Publicidade
Publicidade
first
  
last
 
 
start
stop
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (2 Votos)

coleitvoBrasil - Diário Liberdade - [Leandro Módolo P.] Na tentativa de extrapolar o campo de fala da esquerda anti-sistêmica deixo aqui uma breve reflexão para um setor tão importante da esquerda contemporânea: as(o) Feministas, especialmente as "petistas de segundo turno".


Antes de qualquer coisa, não queria deixar sem palavras dois tipos de eleitoras(o): as "antipetistas doentes" e as "anti-petistas dialogáveis". As primeiros, a este tipo de gente, como qual se debate com fundamentalistas ou doentes mentais, não tenho nada a dizer a não ser: "Tome um Diazepam, procure se informar um pouco fora da grande mídia e depois conversarmos!". As segundos, aquelas raras que ainda são capazes de civilizadamente discutir programas e projetos políticos sem antes bravarem despolitizados jargões "Fora Pt!" etc., gostaria de dizer: amigas(o) e colegas, ir de tucano e cia é, no mínimo, coadunar com a ortodoxia neoliberal, com a direita tradicionalmente mais elitista, preconceituosa, racista, anti-popular, homofóbica etc. da historia recente do país... E mais como diz o camarada Pedrão, votar no Aécio "Significa recolocar no governo federal a turma da privataria, o maior saque contra o patrimônio público já realizado nesse país, da corrupção profissional com conivência da mídia [de uma olhada na "Ficha Limpa"], a volta dos ministros que ironizavam as medidas anti-povo adotadas chamando-as de "nosso saco de maldades", do presidente que tratava os desempregados como "as massas inempregáveis", do ministro das relações exteriores que se submetia à revista dos fuzileiros norte-americanos em visita à embaixada daquele país, do alinhamento incondicional com a política externa dos EUA e mais algumas coisas..."

Mas, logo perguntarão: "Isso quer dizer que votar na Dilma será diferente?" Não exatamente queridas(o), assim como os tucanos é certo que com a Dilma ainda teremos "Mais quatro anos de compromisso com o capital financeiro, juros altos, cumprimento do pagamento da dívida pública sem auditoria, bancos com lucros estratosféricos; significa, também, compromisso com o agronegócio, congelamento da reforma agrária, manutenção da relação promíscua com as grandes empreiteiras, da política envergonhada de privatizações, da precarização do trabalho, continuidade da política de segurança pautada na crescente militarização das polícias, permanência das tropas brasileiras no Haiti, conchavos com setores fundamentalistas, manutenção de temas polêmicos como descriminalização do aborto no armário, política de alianças com setores mais retrógrados e corruptos da política brasileira, enfim, nenhuma perspectiva de mudanças verdadeiras nem a curto,nem a médio, nem a longo prazo." Dirão então: "Ueh! Então não estou entendendo...".

Vejamos!

A Dilma (e o PT) já há décadas optaram pelo que alguns chamam de "pacto social", "conciliação de classes", "presidencialismo de coalizão"... que para simplificar quer dizer:

- "Oh Odebrecht, MRV, Carmago Correa, Guerdal, Vale... façamos assim: eu pego grande parte dos recursos públicos para aplicar nas suas empresas, desonero alguns impostos, desalojo milhares de gente pobre, destruo grande parte da nossa biodiversidade... e vocês me dão em troca algumas vagas de empregos sazonais/temporários, com alguns direitos "terceirizados", algumas casas na periferia para os políticos regionais distribuírem... E perfeito! Todos sai ganhando: vocês quintuplicam seus lucros, alguns de nós nos enriquecemos e alguns poucos trabalhadores brasileiros conquistam a casa pela primeira vez!" Ou ainda...

- "Oh Cosan, Monsanto, Bunge, Cargil ... façamos assim: eu pego grande parte dos recursos públicos para aplicar nas suas empresas, desonero alguns impostos, assassino alguns índios e quilombolas, destruo grande parte da nossa biodiversidade (sobretudo, dos recursos hídricos), fortaleço politicamente o antigo patriarcado latifundiário para ajudar vocês a criarem os mecanismos legais de transgenia, de demarcação de terras, de agrotóxicos, de trabalho escravo ... e vocês me dão commodities (extrativistas e agropecuárias) para vender para China e pro mundo, e fortalecer o superávit primário...E perfeito, todos sai ganhando: vocês quintuplicam seus lucros, aumentam exponencialmente suas propriedades, nós asseguramos os pagamentos com os Bancos e seus rentistas e, por fim, ainda conseguimos uma merreca (Ex. Bolsa-Família etc. não representa nem 1% do PIB, pagamento com juros/amortizações da dívida são de aproximadamente 45% ) para dar aos que nada tem para comer!"

