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020913 obama kerrySíria - Diário Liberdade - [Nazanín Armanian, tradução do Diário Liberdade] Oferecemos a tradução do artigo publicado pela exilada iraniana Nazanín Armanian, especialista em política internacional, licenciada em Políticas e doutora em Filosofia.


Agressom à Síria: a fraude, 12 objetivos e 8 consequências

Os dirigentes dos mesmos países que mataram centenas de milhares de inocentes com suas bombas de napalm, fósforo branco, projéteis de urânio empobrecido (ver Hijos del uranio, em espanhol), substâncias químicas desconhecidas que causaram a Síndrome do Golfo, agora derramam lágrimas de crocodilo pela morte de 350 sírios, vítimas ao que parece de armas químicas, como se a morte de 100.000 pessoas por armas convencionais e a fugida de cinco milhões de almas de seus lares não fossem motivos para se comover.

Guerra de bandeira falsa? É possível que os rebeldes utilizem essas substâncias contra sua própria gente e culpabilizem Damasco? O regime de Barack Obama, antes de uma investigação séria, assinalou o governo de Bachar Al Asad, apesar de os próprios insurgentes terem reconhecido seu crime à jornalista de Associated Press, Dale Gavlak: recebia essas substâncias de Arábia Saudita e foi um "acidente" por sua utilização negligente, dizem. O Governo iraniano revelou que faz nove meses avisou Washington de que os insurgentes tinham conseguido tais armas.

Por outra parte, Carla del Ponte, integrante da Comissão de Investigação da ONU sobre o uso de armas químicas na Síria, informou a 6 de maio de que estes delinquentes usavam gás sarim no conflito. Em dezembro, opositores sírios eram detidos na Turquia pela posse de dois quilos de gás sarim. Como o conseguiram? Ainda assim, a ONU não fez nada e os EUA e seus aliados, em vez de se afastarem destes criminosos, aumentaram as ajudas econômicas e militares que lhes prestam desde 2011 (ver La OTAN, a las puertas de Siria, em espanhol).

Obama ditava o veredito antes de recolher as provas; a decisão, já tomada, só requeria uma grande desculpa.

 


 

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A prova da "casus belli"

Um vídeo desfocado, difundido pelos opositores, sem comprovar sequer a "cadeia de custódia" da fita. Surpreende ver os corpos de meninos no chão sem suas mães e a não realização de funerais públicos –tão importantes na cultura muçulmana–, a escassez de imagens do que seria uma chacina, apesar da abundância de celulares com câmera, comparando com a quantidade de fotos e gravações existentes da matança dos curdos em Halabche faz 30 anos e sob a ditadura de Saddam Husein.

Passaram 10 anos desde que Colin Powell, armado com fotos e gráficos, apareceu na sede da ONU e enquanto sujeitava sem luvas! um frasco com um pó branco jurava que era ántrax enviado pelo rais iraquiano. Escreveu Nicholas Kristof do The New York Times que "o FBI sabe desde faz três meses que o autor dos ataques de ántrax é um norte-americano". Ele e Bush acusaram em falso o presidente iraquiano de estar envolvido nos atentados do 11-S, de colaborar com Al Qaeda, de comprar urânio a Níger, de matar bebês kuwaitis em suas incubadoras... Hoje, seus herdeiros, John Kerry e Obama, apresentam evidências "inegáveis" de que as armas de destruição em massa foram disparadas por Asad. Por que não um cessar-fogo e uma investigação exaustiva?

Jean Daniel, editor da revista Le Nouvel Observateur, lembra que a 31 de agosto de 1995 o primeiro-ministro francês Edouard Balladur lhe confessou que o atentado perpetrado no Markale de Sarajevo, que deixou uma centena de vítimas, foi obra dos muçulmanos bosnianos e não dos sérvios. Queriam forçar assim a intervenção da OTAN, precisamente quando Milosevic aceitava quase todas as exigências de Ocidente, pondo em um aperto a Bill Clinton, que planejava destruir o último Estado socialista na Europa (Iugoslávia: ensaio da "guerra humanitária"). Não é tempo de eleições e um derrotado Obama recorre à guerra "preventiva", ilegal, contrária à Carta da ONU, para que deixem de o criticar por "débil e isolacionista".

Cui bono?

