vamos pelo mesmo rastro. Se eu morrer aqui, deixo a minha história”. Ele viajou três dias para acudir ao chamado de Juarez Saw Munduruku, o cacique da aldeia Sawré Muybu.

Mas e se a estratégia der errado e o governo mandar sair? “A gente não sai”, responde o cacique, sem abalar o semblante tranquilo. E se a polícia tirar à força? “É o fim do nosso mundo, porque a gente só sai morto”.

Com fontes próprias e da Agência Pública.


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