Publicidade
Publicidade
first
  
last
 
 
start
stop
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (0 Votos)

121018 bernalBrasil - Vermelho - Em 1988, um plebiscito nacional disse "não" à ampliação do governo do general Augusto Pinochet por mais oito anos – ele havia assumido o poder à força em 1973, quando instalou uma ditadura no Chile, e acabou saindo em 1990, quatro anos antes da pretensão oficialmente anunciada. Em No, longa que abre a 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo nesta quinta, em sessão para convidados no Auditório Ibirapuera, o chileno Pablo Larraín conta essa história de maneira eletrizante.


Gael García Bernal interpreta René Saavedra, uma síntese fictícia dos publicitários que bolaram a campanha vencedora do plebiscito. Ele não é politicamente engajado e tem um chefe próximo dos militares (o brilhante Alfredo Castro). Mas, com cabeça de marqueteiro, cria uma ideia genial para a época: vender a esperança e a felicidade, em vez de martelar os terrores de Pinochet, cujo regime deixou um saldo de estimados 3 mil mortos, mil deles desaparecidos, e milhares de presos, torturados e exilados. “A alegria já vem”, dizia o slogan.

O filme tem no carisma de Gael García Bernal um trunfo e tanto. Mas não se limita ao brilho do mexicano. Larraín faz uma bem-sucedida mistura de drama e comédia com toques de suspense, que consegue manter mesmo quando o espectador sabe o que vem pela frente. Quem não tem informação sobre Augusto Pinochet pode ficar tranquilo, porque o longa-metragem é construído de uma maneira que facilita entender o contexto em que se passa.

Num toque a mais, o cineasta ainda escolheu usar as mesmas câmeras de vídeo U-matic empregadas no registro da campanha de 1988. O recurso permite ao público se transportar diretamente para o Chile daquele ano.

Nascido em 1976, Larraín é filho de políticos conservadores, que acreditavam no general Pinochet, e cresceu protegido do medo e do terror instalados em seu país. Talvez por isso mesmo, ele tenha escolhido explorar as coisas que não viveu numa trilogia sobre a ditadura, iniciada com Tony Manero (2008), sobre um homem brutal, obcecado pelo personagem de John Travolta em Os Embalos de Sábado à Noite, e continuada por Post Mortem (2010), sobre a autópsia do presidente Salvador Allende – ambos também serão exibidos nesta edição mostra.

No, que fez sucesso este ano no Festival de Cannes, de onde saiu com o prêmio principal da seção paralela “Quinzena dos Realizadores”, é o candidato chileno a uma vaga entre os indicados ao Oscar de filme estrangeiro. E um rival de peso para O Palhaço, o escolhido pelo Brasil para tentar um lugar na disputa.

Seleção

A discussão política também embala “A Bela que Dorme”, de Marco Bellocchio (“Vinceri”), sobre um caso real de eutanásia que dividiu a Itália. Igualmente polêmico, o canadense “Laurence Anyways”, de Xavier Dolan (“Amores Imaginários”), acompanha um homem que está prestes a mudar de sexo. As mudanças da primavera árabe são representadas por “Depois da Batalha”, de Yousry Nasrallah, sobre o movimento popular que levou à queda do regime de Hosni Mubarak no Egito. A condição dos palestinos é discutida em “Herança”, de Hiam Abbass. “Indignados”, de Tony Gatlif, aborda a exclusão social no mundo globalizado. “Reality”, de Matteo Garrone (“Gomorra”), vê o cotidiano reduzido a um reality show. São filmes que refletem questões do mundo contemporâneo.

Na categoria “imperdíveis”, destaca-se “Além das Montanhas”, do romeno Cristian Mungiu, que causou comoção com “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” (2007). Ele volta a se defrontar com situações de atraso cultural, ao tratar da intolerância religiosa.

“O Amante da Rainha”, de Nikolaj Arcel (roteirista de “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”), venceu o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Berlim, e sua trama de intriga monárquica foi escolhida para representar a Dinamarca na disputa pelo Oscar. O alemão “Barbara”, de Christian Petzold (“Yella”), ganhou o Urso de Prata de Melhor Direção em Berlim e também representará seu país na disputa por um Oscar. A produção combina romance e política, ao contar a história de uma médica da Alemanha Oriental que busca reencontrar o seu amor do outro lado do muro.

“A Caça” é o novo trabalho do dinamarquês Thomas Vinterberg (“Submarino”), que rendeu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes para Mads Mikkelsen (“007 – Cassino Royale”). A trama aborda o poder da calúnia e como uma mentira de uma criança por destruir a vida de um homem.

