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240413 paBrasil - Sul21 - [Samir Oliveira] Integrantes ativos do Bloco de Luta pelo Transporte Público e presença garantida nas manifestações pela redução da passagem de ônibus em Porto Alegre, os militantes anarquistas da cidade costumam ser associados pela mídia somente a atos de vandalismo e depredação durante as caminhadas.


Nesta reportagem, o Sul21 expõe a visão e avaliação de dois integrantes da Frente Autônoma do Bloco sobre o movimento que vem realizando atos e debates sobre o transporte público na Capital gaúcha.

Os militantes, que preferiram não se identificar, ressaltam que uma grande conquista do movimento neste ano foi a unidade entre diferentes setores da esquerda, organizados ou não em coletivos e entidades políticas ou partidárias – eleitoreiras ou não. E acreditam que conseguiram estabelecer uma forma de organização que não torna o Bloco propriedade de algum grupo específico.

“Há um sentimento muito forte em torno de uma maior autonomia do movimento, então vimos espaço para criar a Frente Autônoma e lutar contra o aparelhamento do Bloco por partidos políticos. É uma experiência muito positiva, pois o Bloco não está aparelhado por nenhuma força, é uma composição muito saudável”, comenta um militante de uma organização que compõe a Frente Autônoma.

Para uma integrante da Federação Anarquista Gaúcha (FAG), que também compõe a Frente, a união entre distintas forças políticas da esquerda não foi fácil de ser conquistada e deve ser mantida. “O esforço não foi pequeno, houve acordos que precisaram ser costurados mais de uma vez. Acreditamos na necessidade de nos organizarmos politicamente, mas não comungamos da disputa eleitoral da democracia burguesa. Nossa unidade no Bloco se dá em torno de uma pauta bem específica, sabemos dos limites que ela tem, mas esperamos reforçá-la nessa situação e em outros momentos de defesa de demandas de setores populares”, defende.

Momento é de ganhar qualitativamente o debate, avaliam

Na avaliação dos anarquistas que conversaram com a reportagem do Sul21, o atual momento da luta pelo transporte público em Porto Alegre passa pelo aprofundamento do debate. Eles entendem que poderá ser difícil reunir novamente milhares de pessoas nas ruas, a não ser que aconteça algum fato que catalise ainda mais a indignação das pessoas.

“O momento agora é de ganharmos qualitativamente o debate. Estamos formando grupos de estudos e organizando aulas públicas para nos apropriarmos das questões que envolvem o transporte público. A partir daí, vamos gerando novas pautas e nos aprofundando nas causas”, explica um militante da Frente Autônoma.

Para a ativista da FAG, a existência de uma decisão da Justiça que suspende o reajuste da tarifa em caráter liminar não pode servir como motivo para desmobilizar o movimento. “Não podemos nos desmobilizar por causa de uma liminar que pode cair a qualquer momento. O movimento daquela grande marcha surpreendeu a todos, pela conjuntura dada, e acumulou um caldo que estava sendo constituído através de um importante trabalho de base”, comemora.

Ela observa que as redes sociais ajudam na convocação dos protestos, mas “não tornam as pessoas orgânicas em nada”. Ainda assim, a ativista libertária entende que as manifestações em Porto Alegre chacoalharam a cena política da esquerda, que está, na sua opinião, acomodada e cooptada.

“Mostramos que é possível fazer política de outra forma, sem encerrar as atividades nas urnas, e que ainda há setores de esquerda mobilizados, mesmo em um momento de grande conciliações de classe promovidas pelos governos federal e estadual. O movimento marca algo fora desse marasmo político que a esquerda vinha vivendo”, aponta.

Grupos discutem projeto para o transporte público

Na medida em que os protestos foram ganhando força, os diversos movimentos que compõem o Bloco de Luta pelo Transporte Público começaram a intensificar suas pautas internas para o setor. No último ato, uma faixa da Frente Revolucionária defendia a estatização imediata do sistema sem pagamento de indenização às empresas – bandeira que também é defendida pelo PSTU.

Para os militantes anarquistas que conversaram com o Sul21, uma empresa pública de transporte não pode repetir os mesmos mecanismos de atuação de uma empresa privada. “Queremos fazer uma proposta para um transporte que seja 100% público. A estatização é um caminho, mas não adianta nada estatizar para deixar o transporte na mão de CCs ou de uma empresa pública que em nada é diferente de empresas capitalistas orientadas pelo lucro”, defende um integrante da Frente Autônoma.

A militante da FAG afirma que esse é um debate que ainda está conquistando espaço dentro do Bloco. “Não vemos a estatização como uma pauta que desejamos aprovar, não achamos que ela deve ser um ponto de polêmica para fragilizar nossa unidade no Bloco. Acreditamos em uma socialização do transporte, não nesse conceito que demarca o Estado. Queremos um transporte 100% público, é essa chamada que nos dá unidade dentro do Bloco”, observa.