Asad não parece tão suicida nem estúpido como para transbordar "a linha vermelha", matando a uns centenas de pessoas e provocando uma guerra com EUA, precisamente quando desfrutava de uma cômoda vantagem sobre os rebeldes. O ataque dos EUA radicalizará os setores moderados de seu Governo, que até hoje nem sequer responderam a quatro bombardeios de Israel (nos últimos seis meses) a seu território; também não disuadirá os futuros usos destas armas por ambos os bandos. De facto, agora que o chefe da Casa Branca afirma não ter a intenção de derrocar a Asad, os insurgentes podem voltar a empregar essas armas, para mostrar a necessidade de acabar com o presidente mediante uma guerra devastadora.

Manter Asad no poder é a mesma estratégia do "caos controlado" dos Bush com Saddam Husein: converteram ele no papão, desde 1991 até 2003: militarizaram o Golfo Pérsico enquanto convertiam todo um Estado vertebrado em "frustrado" e seguiram ocupando o espaço pós-soviético com a falsa bandeira de "luta contra o terrorismo".

Dezenas de milhares de mercenários (lumpens e veteranos ganguesters) recrutados pelo xeque Bandar, o príncipe saudita, esperam dentro e fora do país a que Obama aperte o gatilho, para converter em um banho de sangue. Só desde Jordânia 25.000 indivíduos foram organizados pelo xeque na organização Seguidores do Islã.

Ainda não se sabe como um ataque militar reduz o perigo do uso dessas armas. São os mísseis cruzeiros e as bombas de todo o tipo menos horrendos que as armas químicas? Ao menos para estas existem máscaras e refúgios, mas não para artefatos como as bombas bunker-buster –usadas no Afeganistão– que penetram até o coração da terra.

Os 12 propósitos reais do ataque

A operação castigo a Asad tem detrás outros objetivos:

1. Dominar Eurásia. Com mais ou menos fortuna, EUA tentou garantir o seu controle do Oriente Próximo, Ásia central, Europa central e norte da África, mediante as guerras contra Iraque, Afeganistão, Iugoslávia e Líbia. Agora, seguindo os conselhos do estratega britânico Sir Mackinder sobre a importância desta região –à que chamou Heartland, ou Coração do Mundo– tenta conter o avanço da China e da Rússia. A Síria é o país que une a ambos continentes.

2. Controlar a totalidade do levante mediterrâneo –também um dos motivos para derrocar Kaddafi.

3. Impedir a construção do mega-gaseoducto Irão-o Iraque-Síria (chamado –o encanamento xiíta–), que conta com investimento russo-iraniano e ia exportar o gás à Europa, agora que fracassou o projeto do outro gaseoducto (Naubucco: Europa escrava). Prejudicava a Turquia, que deixaria de ser a rota do trânsito de hidrocarburo e a Arábia Saudita, que investiu no Arab Gás Pipeline, encanamento que percorreria o Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Israel. É tão primordial para Riad apoderar-se da Síria que segundo o diário libanês As-Safir o jeque Bandar em seu recente encontro com Putin lhe tinha insinuado que se retirava seu apoio a Asad lhe garantiria a segurança dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi (Rússia) de 2014, acalmando os chechenos. Em árabe e em russo, isto parece memo chantagem! Além do mais, os xeques preocupam-se muito com a aproximação dos "gigantes petroleiros" Rússia e Venezuela. Uma é a maior produtora e exportadora de petróleo do planeta e a outra, a primeira reserva mundial provada de crude. Está em risco o poder da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que enche o mercado de petróleo, além do mais, barato. Não menosprezem a Arábia. As principais instituições financeiras dependem de seus petrodólares.

4. Humilhar a Rússia em sua zona de influência e mostrar ao mundo sua incapacidade de influir sobre os acontecimentos internacionais, neste que é o primeiro choque entre ambas potências depois da Guerra Fria. Sergei Lavrov já disse que seu país não vai brigar na Síria com os EUA, apesar de que as empresas russas investiram uns 20.000 milhões neste país e cerca de 100.000 russos vivem ali. Uma coisa é acolher a Snowden e outra ir para uma guerra. Moscou tentará recuperar a influência, depois de perder a Síria, em outro local como o Irã.

5. Destruir o exército sírio, por seus vínculos com Rússia. EUA fez o mesmo com as forças armadas do Iraque e Líbia. Assim, reduz a influência militar dos eslavos no planeta.