- "Ahhhh, então... pelo menos está fazendo viu. Seu esquerdista! Ou você ainda acredita numa revolução? Ham...?! Muda mais Dilma!", dirá a(o) petista de primeiro turno!

- "Ah, eu concordo companheiro! Mas como poderia ser melhor? É preciso acumular forças para avançar mais. Ou você acha que temos conjuntura para uma revolução? Sou realista...

'Muda mais Dilma!", dirá a(o) petista de segundo turno!

É de fato os tempos atuais não estão para revolução e, de fato também, a Dilma não é igual ao Aécio. Dirão as feministas despolitizadas: "Ela é mulher. O Aécio bate em mulheres".

De imediato eu concordaria com elas: eu não voto em agressores de mulheres! Mas qualquer análise mais cuidadosamente politizada mostrará que a Dilma, mesmo mulher, representa muito bem os homens e todo machismo...

O que todas(o) já sabem é que a bancada parlamentar bateu o recorde de conservadorismo/reacionarismo. Que o Feliciano e mais 36 deputados se reelegeram. Logo, que as bandeiras atualmente mais vitais do feminismo de esquerda como a descriminalização do aborto, a criminalização da homofobia, casamento civil igualitário etc. agora estão nas mãos de UM Jean Wyllys e dezenas de fundamentalistas religiosos... Que Bolsonaro e toda "bacanda da bala" se fortaleceu. Logo, que as bandeiras dos Direitos Humanos para assegurar a "dignidade humana" aos homens, jovens, negros e pobres agora estão nas mãos de alguns poucos Freixos e dezenas de exmilicos...

Que a Kátia Abreu e toda extensa bancada ruralista se reelegeu. Logo, que as bandeiras verdes, indígenas, quilombolas estarão nas mãos de muitas dezenas de latifundiários, extrativistas...

Alguns chamam isso de "onda conservadora" outros preferem "onda proto-facista" - que como sabemos é somente a onda latino-americano de uma tsunami maior.

Nesse sentido, sim, o PT e a Dilma não são iguais aos racistas e elitistas tucanos. Sim,o PT e a Dilma dedicaram ao longo desses anos políticas sociais aos mais pobres, coisa que o tucanato nunca fez. Sim, o PT e a Dilma deram mais atenção à América Latina e aos nuestros hermanos, os tucanatos só sabem falar com gringos e em inglês... O "pacto social" tucano seria algo como:

- "Oh Odebrecht, Guerdal, Vale... Itau, Bradesco, Santander, HSBC... façamos assim: eu pego uma parte dos recursos públicos para aplicar nas suas empresas e para encher a barriga dos rentistas, desonero todos impostos que atrapalham os seus lucros, privatizo também as penitenciarias e reduzo a maioridade penal para vocês também lucrarem com os presídios lotados (e, de sobra, não ter que conviver com a juventude negra e pobre), entrego grande parte da nossa biodiversidade para EUA e U.E... E vocês não precisam me dar muita coisa para o povo não, só o suficiente para eu me reeleger... E perfeito! Todos sai ganhando: vocês sextuplicam seus lucros, alguns de nós nos enriquecemos ainda mais, as camadas médias e ricas se sentem "seguras" e os pobres seguem na mesma!"

- "Ah, então devemos ir de Dilma?"

- É, isso já bastaria para um voto pragmático nesse segundo turno... Todavia, acho que não devemos nos furtar a critica.

Quem é o grande culpado disso tudo? Quem criou as condições para o recrudescimento dos setores mais conservadores do país?

- "Ah... os esquerdista, que ao invés de deixarem o sectarismo de lado, mantiveram-se desagregando a esquerda e lutando contra o governo com ocupações, manifestações, greves etc.!"

- Será mesmo?

