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WP 20130617 032Brasil - Diário Liberdade - [Jean P. Pereira de Menezes*] Vivemos em um presente histórico onde parte da população sai às ruas encantada com as possibilidades de transformações na sociedade brasileira. Um momento singular na história do Brasil quando os manifestantes se apresentam com particularidades que devem ser objetos de investigações mais apuradas. O que apresento aqui é apenas um importante apontamento diante desta problemática que nos cabe entender e intervir. Para isso os clássicos e os contemporâneos podem nos ajudar. Inicialmente, aponto um clássico: Karl Marx.


Poderia Marx contribuir para o entendimento do tempo presente?

Responderei esta pergunta, inicialmente, com duas outras necessárias. Qual é a concepção de História e tempo presente na sociedade? Como é viver o tempo presente na sociedade de classes sem cogitar a longa duração diante do presente mais imediato dos fenômenos?
Inicialmente trabalharei com a hipótese de que na sociedade atual, de caráter mercantil, encontra-se com amplo respaldo na ideologia de que o que mais importa é o presente pelo próprio presente. Que "há que se viver cada dia como se fosse o último". Que as atitudes devem ser pautadas no "aqui e agora", pois o amanhã pode não existir a partir de algumas horas ou minutos, "pode ser a última vez na vida que escrevo um texto".

Encontramos aqui a falta de perspectiva futura, típica de sociedades decadentes (só para lembrar a sociedade romana no ápice de sua crise na antessala da sociedade feudal). Esta perspectiva encerra o devir no próprio tempo presente, e em casos mais radicais, em última instância: anula a perspectiva histórica.

Levado a esse patamar decreta-se o fim da História, mesmo que em padrões relativos ao momento em que existe, ignorando a totalidade histórica que se assenta o presente. Nega-se desta forma o presente como a apresentação fenomênica sintética de múltiplas determinações. O que propicia plena desenvoltura de comportamentos imediatistas e incapazes de ideação prévia para além do fenômeno mais nu.
Os apologistas do "hoje como o único momento possível" não acreditam na História como algo para além do consumo do tempo mais urgente do relógio mecânico ou do organismo vivo em sua candência imediatista. Muitos intelectuais se posicionam diante deste presentismo com se fosse uma coisa única possível de se fazer nestas últimas quadras da existência. Aproveitar o que se tem e rapidamente descartar aquilo que já se fez uso.

Temos assim uma ideologia em plena sintonia com o momento histórico tão negado por esses mesmos intelectuais que corroboram diretamente com a lógica consumista da economia política do presente imediato.

A questão é que ao se negar a construção histórica para além do presente, se está ao mesmo tempo escrevendo a história desse mesmo tempo presente. Assim ao afirmarem que o futuro não existe e que a História deve se restringir aos imediatismos dos desejos mais individualizados corrobora-se para a descrença de que somos e fazemos a História.

Ao conquistar esse falseamento na sociedade de forma predominante, os intelectuais conquistam também a incapacidade de operar a transformação da própria vida, e, em última instância, de operar a própria existência na sociedade de classes. Conquistando a ideia de que o ser não possui História (na longa duração); ao fazer com que esse mesmo ser não possua a compreensão de que o devir é construído por ele, se ganha um ser alienado de si mesmo e incapaz, em primeira instância, de caminhar para além da linha que lhe fazem no chão em que vive.

Volto à questão inicial: poderia Marx contribuir para o entendimento do tempo presente?

A partir do concreto pensado, abstraído como processo de construção teórica sobre o real, imagine um ser que não consegue (por eclipsarem suas potencialidades) possuir a compreensão de que a sociedade é constituída por algo que está para além dele e que assim mesmo ele é parte fundamental do todo. Ao observar, utilizando seus sentidos, os complexos sociais este não conseguirá conjeturar as possíveis relações que se estabelecem para a manifestação de um determinado fenômeno: seja a luta ente dois macacos ou a luta entre milhares de seres semelhantes a ele contra a Tróika na Europa atual, até mesmo o papel da esquerda revolucionária na construção do processo histórico que se nega.

A concepção de organização (a sua) se limitará ao campo fenomênico mais imediato notado pelos seus sentidos mais animais, distanciando-se de qualquer entendimento histórico daquilo que se vê e sente como animal que é. Não encontrará sentido em ações que pleiteiam uma perspectiva histórica e de transformação organizada, sobretudo a revolucionária.