6. Triunfar no terreno bélico e controlar militarmente ao mundo para recompensar o falhanço no econômico. A grandes crises econômicas, grandes guerras. O capitalismo venderá mais armas, terá novos mercados e criará oportunidades para as empresas construtoras hábeis em levantar o destruído. É outro assalto às conquistas dos trabalhadores de médio mundo, que pagarão com sua vida ou seus impostos a aventura de quatro cowboys. O aumento do preço do petróleo, que afetará todos os produtos, prejudicará também a economia chinesa.

7. Anular ainda mais a ONU e destruir o que fica dos sistemas legais que faziam de travão nas pretensões belicistas.

8. Encurralar o Irã. A Agência Atômica da ONU acaba de informar da instalação de 1.000 novas centrifugadoras nas centrais nucleares desse país. A China e Rússia acham que o objetivo do assalto à Síria é o Irã. Teerã, muito prudente, estuda os acontecimentos e separa sua sorte da de seu aliado. Ajudará através do Hizbolá e Yihad islâmica. Sua linha vermelha é a ocupação da Síria. Para a alegria de Tel Aviv e Riad, este ataque complica seus encontros iniciados com EUA.

9. Dar a imagem de seguir sendo a potência hegemónica mundial, através do "esquema Ponzi", nome de um defraudador italiano que arrecadava grandes quantidades de dinheiro e, sem fazer nada, pagava juros aos investidores com o dinheiro deles mesmos ou de novas vítimas. Se sua montagem durou em vários anos foi porque o número de iludidos defraudados não parava de crescer. Dizia Madeleine Albright que a existência mesma da maior maquinaria militar da história humana exige que se faça uso dela. Missão convertida no objetivo quando, na realidade, EUA não tem nenhum interesse substancial nesse conflito. Mas que ninguém subestime o papel da estupidez na história.

10. Inclinar a balança no conflito sírio em favor dos rebeldes e conseguir vantagens na mesa de negociações. De passagem, e como uma guerra dentro de uma guerra que é, os wahabitas sauditas afafstam a Irmandade Muçulmana (apoiada pela Turquia e Qatar) e também aos ao qaedistas do Jabhat a el-Nusra. O qual desune ainda mais à oposição e quebra a aliança entre EUA e Qatar, uma das sedes do Pentágono.

11. França, depois da bem sucedida experiência de reconquistar a Líbia, sonha com restaurar seu domínio sobre outra de suas ex-colónias.

12. Israel debilita ao aliado do Irã, do Hamás e do Hezbolá, enquanto fica com os recursos hídricos sírios dos Altos do Golán e tenta fazer com a parte correspondente a Síria no campo de gás descoberto no Mediterrâneo. (O "fator gás" na crise síria e "Is the US Playing With Gás in Syria?") Em seu primeiro desafio de seu segundo mandato, Obama aterroriza o mundo pelos interesses da Arábia Saudita e Israel!

Nenhum desses objetivos tem que ver com os direitos humanos dos sírios.

As 8 consequências

A agressão militar de EUA e seus sócios...

1. Provocará a represália da Síria contra Israel, Jordânia, Turquia e as tropas da OTAN no Iraque e no Líbano. Este não é o diminuto Kosovo. Aqui existem também armas químicas, terroristas canibais, o germe de um sangrento conflito sectario e... um Putin que não fará figura de Ieltsin.

2. Debilitará os próprios aliados de Washington, como a Jordânia e a Turquia.

3. Mudará o balanço das forças na Síria sem resolver o conflito; agudizará a tensão étnica-religiosa do país, inclusive após Asad.

4. Fortalecerá o salafismo e o wahabismo em todo mundo, prejudicando as forças progressistas.

5. Terá efeitos negativos nos relacionamentos de Ocidente com a Rússia e a China e mudará o clima político internacional.

6. Rússia poderá aumentar os custos desta agressão interrompendo os fornecimentos da OTAN a suas tropas no Afeganistão, desde a Rede de Distribuição do Norte (Rússia-Kazajistão-Afeganistão), o mesmo que faz o Paquistão a partir do roteiro do Sul. Ou contornar as sanções impostas contra o Irã e estreitar seus laços com este país. Hassan Rowhani se reunirá com Putin e o presidente da China, Xi Jinping, em Kirguistán no mês que vem.

7. Empurrará os países da região a uma corrida armamentística sem freio.

8. Sentará outro precedente de desprezo a soberania nacional dos países pequenos pelas potências armadas até os dentes.

No enquadramento neo-imperial atual, as pretensões de EUA são sonhos de um louco realizados por um bêbado.

Original em espanhol aqui.

 


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