O sociólogo Mauro Iasi nos deixou uma boa dica anos atrás: qual o grande "mito da estratégia democrática popular", a estrategia de "governabilidade", do "pacto social" petista? É o (pseudo) acumulo de forças!

Todos que sabem um pouco da história recente do Brasil tem por conta que durante a década de 80 e 90 o PT foi o grande líder das massas populares. Forjado nas lutas sindicais, nas lutas da terra, dando voz aos retirantes e migrantes etc. o PT abraçou em sua orbita política as bandeiras do povo pobre, explorado, oprimido... E justamente por isso muitos creditavam a ele o papel de transformador social, econômico e político do Brasil – por isso, também, a maior parte da elite alimentou midiaticamente um ódio doente a eles!

Quando eleito, no entanto, a carta de Lula ao "povo brasileiro" registrou: "Vamos governar para TODOS num grande PACTO SOCIAL!". E, então, logo parte dos setores a esquerda acatou e bradou: "É preciso acumular forças para fazer mudanças"! Pois bem, passaram-se 12 anos, quais forças o pacto acumulou?

O que vemos, a contar o "nacionalismo midiático" que acabou dando o tom das ruas em Junho de 2013 e a tal "onda conservadora" expressas nas eleições, acho que foi um acumulo de forças para o lado errado! Razão disso: nesses últimos doze anos vocês assistiram alguma vez o PT e suas lideranças acionarem as suas ferramentas como MST, CUT e cia. para vir as ruas empunhar suas bandeiras e consolidar forças vivas para fazer reformas estruturais como a reforma agrária, reforma política, reforma urbana, reforma tributaria...? Vocês nesses últimos 12 anos assistiram a um acumulo das forças POPULARES, ou o que viu foi o MST diminuindo de militantes e quadros, patinando em contradições e crises... ou viu a CUT se aristocratizando e burocratizando para servir as contrarreformas e as flexibilizações... ou viu as bandeiras populares históricas se institucionalizando e tornando-se apêndice da máquina governista?

Se podíamos sim ter iniciado em 2002 um acúmulo de forças populares capaz de construir com reformas graduais (como querem os reformistas) um cenário de consciência politica "disposta a manter o patamar das conquistas e reagir quando estes estão ameaçados", nem se quer isso foi feito... Ao contrário, a "consciência acumulada" a que assistimos agora é aquela resulta da "governabilidade" que durante 12 anos deu migalhas aos trabalhadores, oprimidos, explorados... e fartou os tubarões com seus bilhões! Resultado, o vosso recalque produziu graves sintomas... e talvez o remédio venha tarde!

Nesse sentido, coloco uma reflexão ao grande setor da esquerda contemporânea no qual tenho grandes amigas(os). A consciência é também um terro da luta de classes e esta não se reduz aos aspectos culturais, simbólicos e discursivos como querem algumas(o)! Não adianta, por exemplo, os militantes GLBT agora se assustarem com a possibilidade da vitoria de Aécio (aliado de Bolsonaro e cia), como se fosse a nova expressão do fascismo tupiniquim, ao mesmo tempo em que depositam "novamente" confiança num governo (num partido, num projeto...) que para se sustentar se afastou progressivamente das classes exploradas-oprimidas e se sentou na mesma mesa de setores das classes dominantes como as de uma Katia Abreu, de Blairo Maggi e cia... Talvez não seja coincidência nessa década os valores de um "sertanejo universitário" alá Michel Teló terem se espalhado pelo mundo como a expressão artística dos brasileiros. Vocês querem "ressignificar" sem transformar, querem "desconstruir" sem revolucionar... O resultado foram 12 anos fortalecendo econômica, política e culturalmente o patriacardo do agrobusiness! Agora, adoecemos com os sintomas...

Machismo, homofobia, sexismo... tem seu terreno concreto na lutas de classes, e estas queridas(os) não se faz desprezando seu aporte material – sua estrutura político-econômica. Fazer uma consequente luta Feminista no Brasil é atacar materialmente as classes sociais que sustentam econômica, política e culturalmente os valores machistas. Por isso, daqui em diante, seja quem ganhar as eleições, "bejinho no ombro pro recalque passar longe".

Leandro Módolo P. é sociólogo e militante do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro.


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

first
  
last
 
 
start
stop

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.