“A Parte dos Anjos”, do veterano Ken Loach (“À Procura de Eric”), levou o Prêmio do Júri de Cannes, contando a história de um delinquente que arruma o emprego dos seus sonhos numa destilaria de whisky. “Outrage: Beyond”, de Takeshi Kitano (“Zatoichi”), marca a volta do diretor japonês para o submundo violento da yakuza. Com presença constante na Mostra, o israelense Amos Gitai (“Carmel”) e o português Manoel de Oliveira (“Singularidades de uma Rapariga Loura”) também batem o ponto com filmes novos.

O cinema brasileiro, por sua vez, estará muito bem representado com a inclusão de filmes premiados. Como a seleção nacional é isenta da cota inédita, a Mostra traz inclusive o vencedor do Festival do Rio, “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho. Outros destaques são “Era uma Vez Eu, Verônica”, de Marcelo Gomes, vencedor do Festival de Brasília, e “Colegas”, de Marcelo Galvão, vencedor do Festival de Gramado, além do documentário “Jards”, de Eryk Rocha, Melhor Direção no Festival do Rio, e a ficção “Boa Sorte, Meu Amor”, de Daniel Aragão, Melhor Direção no Festival de Brasília.

A Mostra também realizará retrospectivas. A principal trará a filmografia completa do cineasta russo Andrei Tarkovsky coincidindo com o 80º aniversário de seu nascimento. Serão projetados desde seu primeiro trabalho, “A Infância de Ivan” (1962), ganhador do Leão de Ouro em Veneza, passando por obras-primas como “Andrei Rublev” (1966), as ficções científicas “Solaris” (1972) e “Stalker” (1979) e o influente “O Sacrifício” (1986).

O português Miguel Gomes, com apenas três longas no currículo, mereceu uma retrospectiva precoce, com a exibição de sua obra completa. Trata-se de uma chance para os paulistanos conferirem “Tabu”, seu novo e celebrado filme, que, pelo critério do ineditismo, não teria espaço na seção aberta (Perspectiva Internacional), pois integrou o Festival do Rio. Com o mesmo número de longas, o ucraniano Sergei Loznitsa (“Minha Felicidade”) é outro cineasta cuja homenagem inclui um novo filme impactante: “Na Neblina”, que venceu o prêmio da crítica no Festival de Cannes. Além deles, o japonês Minoru Shibuya, que retratou o cotidiano do Japão pós-Guerra em comédias e dramas sociais, será lembrado com a exibição de sete de seus filmes.

Desafio

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo chega à sua 36ª edição enfrentando um grande desafio. Trata-se da primeira Mostra sem seu fundador, o crítico Leon Cakoff. Não bastasse a dificuldade circunstancial, ainda há outro complicador. Na seleção de filmes, foi mantido o critério introduzido por Cakoff em sua última programação: a exigência de ineditismo.

A determinação de exibir apenas filmes internacionais inéditos, que não passaram em outros festivais no Brasil, tinha sido uma forma de valorizar o evento do ano passado, que teve sua produção afetada pelo estado debilitado de seu fundador, falecido antes da abertura da 35ª Mostra. Na ocasião, a herdeira Renata Almeida encarou a seleção de inéditos como um teste. Só seria mantida se fosse aprovada pelo público – isto é, se não resultasse em sessões esvaziadas. Como o público manteve a tradição de lotar as exibições dos filmes mais obscuros, a exigência se repete. Mais que isso: vira motivo de orgulho.

Serviço

No, de Pablo Larraín

Quando e onde
Sexta (19), às 22h30, no Reserva Cultural 1
Sábado (20), às 17h20, no Cine Livraria Cultura 1
Domingo (21), às 21h, no Cinemark – Shopping Cidade Jardim 6
Terça (30), às 14h, no Cine Livraria Cultura 1
Quarta (31), às 19h50, no Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 5 *
* programação sujeita a alterações

Quanto
Segundas, terças, quartas e quintas: 15 reais (inteira) / 7,50 reais (meia)
Sextas, sábados e domingos: 19 reais (inteira) / 9,50 reais (meia)
* Para adquirir ingressos no dia da sessão, somente nas salas de cinema
* A Central da Mostra não vende ingressos avulsos, apenas os pacotes
* Pela internet: no site Ingresso.com, o ingresso poderá ser adquirido com antecedência de quatro dias a um dia, da sessão

Com agências


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

first
  
last
 
 
start
stop

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.