O serviço de transporte adaptado posto a andar na anterior legislatura da Junta (governo da Comunidade Autónoma da Galiza, CAG) fica reduzido em 70%, reservando-se doravante só a deslocamentos isolados. A escusa anotada pola Junta, nas mãos do Partido Popular, é um ajuste orçamental que resultará em poupanças económicas, por uma "racionalização e eficácia da gestão".
Este serviço, organizado arredor do número de telefone 065 (oficialmente o 'Serviço Galego de Apoio à Mobilidade Pessoal') é usado por mais de 7.000 pessoas e conta com um total de 112 veículos, que vão ficar reduzidos a menos de metade.
As áreas de serviço também serão reduzidas: se antes o território era dividido em 61 zonas, agora só haverá 11, o que obrigará cada autocarro ou carrinha a cobrir uma extensão geográfica maior. Isto, teme-se, pode aumentar o risco de acidentes e pressão sobre os e as trabalhadoras, além da óbvia diminuição da qualidade do serviço em termos de horários e de acessos. Considera-se que a situação virará especialmente grave em zonas rurais.
O anúncio formal produziu-se no dia 23 de Dezembro, quando, após publicação no Diário Oficial da Galiza (DOG) dum novo concurso de contratação de transportes, o anterior modelo de funcionamento era automaticamente interdito de ser renovado.
Perda de postos de trabalho
Segundo fontes de Diário Liberdade, "esta mudança de modelo deve-se a condicionamentos políticos, não económicos, porque economicamente a possível pequena poupança não justifica a desatenção da população e da perda direta de postos de trabalho, até 300 no total, como condutores, acompanhantes e outros". E ainda, segundo estas mesmas fontes, "nas conversações com a Junta durante o Natal a única resposta quando foram solicitados dados que explicassem esta decisão foi apenas: 'É o que há' ".
Criticou-se, também, a forma como o governo conservador da Junta informou as pessoas implicadas e responsáveis polos transportes, escolhendo datas natalícias para qualquer possível reclamação ou ajuste. De facto, o prazo para a apresentação de novas solicitações concluiu na terça-feira (7), enquanto a anterior concessão, isto é, o funcionamento do serviço tal e como era, acaba oficialmente a 9 de Fevereiro.
"Copagamento" dum serviço público
Os centros de discapacitados são geridos por entidades sociais e, nalguns casos, dispõem da sua própria rede de transporte. Contudo, estes são só os maiores e até o momento beneficiavam-se também do serviço 065.
Como suposto alívio, a Junta ofereceu compensar estas organizações aumentando o seu financiamento com o fim de sufragarem parte dos custos do transporte regular. Porém, este financiamento é reduzido, limitado - deixa fora as entidades mais pequenas, sem rede própria - e terá que ser pago em parte pelo usuário ou usuária (1 de cada 9 euros). É o famoso sistema de "copagamento", ou pagamento partilhado.
Necessidades muito específicas
"Algo tão simples como ires da tua casa à paragem do autocarro, subir e descer para chegar a um centro, é impensável para pessoas com dano cerebral", diz Natalia Luque do centro Renacer (Ourense), que não pode perceber como a Junta passou de manter a gratuidade total do serviço à sua supressão.
Nem é só a distância ou o preço. Mesmo no hipotético caso de alguém poder pagar transportes contínuos em meios privados (táxis ou aluguer doutros veículos), a maioria de dependentes precisam de veículos devidamente adaptados e, muitas vezes, com profissionais especializados.
Estas circunstâncias implicam, entre outros aspectos, que pessoas dependentes de centros onde recebem terapias de reabilitação encaminhadas à sua inserção hão de manter o serviço só para casos muito específicos, como visitas médicas. Na prática supõe que muitos usuários e usuárias terão que renunciar aos seus tratamentos.
Com agências.
Foto de Nacho Gómez.