Sendo mais de 50% da população, os negros ficaram praticamente de fora do resultado das eleições 2012 nas prefeituras, especialmente nas capitais, onde apenas um negro foi eleito.
Apenas um negro foi eleito para prefeitura de uma capital. É João Alves Filho, do Democratas, volta ao cargo em Aracaju (SE), depois de ter sido prefeito da cidade na década de 1970 e governador do estado em duas ocasiões.
Mesmo assim, é o caso famoso do “negro de alma branca”, posto que nunca esteve envolvido com a luta do povo negro e, acima de tudo, é do partido Democratas, uma legenda que se coloca historicamente contra todas as reivindicações do negro, tendo, inclusive, acionado o Supremo Tribunal Federal para acabar com as cotas raciais.
A situação mostra que o sistema democrático burguês é incapaz de resolver as mínimas tarefas democráticas, e, pelo contrário, se coloca como um óbice a qualquer luta ou direito do povo negro.
Eliana Graça, do INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos), afirmou para a Agência Brasil que “com essas campanhas milionárias, como é que os negros concorrem, sem ter o financiamento público de campanha? Porque hoje se elege quem tem dinheiro”.
O fato é que a igualdade jurídica não se reveste automaticamente em igualdade de fato. Assim, o regime político brasileiro objetivamente é bastante atrasado, tendo elegido historicamente latifundiários, empresários, especuladores, brancos, etc.
Ao mesmo tempo, no que tange a questão do povo negro, os números simplesmente não se alteram com o passar das eleições. A quantidade de negros eleita durante a redemocratização e mesmo antes da ditadura militar no país é praticamente a mesma até os dias de hoje, o que quer dizer que numa perspectiva de 100 anos a situação representativa não deve se alterar, para os negros.
Mas e o Obama?
Algumas análises tendem a encarar a eleição de Barack Obama como um marco na luta pela participação do negro nas eleições. Afinal, os negros são minoria nos EUA, foram alvos de legislações racistas em todos os estados e, finalmente, possuem um negro na presidência.
De fato, não se pode analisar uma questão dessas tão somente pela cor do presidente, mesmo porque até onde se sabe a situação do negro nos EUA pouco se alterou com a eleição de Obama.
Por outro lado, Obama se coloca na presidência da nação mais poderosa do mundo, e com o maior contingente e orçamento militar já visto na história mundial. Tendo apenas este fato em mente, a negritude de Obama é secundária, o transformando em um fantoche negro.
Os EUA patrocinam todas as invasões nos países árabes, as guerras na África e golpes militares no globo. Além das prisões ilegais espalhadas pelo mundo, a cadeira elétrica que executa majoritariamente negros, a repressão aos imigrantes e negros feita pela polícia; enfim, Obama, na verdade, é o negro que aperta o gatilho. E dentro desse cenário, sempre é válido lembrar a frase do (agora sim, herói) negro Solano Trindade, que disse certa vez: “negro que mata negro não é meu irmão”.
A incapacidade contumaz do chamado “estado democrático de direito” em resolver as questões e problemas do povo negro, tanto nos países desenvolvidos quantos nos atrasados, coloca em questão a tomada do poder pela população negra organizada, em conjunto com os operários e demais setores explorados pelo capitalismo.