Anarquistas rejeitam reunião com a Brigada Militar

Um fato recente que causou revolta entre os anarquistas integrantes do Bloco de Luta pelo Transporte Público foi a reunião convocada pela Brigada Militar para se debater a conduta dos manifestantes durante os atos. Na ocasião, representantes do DCE da UFRGS, do PSOL e do PSTU, que integram o Bloco, foram convidados, mas optaram por não comparecer ao encontro.

Após a reunião, a Brigada afirmou que intensificaria o policiamento durante os protestos e exigirá a obtenção prévia do itinerário das marchas. A corporação disse que recolheria materiais como taquaras, pedras e sprays de pichação que encontrasse com os ativistas, além de aumentar o número de agentes filmando e fotografando os manifestantes.

“A Frente Autônoma não acredita em diálogo com a Brigada. Eles respondem a um comando, não vai ser um acordo com estudantes e trabalhadores que mudará isso”, entende um integrante da Frente.

A militante da FAG afirma que a polícia não pode intervir no modo de ação do movimento. “Desautorizamos qualquer pessoa do Bloco que venha a se reunir com a polícia. São os manifestantes que têm controle do ato, não precisamos pedir bexiga para patrão, milico ou governo para dizer onde vamos marchar”, pontua.

Ela acredita que o policiamento de protestos no governo Tarso Genro (PT) se tornou mais “sutil” em relação ao que ocorria no governo de Yeda Crusius (PSDB). “O governo Tarso investe muito mais na polícia de inteligência do que o governo Yeda, que era mais truculento. O atual governo tem sutilezas na criminalização dos manifestantes, vai identificando e obtendo informações. E agora vem esse movimento inadmissível de conciliação e negociação que a Brigada e o governo do estado tentam colocar para dentro do movimento”, condena.

“Nossa ação não se mede pela capacidade de alcance de uma pedra”

Frequentemente retratados por setores da mídia como vândalos, os militantes libertários envolvidos nos protestos pela redução da passagem de ônibus em Porto Alegre rejeitam essas desqualificações e explicam que os escrachos – termos adotados em referência a protestos em outros lugares, como na Argentina – representam a insatisfação diante de um Estado opressor.

Existe, entre as diversas correntes anarquistas, um debate entre métodos de ação mais radicais numa manifestação ou a prática da não violência, que alguns setores entendem que beneficia e protege o Estado e seus parceiros privados.

Quanto aos rostos encobertos por panos, muitos anarquistas adotam essa atitude em referência ao movimento zapatista, que se tornou público em 1994, quando indígenas mexicanos do Exército Zapatista de Libertação Nacional deflagraram uma série de ações no país. Em suas ações, eles apareciam com os rostos cobertos para preservar a identidade dos guerrilheiros e simbolizar a descentralização de um movimento que entendiam abranger todas as populações oprimidas.

“Tem manifestante que não é anarquista e cobre o rosto porque não quer ser identificado e tem todo o direito de não querer. Isso não quer dizer que ele esteja carregando pedras. E há uma alusão muito forte ao zapatismo, no sentido de dizer que quem não tem rosto se torna igual, é um estilo que cresce e não é patrimônio de um ou outro movimento”, explica a militante da FAG.

Para o integrante da Frente Autônoma, confere-se “um peso muito estranho à integridade física de janelas de prédios patronais”. Ele ressalta que não há acordo dentro da Frente sobre a quebra de vidros ter sido “producente”. “Não tem acordo quanto a ter sido producente esses atos, mas acho muito exagerado toda essa histeria de colocar ataques contra objetos inanimados como uma violência. Violência é o que se faz contra as pessoas. O que aconteceu no último protesto foram cinco janelas quebradas por no máximo onze indivíduos. Na manifestação da PUCRS uma companheira teve uma costela quebrada pela polícia e outra teve seu piercing no lábio quase arrancado por uma cassetada”, recorda.

Para a militante da FAG, as ações nas ruas são uma resposta à violência do Estado. “Acreditamos que a luta direta contra nossos opressores é a saída, mas isso não significa que as mobilizações sociais devam manter formas descoordenadas de ação violenta. A violência para nós tem outro significado: violento é o Estado que nos oprime. A luta nas ruas é uma resposta à ação violenta do sistema”, qualifica.

A ativista explica que o escracho à sede da ATP não foi feito somente por anarquistas. "Não queremos tomar autoria sozinhos, porque o escracho foi feito por mais pessoas, inclusive gente que não vizualizei como integrando qualquer ideologia", comenta.
Ela recorda que "o anarquismo enquanto ideologia fez parte da formação da classe trabalhadora brasileira" e representou os grupos de esquerda mais combativos na década de 1930, influenciados por imigrantes europeus que chegavam ao país. "Nossa ideologia ajudou a construir o patrimônio combativo do país. Exigimos mais respeito e que ela não seja jogada na vala comum do vandalismo. Nossa ação não se mede pela força dos músculos ou pela capacidade de alcance de uma pedra. Temos um projeto político de sociedade", defende.


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