Mantendo-se a ideologia do fim da História, faz-se ao mesmo passo a manutenção daquilo que a classe dominante não deseja: a transformação com o devir. A organização partidária torna-se algo enigmático, sobretudo quando se sente de forma ainda animal, que existem outros como eles que "sonham" com uma transformação radical da economia capitalista e todas as formas de viver. Não consegue entender, embora consiga enxergar, o motivo concreto por qual enigmaticamente partidos revolucionários se reúnem para reivindicar algo que mais parece um delírio do que uma proposta de organização. A negação do devir histórico faz potencializar o fenômeno do consumo, em sua manifestação de fetiche e mais ideologizada: o consumismo.

O consumo (concreto e principalmente abstrato) imediato como manifestação dos desejos do ser social bestializado, embrutecido e reduzido a sua animalidade, faz da busca à satisfação a façanha mais perspicaz deste homo. Este tomará o presente como o único espaço de consumo e, portanto, de realização de si. Visualiza-se o empenhar de todas suas energias à busca da felicidade encontrada momentaneamente no consumo imediato no presente vivo. Mas uma felicidade passageira que muito rapidamente deve ser substituída para que a sensação de realização de mantenha. As relações sociais acabam por ganharem a mesma denotação, usando-as para a realização: seja no amor, no sexo, na amizade, em passeatas e movimentos de massas.

Assim, o presente desvairado, deslocado de qualquer perspectiva de construção histórica, contraditoriamente fundamenta a centralidade do consumo deste ser embrutecido em detrimento da produção. Realiza-se no consumo, ou seja, todas as relações imediatistas são mediadas pelo consumo. O consumo não só é o centro das relações, é mais, as relações são desenvolvidas a partir da sua existência, orbitando a partir dele e para ele.

Decorrência disso é o repúdio pela esfera da produção da vida. Nega-se a história e a construção, a produção e a conquista da objetivação da prévia ideação. Não se identifica com aquilo que produz; ao contrário, se nega; não se identifica e se sente estrangeiro ao produto que por ventura faça. Marx descreve essa situação como sendo típica do trabalho alienado. Nela o ser não se identifica com e na produção, mas no consumo e com o consumo, pois está alienado da esfera da produção e altamente inserido, mesmo que idealmente, na esfera do consumo.
Eliminar-se da esfera da construção histórica é colocar-se sem sentido em relação à própria História. Ser estrangeiro é não fazer parte, é não se sentir pertencente, portanto, possivelmente não acreditar na capacidade de construção de uma parede, cadeira, machado, de movimentos organizados, menos ainda de outra forma de produzir e reproduzir a vida socialmente. Excluir o conceito de História e construção de uma totalidade historicamente determina viabiliza também a construção de um presente imediato como um fetiche, alienado e que busca a realização apenas no consumo marcando a existência isolada do todo o qual é parte.

Um dos resultados de tudo isso pode ser observado diante das manifestações apartidárias e anti-partidos, em nosso presente mais imediato, principalmente ao findar das caminhadas nas longas avenidas quando muitos perguntam: "E ai pra onde que vai agora? Será que amanhã vai ter mais? Meu essa foto vai fica louca no face! Depois da passeata, onde vai ser a vibe?"

Como sempre, chamo a atenção para o papel do artigo indefinido, esta é uma possibilidade para entender e intervir diante do tempo presente, não é a única. Mas diante do todo caótico, me parece vital a continuidade do debate focalizando a crise de direção tão repudiada por muitos. Mesmo sendo muitos aqueles que são diuturnamente dirigidos por intelectuais provocadores de embusteiros do devir histórico.
Recebe-se assim, as esquerdas vermelhas revolucionárias, a classificação de ultrapassadas, velhas e anacrônicas. Que Marx viveu no século XIX e que qualquer contribuição deste clássico não ajuda a entender o hoje.

Para finalizar, me pergunto: e o liberalismo, também não é velho? Os clássicos da economia política também não seriam ultrapassados e anacrônicos? Se o são, por que ainda se recorrem a eles para justificarem o presente ou mesmo falsearem o cotidiano?

O gigante terá que entender isso, pois ao contrário retomará o sono calmo e esplendido e continuará a ser pisoteado como capacho da classe dominante que violentamente entoa a insustentável cantiga de explorar!

*Menezes, Jean Paulo Pereira de. (Professor universitário da rede pública e privada-SP)

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