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Boteiro vilarinho cousoBrasil - Pravda - [Edu Montesanti] "A cultura é força".


Foto de José Pereira (CC /by-sa/2.0/) - Festa do Entruido na Galiza, que substitui o Carnaval naquele país.

Em uma nação com fortes raízes culturais, o título deste artigo seria uma risível redundância. Porém, no Brasil que herda da época colonial uma forte carência de identidade, fato acentuado pela sangrenta ditadura militar (1964 - 1985) e pelo atual imperialismo norte-americano que, desde o entre-guerras, impõe seus valores e até a supremacia linguística, faz-se urgente uma observação sobre o conceito e a importância da cultura.

A cultura está diretamente ligada ao sentimento do indivíduo, é a expressão mais viva da sua personalidade, da sua história, dos seus costumes, das suas raízes, das suas paixões. Soma de todas as realizações humanas transmitidas de geração a geração, a cultura é a auto-afirmação da nossa identidade, essência do ser humano que o sacia interiormente quando expressada livremente.

Muito além de elementos materiais tais como moradia, alimentação, vestimenta, arquitetura, tipos de celebração, idioma, maneira de se expressar, prática esportiva, dança e artes em geral, a cultura envolve aspectos espirituais da vida do ser humano, entre os quais: ideias e ideais, princípios e valores, as mais diversas crenças não apenas em termos religiosos, mas também em relação a, por exemplo, o que é sublime ou antiquado, e até bonito ou feio.

Pois ao contrário do que o sistema competitivo e individualista em que vivemos tenta-nos inculcar, não existem culturas superiores, mas sim diferentes. Certa vez, o jornalista Milton Neves fez esta feliz observação: "Quem esquece as raízes possui, no mínimo, caráter duvidoso". Já o filósofo, político e cientista político italiano Antonio Gramsci (1891-1937), escreveu: "Uma geração que ignora, desvaloriza e apequena a geração que a precedeu, que não consegue reconhecer sua grandeza e seu significado histórico e necessário, mostra-se mesquinha, que não tem confiança em si mesma ainda que assuma pose de gladiadora, e que exiba mania de grandeza".

Quando há valorização e respeito à própria cultura, algumas consequências naturais disso são aumento da auto-estima, valorização e respeito à cultura e a toda a história de outros povos, enxergando-os e admirando-os como diferentes, sim, porém jamais como inferiores, superiores e nem, muito menos, como inimigos. Outra consequência é ser valorizado por eles em retorno.

Essa sábia atitude, antes de tudo para consigo mesmo, também acaba levando naturalmente ao diálogo, à soberania e à convivência multicultural, universal e pacífica, calando sem maiores esforços vozes xenófobas e devastadoras. No caminho inverso, a perda da identidade leva o indivíduo a ser facilmente dominado psicologicamente.

A preservação cultural é o que afirma a identidade de uma nação, fazendo-a grande e respeitada. É só uma questão de liberdade, valor inegociável do indivíduo e de um povo.

Posto isso, falta agora os governos brasileiros pós-ditadura (incluindo o do Partido dos Trabalhadores) serem minimamente sérios a ponto de assumir a importância da cultura como identidade e auto-estima de um povo, e tirar o Brasil do vergonhoso último lugar no mundo em gastos proporcionais com educação, um dos que menos lê no mundo - apenas a capital argentina de Buenos Aires possui mais livrarias que este país com dimensões continentais.

Falta ainda que o atual governo federal siga o exemplo das democracias mais avançadas da América Latina e do mundo, e regule a mídia - antes disso, deve fundamentalmente informar a sociedade que tal medida não se trata de censura, mas de democratização.

Já dizia Simón Bolívar, no início do século retrasado, o XIX: "Um povo ignorante é instrumento cego de sua própria destruição. Temos sido dominados mais pela ignorância que pela força".

Biografia

* Edu Montesanti é professor de idiomas, autor de Mentiras e Crimes da "Guerra ao Terror" (Scortecci Editora, 2012), colaborador do Diário Liberdade (Galiza), de Truth Out (Estados Unidos), tradutor do sítio na Internet das Abuelas de Plaza de Mayo (Argentina), da ativista pelos direitos humanos, escritora e ex-parlamentar afegã, Malalaï Joya, ex-articulista semanal do Observatório da Imprensa(Brasil), e editor do blog.


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