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nosup.redimensionadoGaliza - Diário Liberdade - [Teresa Moure] Nunca militei nas filas de NÓS-UP. É bem conhecido neste país pequeno onde é que estamos tod@s.


Mas poderia ter militado, visto que feminismo, socialismo e independentismo são também as minhas referências ideológicas. Digo isto com toda a clareza no dia em que se faz pública a dissolução desta organização política. Digo-o como uma confissão necessária quando o nosso mapa político, em por si complexo, se monstra mais convulso do que nunca. Digo-o sabendo que não é prático declarar-se próximo a algo que se apaga. Se assim digo é porque acho preciso neste momento que nas rotinas da nossa prática ativista –militante ou não– se instalem formas de camaradagem inéditas.

Da sua constituição em 2001, NÓS-UP foi uma força nas margens, com pouca visibilidade nos médios de comunicação, porque não centrou o seu trabalho nas instituições. Porém, isso não lhe impediu nutrir a sociedade galega dum discurso fulcral, visualizado num potente ativismo, no mundo sindical, no estudantado, no reintegracionismo, nos centros sociais que são força viva da cultura popular; um discurso, pois, que nos nutriu a tod@s. A quem estavam dentro e a quem estávamos fora. Muitas das minhas posturas foram matizadas ou mudadas após a leitura do imenso arsenal de textos produzidos nessa organização política. Esses textos e o seu potencial formativo vinham do esforço generoso da militância, não retribuído economicamente, desconsiderado na sociedade mercantilizada que habitamos. Vinham, para além disso, polidos e trabalhados, entendo, pelos debates internos: eram uma voz conformada na Galiza, com pouca capacidade de incidir na realidade, diriam alguns, mas com uma influência decisiva na agitação e na formação das pessoas que tentamos transformar o que há. Importa, se vamos construir uma sociedade galega radicalmente nova, agradecer às pessoas que se implicaram no projeto político que desaparece os esforços que fizeram por este país.

Nem conheço nem preciso saber as causas que levam ao apagamento. A coesão duma organização das caraterísticas de NÓS-UP vê-se facilmente ameaçada e, como se indica no comunicado, a maioria da filiação avalia criticamente a utilidade atual desta ferramenta. Apenas pode respeitar-se essa decisão sem que procedam agora os reproches ou as leituras em chave eleitoral, do estilo de que a radicalidade independentista se extingue. As siglas, ainda que às vezes nos apeguemos a elas por sentimentos –porque se levaram grandes energias das nossas vidas– são só ferramentas. Se as companheiras e companheiros de NÓS-UP acharem que essas siglas já não são úteis, só podemos respeitar e dar por bem feito que as abandonem. Porém, o que não se pode é valorar o percurso transitado como um erro, nem abandonar o interesse por mudar a realidade. Uma Galiza ceive, socialista e nom patriarcal não é um sonho; simplesmente um objetivo estratégico ainda não conseguido. E, portanto, as gentes que com força acreditam nesses princípios, não podem marchar para a sua casa sem mais.

No associacionismo vizinhal, na defesa da língua, nos centros sociais tantas vezes sustentados pelas siglas que hoje desaparecem de certo que vão continuar a trabalhar em tanto ganharem forças. As organizações políticas são projetos coletivos necessários; cumpre afirmar isto nesta época em que tantas vozes defendem uma fantasmal multidão desorganizada como único sujeito aberto a participar em diálogos democráticos e livres. Porém, com frequência, as organizações enchem-se de feridas ou analisam as suas táticas e sentem o desânimo e a frustração. Num tal caso, há que sentar-se a esperar que cicatrizem, tomar ar, encher-se de energia... e continuar.

Na Galiza lateja muita energia dissidente, crítica com o capitalismo, ferozmente anti-patriarcal, nitidamente independentista. Nem sempre @s integrantes dos diferentes projetos coincidem em conceitos capitais mas, perante uma situação de emergência social e económica, perante um mundo cada vez mais sustentando em diferenças de classe, em lógicas de domínio, em repressão, é importante construir redes de solidariedade e apoio mútuo. A única imagem que me vem à cabeça insistentemente é a da aranheira: filamentos quase transparentes que se enlaçam. Podem aparentar vulneráveis, mas renovam-se continuamente e multiplicam o seu poder. Tecermos aranheiras, corpúsculos de trabalho, atentos a mudar as condições reais da existência a partir de elementos ideológicos diversos, mas mantendo um fio condutor, invisível, que nos una, nutri-lo quando se faça magro. Esse cuidado, essa camaradagem na vida política visa conseguir com o tempo um verniz, uma película especial que apenas pode ser obtida com entrega: a patine duma profunda revolução. Fico com a ideia do comunicado de apoiar uma manifestação plural e participativa para o Dia da pátria. Agarro-me à ideia de que a força da militância não pode ser inútil.


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