1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 (0 Votos)

210815 rentsGrécia - Esquerda Diário - [Claudia Cinatti] A renúncia de Alexis Tsipras não foi nenhuma surpresa. Há semanas estava sendo cogitada esta possibilidade, uma vez que a fratura no Syriza mostrou-se insuperável.


Ainda que no imediato se abra um momento de incerteza política, a expectativa do agora ex-primeiro-ministro é sair fortalecido e encabeçar um governo mais estável para levar adiante o ajuste.

O cálculo político que levou à renúncia de Tsipras parece bastante transparente. O primeiro-ministro grego tinha perdido sua maioria parlamentar e vinha governando de fato com os votos da oposição, centralmente do Nova Democracia, To Potami e Pasok, com os quais foi aprovado o terceiro memorando do ajuste exigido pela Troika. Na última votação, na sexta-feira passada, quase um terço dos deputados do Syriza, 43 de 149, ou votaram contra ou se abstiveram.

Com sua renúncia e o chamado a eleições antecipadas para 20 de setembro, Tsipras busca homogeneizar o Syriza sob sua linha de ajoelhar-se frente à União Europeia e o FMI, tirando de cena os deputados rebeldes da “Plataforma de Esquerda” de seu partido.

Obviamente espera ganhar. Para isto se baseia em dados das últimas pesquisas que lhe dão 61% de aprovação, e na percepção de que frente à falta de alternativas sérias pela esquerda e o esgotamento de seis anos de crise, a resignação e a passividade dominem o cenário.

O outro partido que detém uma quantidade importante de votos é o Nova Democracia, ainda que não seja suficiente para superar Tsipras. O PASOK não conta e o Aurora Dourada, o partido da direita fascista, não parece em condições de emergir.

Quanto à esquerda do Syriza, demonstrou não ser um perigo sério para os planos dos capitalistas gregos e de seus sócios-chefes europeus. Até o momento, durante a crise, ficou claro que não tem força orgânica entre os trabalhadores para desafiar os planos de ajuste e tomar as medidas anticapitalistas elementares para evitar que a crise, uma vez mais, seja descarregada sobre os assalariados e os setores empobrecidos. Além disso, há setores desta esquerda que já propõem uma nova amálgama que una todos os que estão contra o ajuste (o Syriza já não era isto?) ou eventualmente contra o Euro, sem distinção de classe nem de programa. Parece que não tiraram nenhuma conclusão de sua participação no Syriza e em seu governo.

É uma incógnita se o Partido Comunista Grego poderá capitalizar algo desta crise, mas ainda que acontecesse assim, por sua política sectária e sua estratégia de colaboração de classes – conhecida por sua longa tradição – não ofereceria nenhuma saída.

A escolha do momento da renúncia tampouco parece casual. Os representantes dos credores acabam de liberar a primeira parte do terceiro resgate, 26 bilhões dos quais 13 já estão gastos em repagar aos mesmos credores e recapitalizar os bancos, que estavam em muito má condição financeira depois do “corralito” [fechamento dos bancos para saques superiores a um pequeno montante, similar a adotada por Collor no Brasil também – Nota do Tradutor]. Tsipras espera contar a seu favor com as notícias “positivas” de ter evitado uma catástrofe do default, mas sem que se note ainda plenamente os efeitos dos ajustes – o aumento do IVA, as demissões, a liquidação das negociações coletivas dos trabalhadores.

Se isto é assim, o próximo governo do Syriza, transformado sem culpa em um novo partido do ajuste, provavelmente também mudará sua base social: menos assalariados e mais setores médios acomodados.

É muito cedo ainda para saber como transcorrerá este mês. Sempre existe a possibilidade de que exploda a indignação da classe operária, dos jovens que sofrem o desemprego recorde e dos setores populares, e se transforme em luta de classes. São os que majoritariamente votaram no Syriza com a promessa de um “governo anti-ajuste” e os que votaram massivamente “Não” no referendo de 5 de julho contra os planos de ajuste da EU, sob a direção do imperialismo alemão. Essa é a única força real que pode por fim ao saque e regenerar uma esquerda revolucionária, que se coloque frente aos inimigos de classe, e supere a muito breve experiência de um suposto “governo de esquerda” que não foi.

Tradução: Francisco Marques


Diário Liberdade é um projeto sem fins lucrativos, mas cuja atividade gera uns gastos fixos importantes em hosting, domínios, manutençom e programaçom. Com a tua ajuda, poderemos manter o projeto livre e fazê-lo crescer em conteúdos e funcionalidades.

Microdoaçom de 3 euro:

Doaçom de valor livre:

Última hora

Quem somos | Info legal | Publicidade | Copyleft © 2010 Diário Liberdade.

Contacto: info [arroba] diarioliberdade.org | Telf: (+34) 717714759

Desenhado por Eledian Technology

Aviso

Bem-vind@ ao Diário Liberdade!

Para poder votar os comentários, é necessário ter registro próprio no Diário Liberdade ou logar-se.

Clique em uma das opções abaixo.